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Eleições Presidenciais em Portugal: os candidatos

  • Foto do escritor: Departamento Sociedade
    Departamento Sociedade
  • 14 de jan. de 2021
  • 15 min de leitura

Atualizado: 26 de jan. de 2021

O Jornal Tribuna estará a acompanhar, em direto, as Eleições Presidenciais portuguesas. Antes do grande dia, 24 de janeiro, apresentamos-te os candidatos às Eleições do Chefe de Estado português.

ANA GOMES

(Lisboa, 66 anos)



Ana Gomes anunciou, dia 8 de Setembro de 2020, a sua intenção de concorrer à Presidência da República e formalizou a candidatura no Tribunal Constitucional no dia 23 de Dezembro com 8 320 assinaturas, mais do que as 7 500 obrigatórias. Conta já com o apoio formal de partidos como o Partido-Animais-Natureza (PAN) e o LIVRE, para além de várias personalidades políticas independentes de renome e alguns dirigentes e altos quadros do Partido Socialista (PS). Assume-se a candidatura do “socialismo democrático” e diz também que não quer desapontar as várias pessoas de direita que se reveem na sua candidatura. Quem é, afinal, Ana Gomes?

Ana Gomes nasceu em Lisboa, a 9 de fevereiro de 1954, e entrou em Direito em 1972, na Clássica de Lisboa. Logo aí mostrou ao que vinha - ainda no tempo da ditadura, foi ativista dos Comités de Luta Anti-Colonial e eleita delegada de turma numa lista associada ao MRPP (partido maoísta do qual era próxima e onde viria a militar durante os anos do PREC), que venceu a uma lista próxima do PCP e outra de indivíduos de extrema-direita, que a Direção da Faculdade confiava que seria a vencedora. Não é de espantar, portanto, que, quando chegou o 25 de abril, Ana Gomes se encontrava suspensa por “atividades subversivas”.

Ana Gomes, na década de 1970, enquanto ainda estudava. | © D.R.

Representou Portugal na missão permanente junto da ONU, foi Embaixadora em Tóquio e Londres, entre outros cargos de grande importância. Mas, de toda a sua carreira diplomática, o período em que teve mais impacto foi durante a crise de Timor, quando foi enviada para Jacarta, onde permaneceu de 1999 a 2003, como Embaixadora de Portugal, naquele que ficou marcado como um período de grande tensão e violência, que se seguiu ao Referendo de 1999, onde uma larga maioria dos timorenses votaram a favor da independência face à Indonésia, despoletando uma reação extremamente violenta por parte de milícias pró-indonésias que eram, em parte, controladas diretamente a partir de Jacarta. Ana Gomes desdobrou-se em entrevistas internacionais e criticou abertamente as posições tanto do governo português como do indonésio e norte-americano, ajudando a aumentar a pressão para que estes fizessem algo.

Ana Gomes e Xanana Gusmão

Terminada a sua missão diplomática, foi convidada por Eduardo Ferro Rodrigues a entrar no Partido Socialista, desafio que aceitou, entrando diretamente para a sua Direção Nacional. É eleita eurodeputada em 2004, 2009 e 2014, nas listas do Partido Socialista, sendo a sua atividade principalmente focada na defesa de direitos humanos e eleições livres, tendo estes últimos mandatos sido virados também para temas como o combate à corrupção, a luta contra o crime fiscal, o branqueamento e as contas offshore. É costume também abordar estas questões no seu programa de comentário político semanal, na SIC Notícias.


Quando anunciou a sua candidatura, disse querer uma República justa e solidária, em que o Estado de Direito democrático não fosse apenas uma formalidade e em que as instituições realmente funcionassem. Apelou à solidariedade europeia face à crise que se aproxima e realçou aquela que é já a sua imagem de marca: a política como uma forma de servir o bem comum, de servir as pessoas, sem esperar em troca cargos, honrarias ou contrapartidas materiais, criticando de seguida a promiscuidade entre o mundo dos negócios e a política, e realçando que os projetos pessoais ou partidários não podiam estar acima dos superiores interesses nacionais. Relembrou que não há planeta B e esta é a altura de se levar a sério o combate às alterações climáticas. Prometeu unir os portugueses como Presidente e rematou:

Numa república não há coroações, nem vitórias antecipadas: é o povo que decide!

Após relembrar os sacrifícios dos mais velhos pela democracia, apela a que os jovens, em particular, combatam a apatia e não se abstenham.


Eduardo Esteves

ANDRÉ VENTURA

(Lisboa, 37 anos)



André Ventura, de 37 anos, é o atual Presidente e único deputado eleito do partido CHEGA!. O líder partidário apresenta-se agora como candidato à Presidência da República. A sua candidatura aspira representar a direita “que não tem medo de ser politicamente incorreta”, porém o seu programa político levanta sérias questões sobre a capacidade do candidato de defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.


