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Foto do escritorMafalda Azevedo

Os Cinco: Uma Aventura na Extrema-Direita.

Muito falam os jovens em bromance e, esta semana, muito vimos de um.


Miguel Sousa Tavares e André Ventura, recém-descobertos amigos para a vida. E muitos amigos tem descoberto o colega jurista André: em Rui Rio descobriu amizade, passeando-se também pelo CDS, onde encontrou, em Francisco Rodrigues dos Santos, um abraço caloroso. Não se fica por aí, rindo no recreio com João Cotrim Figueiredo, mas calma, não são amigos chegados, só colegas de escola, ainda que haja sempre aquele trabalho de grupo que lá os aproxima.


Deixando os amigos chegados que André Ventura coleciona para o seu Instagram, decidi olhar então para a cronologia do “Chega!”, que é como quem diz, a cronologia da renovação de palco da extrema-direita no nosso cantinho à beira mar plantado.


No mês da liberdade, no ano de 2019, André Ventura funda o Partido “Chega!”. Creio que não será necessário o apontamento da ironia. No mesmo ano, com as Eleições Legislativas, ao lado do Partido Livre e da Iniciativa Liberal, inaugura o seu lugar na Assembleia da República. Pouco quentinho o tem mantido, dado que já faltou a 54% das reuniões em comissões.


Ora bem, avançamos por uns quantos comentários, no mínimo problemáticos, as ocasionais moções violadoras aos mais fundamentais direitos, chegando a outubro de 2020. Dois deputados do “Chega!” são eleitos para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Ameaçava-se o início de um acordo entre os dois partidos da direita. Não consumando o casamento, por enquanto.


Do nada, já é novembro. Miguel Sousa Tavares sentado a dois metros, não seguros o suficiente, de André Ventura, na estação de Queluz, TVI. Não bastará um entrevistado na estrada da desinformação, a isso juntou-se também o entrevistador. Começou por assinalar que o número de mortes na estrada no passado ano de 2019, foi inferior às mortes pela Covid-19 nessa segunda-feira. Ora, permanecem por encontrar as fontes em que se baseou o jornalista e comentador.


Contudo, o líder do partido da extrema-direita portuguesa não poderia deixar o jornalista brilhar na breve ignorância. Na manifestação dedicada ao setor da restauração e do comércio, recusou-se a ser fotografado para “não retirar proveito de uma luta para a qual não foi chamado”, disse André Ventura. Reza a lenda de que só aconteceu se no Instagram e no Twitter estiver publicado. Como seria óbvio, a isso não fugiu o deputado. De ressalvar, que Miguel Sousa Tavares de muito insistiu na questão de os organizadores não se quererem aliar ao partido para tal, mas ao contrário das redes sociais, a esta questão Ventura fez questão de evitar.


Bem, chegamos ao ponto alto desta peça televisiva. Tendo à sua frente o líder partidário do “Chega!”, Miguel Sousa Tavares escolhe perguntar-lhe, e cito “tem algum amigo preto?”. Antes disto, debruçou-se brevemente sobre o casamento homossexual que, descreve Ventura, é um erro jurídico.


Avançamos para a sua relação com a comunidade cigana, onde o jornalista aproveita para colocar mais uma questão de elevada pertinência: “se tivesse uma filha e ela casasse com um cigano, o que é que pensaria?". A Ventura só lhe faltou um “não tenho nada contra, até tenho um amigo que é, mas”. Ficamos com algumas menções honrosas, que de pouco contexto precisam porque, de muito dizem: impostos descritos como absurdos, e o Estado como ladrão e com “gente a mais”.


Miguel Sousa Tavares, filho de Sophia de Mello Breyner, poeta e autora, que à revolução dos cravos muita da sua escrita dedicou. Miguel Sousa Tavares que, no pós 25 de abril, lá esperou pelos presos políticos. Miguel Sousa Tavares que, quando teve a oportunidade de entrevistar o partido da extrema-direita, pelo pouco se ficou.


E por cá se fica André Ventura. A audiência aumenta, as amizades fortalecem-se, do nada já não são só amigos, o casamento dado e consumado. Assim continua o nosso Portugal, numa viagem pela desinformação, onde uma das paragens é a extrema-direita.


Ora bem, fazemos juntos a viagem. Temo que não gostem da vista.


Mafalda Azevedo


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