Licenciado em Direito, com 19 valores pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, André Ventura é notório pelas posições aparentemente antagónicas que defendia nos seus anos de formação, face àquelas que caracterizam agora os seus discursos políticos. Doutorado em Direito Público pela Faculdade de Direito da Universidade de Cork, Ventura criticava ferozmente o “populismo penal” e a “estigmatização de minorias”.

© LUSA

De professor universitário a comentador desportivo, o candidato às Eleições Presidenciais tem um vasto currículo. André Ventura mantém um vínculo, ainda que sem vencimento, à Autoridade Tributária, a mesma que descreve como “uma máquina de assalto ao cidadão e de terrorismo de Estado, que pratica extorsão” no seu programa eleitoral. A esta posição, o líder do CHEGA! soma ainda a sua função como consultor da Finpartner, uma empresa da sociedade de advogados Caiado Guerreiro, “especializada na aquisição de vistos gold e imobiliário de luxo”. Esta acumulação de cargos profissionais contrasta profundamente com a posição do seu partido relativamente à obrigatoriedade da exclusividade no exercício do mandato de deputado.

“Estou-me nas tintas para o que diga a Constituição”

No juramento solene perante a Assembleia da República, o Presidente eleito compromete-se a defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa. Poderá ser confiado o dever de proteger a Lei Fundamental a André Ventura, quando tão frequentemente mostra um total desprezo pela sua génese e conteúdo?

No programa político do partido CHEGA! de 2019, os limites materiais da constituição são pintados como “profundamente abusivos”. Os direitos dos trabalhadores, das comissões de trabalhadores e das associações sindicais são, para o partido de André Ventura, “bizarros” e “não poderão ser respeitados quando de uma profunda revisão da Constituição”.

“Não gosto desta Constituição, nunca escondi isso”

Além da clara afronta e desrespeito pelos direitos constitucionalmente tutelados dos trabalhadores à construção da sua unidade para defesa dos seus interesses, são inúmeras as propostas do partido “liberal e conservador” que entram em colisão com a Constituição da República Portuguesa.

Importante será destacar a proposta do CHEGA! pelo fim da progressividade dos impostos sobre o rendimento e o fim do imposto sucessório. Ademais, consta do programa eleitoral de 2019 o fim do Serviço Nacional Saúde tendencialmente gratuito, através da privatização dos hospitais públicos e da instituição do “Cheque-Saúde”, de modo a “custear, em empresa escolhida pelo doente, um seguro de saúde”. Este mesmo regime aplicar-se-ia também ao ensino, com a extinção do Ministério de Educação e a concessão aos alunos do “Cheque-Ensino. Estes cheques vigorariam apenas “durante um período de adaptação”, deixando os cidadãos absolutamente desprotegidos, à mercê dos privados.


Que lugar resta às mulheres e às minorias étnicas na “IV República” de André Ventura?

A proteção da família patriarcal é uma constante no programa eleitoral do CHEGA!, materializada na criação do Ministério da Família, cujo propósito é salvaguardar o que o partido entende como o “natural, baseado na íntima relação de um homem e de uma mulher. É notável o desprezo pelos direitos das mulheres, com especial destaque para o aborto, sucessivamente demonizado, apelidado de “repugnante”. Ademais, está prevista a instituição do “cheque-família”, cuja finalidade é “de que a mãe possa optar por exercer plenamente o seu papel de mãe de família”, que não são nada mais que uma tentativa de reduzir novamente a mulher à sua capacidade reprodutiva e mantê-la na esfera doméstica, longe da vida pública.

A ofensiva do partido de André Ventura aos direitos sociais não fica por aqui, o mesmo “cheque-família” só será atribuído quando “ambos os pais tenham naturalidade e nacionalidade portuguesa”. Esta é um dos múltiplos ataques aos direitos dos imigrantes, radicadas da clara discriminação do partido a minorias étnicas, com especial incidência à população cigana.

"Portugal não é racista", a marcha do CHEGA! que quase prova o contrário. | © Tiago Miranda/EXPRESSO

O crescimento do CHEGA! representa um ascenso a nível institucional, mas não só, de ideias, forças e projetos antidemocráticos. Aquilo que se tem visto ao nível das propostas e do discurso dos dirigentes do CHEGA! é um aceno aos setores mais conservadores e ultra-religiosos da sociedade, num aglomerado de vários lados da ultra-direita, que pretendem uma Nação erguida sobre os mitos dos feitos lusitanos. O argumento da “refundação” da República, sob uma égide cristã e conservadora, procura equilibrar os mais variados interesses económicos, financeiros e securitários debaixo de um manto nacionalista que está ainda demasiado presente nas nossas memórias coletivas.


Maria Lúcia Pestana

JOÃO FERREIRA

(Lisboa, 42 anos)


"Façamos desta candidatura parte da luta pela mudança que desejamos para as nossas vidas, da mudança que Portugal precisa."

João Manuel Peixoto Ferreira é o candidato do Partido Comunista Português (PCP) a Belém. Nasceu em Lisboa, a 20 de novembro, e estudou na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Biologia, tendo sido, inclusive, membro da Associação de Estudantes. De 1999 a 2000, foi ainda membro do Conselho Diretivo da FCUL.

Aos 42 anos, quer inverter a tendência de maus resultados eleitorais do PCP, partido que teve os seus piores resultados nas eleições presidenciais de 2016, afirmando-se como um dos rostos do futuro do partido. Formalizou a sua candidatura a 10 de dezembro de 2020 e é apontado como o sucessor de Jerónimo de Sousa. É biólogo, autarca, vereador da Câmara Municipal de Lisboa, eurodeputado desde 2009 e membro do Comité Central do PCP. Escreveu o livro “A União Europeia não é a Europa” e foi Diretor da revista “Portugal e a UE” entre 2009 e 2012. Graças ao seu papel na “promoção de políticas europeias mais justas e coerentes”, o Instituto Marquês de Valle Flôr atribuiu-lhe o prémio de Embaixador do Desenvolvimento.

João Ferreira e Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do Partido Comunista Português. | © António Pedro Santos/LUSA

Revê-se, por inteiro, no projeto vertido na Constituição da República Portuguesa. No entanto, considera que não se valorizam devidamente os trabalhadores, tanto a nível do salário como a nível dos horários, nomeadamente pelo banco de horas e pelo alargamento do período experimental. Apontou duras críticas ao atual Presidente da República. O Partido Comunista Português considerou que o estado de emergência foi exagerado, servindo “como cortina de fumo para esconder o que devia estar a ser feito por parte do Governo”, absteve-se da primeira vez e votou contra nesta última vez.

Para João Ferreira, o reforço do Sistema Nacional de Saúde e dos transportes públicos, as medidas de proteção nos locais de trabalho, a contratação de profissionais em falta não apenas no Sistema Nacional de Saúde mas também nas escolas, uma vez que muitas delas ainda funcionam sem ter os funcionários necessários para aplicar as medidas de contingência, são algumas das medidas fundamentais que deveriam ser tomadas.


As bases da sua candidatura são a valorização do trabalho e defesa dos trabalhadores, a defesa do direito à saúde, à habitação, à educação e à cultura, a luta pela igualdade e contra todo o tipo de discriminação, o desenvolvimento económico do país, a defesa do ambiente e a proteção dos ecossistemas e da biodiversidade, a proximidade da administração e dos serviços públicos em relação ao povo; no fundo, o seu maior objetivo é realizar, na prática, o que está plasmado na teoria da Constituição.


Rita Marques

MARCELO REBELO DE SOUSA

(Lisboa, 72 anos)


"Sou exatamente o mesmo. Orgulhosamente português e, por isso, universalista; convictamente católico e, por isso, dando primazia à dignidade da pessoa, ecuménico e contrário a um Estado confessional; assumidamente republicano e, por isso, avesso a nepotismos, clientelismos e corrupções; determinadamente social-democrata e, por isso, defensor da democracia e da liberdade."

Foi assim que Marcelo Rebelo de Sousa apresentou a sua recandidatura para o cargo de Presidente da República Portuguesa. Afinal, quem é Marcelo Rebelo de Sousa, o homem que nos últimos 5 anos ocupou o lugar cimeiro na hierarquia do Estado?

Filho de um médico que ocupou diversos cargos políticos durante o Estado Novo e de uma assistente social com posições contrárias ao regime, desde cedo demonstrou interesse pela vida política e associativa através da Ação Católica Portuguesa. A proximidade da sua família com o antigo regime nota-se até no próprio primeiro nome que herda de Marcello Caetano, homem que sempre admirou, chegando mesmo a afirmar numa conferência em 2009, que o antigo Presidente do Conselho havia sido “um homem excecional”.

Nasceu em Lisboa, mas tem raízes no norte do país, mais concretamente em Celorico de Basto, no distrito de Braga, onde foi Presidente da Assembleia Municipal durante 12 anos. Do ensino secundário até à Faculdade, foi sempre um aluno de excelência, acabando o curso de Direito com 19 valores. Toda a sua vida profissional foi dedicada ao ensino, ao jornalismo e ao comentário político.

© GLOBAL IMAGENS

Foi Professor catedrático em diversas instituições de Ensino Superior, conseguindo alcançar um notável percurso em todas elas, mas é importante destacar o seu trabalho na Faculdade de Direito de Lisboa, onde também tinha estudado.

No jornalismo a sua vida passou essencialmente por dois jornais. O semanário Expresso, onde esteve envolvido desde a fundação sendo acionista minoritário da editora, e onde ocupou diversos cargos tendo até mesmo conseguido alcançar a posição de Diretor. E o jornal Semanário, onde foi também acionista fundador.

Ao nível do comentário político, desde os anos 90 que Marcelo Rebelo de Sousa foi presença assídua nas rádios e televisões nacionais, sendo que ficou extremamente popular em todo o país devido ao seu comentário de domingo à noite no “Jornal das 8” da TVI. Muitos consideram que essa exposição pública alcançada através do comentário político projetou a sua primeira candidatura presidencial.

A vida política e partidária de Marcelo Rebelo de Sousa começou com a adesão ao PPD (depois PPD/PSD, Partido Social-Democrata) logo após a fundação do partido em maio de 1974, afirmando-se desde cedo como uma jovem promessa dentro do partido de Sá Carneiro.

Enquanto deputado à Assembleia Constituinte, foi um dos obreiros da nossa atual Constituição da República Portuguesa (1976). Posteriormente, foi um dos que se empenhou, juntamente com Francisco Sá Carneiro na revisão da mesma, visando, entre outros aspetos, a extinção do Conselho da Revolução e a criação de um Tribunal Constitucional.

Em 1981, assumiu o seu primeiro cargo governativo enquanto Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros do governo de Francisco Pinto Balsemão. No ano seguinte, foi promovido a Ministro dos Assuntos Parlamentares.

Nos anos 90, depois de uma década de Cavaquismo, o líder do Partido Social-Democrata, Fernando Nogueira, foi derrotado pelo Partido Socialista de António Guterres nas Eleições Legislativas de 1995, acabando por se demitir. Marcelo foi o escolhido para substituir Nogueira na liderança dos Sociais-Democratas.

A sua estadia enquanto líder do PSD é marcada por momentos decisivos tanto para o partido como para o país. Enquanto Marcelo foi líder da oposição, o país foi levado às urnas para se pronunciar quanto a dois referendos. Um sobre a interrupção voluntária da gravidez, onde fez campanha contra a despenalização, e outro sobre a regionalização, que também contou com a oposição do líder do Partido Social-Democrata.

Em 1999, acaba por deixar a liderança do Partido Social-Democrata depois de desentendimentos com o à época líder do partido Centro Democrático-Social (CDS-PP), Paulo Portas, com quem preparava uma aliança política sob o nome de Alternativa Democrática (AD).

Após vários anos afastado dos altos cargos políticos, onde aproveitou para se dedicar à docência e ao comentário, em 2015, anunciou ser candidato à Presidência da República. Fez uma campanha muito simples, tendo o benefício de ser uma figura altamente reconhecida pela sociedade portuguesa, ao contrário do seu opositor direto, António Sampaio da Nóvoa.

Acabou por vencer as eleições com 52% dos votos, um resultado abaixo das expectativas, contra 23% de Sampaio da Nóvoa e 10% de Marisa Matias.

© LUSA

Depois de uma Presidência marcada por diversos acontecimentos e dossiês complicados, sendo que a pandemia que ainda hoje enfrentamos será provavelmente o mais marcante de todos, Marcelo acabou por demonstrar uma grande proximidade com os portugueses, que acabaram por lhe apelidar de “Presidente dos afetos”.

O atual Presidente da República manteve, praticamente até à última, o taboo sobre a decisão de se recandidatar. Porém, acabou mesmo por anunciar a sua candidatura no passado dia 7 de dezembro, onde, numa breve intervenção, destacou o seu comprometimento com o cargo na luta contra a crise que nos assola: "Não vou sair a meio de uma caminhada exigente e penosa. Não vou fugir às minhas responsabilidades."


Gonçalo Angeiras

MARISA MATIAS

(Coimbra, 44 anos)



Maria Isabel dos Santos Matias apresentou a sua candidatura à Presidência da República no dia 3 de outubro de 2020, em Lisboa. Já em 2016, foi candidata às Presidenciais com a campanha “uma por todos”, onde conquistou o 3º lugar, com 10.12% dos votos, sendo a mulher mais votada de sempre em Eleições Presidenciais. Em 2020, regressa à luta com uma candidatura “contra o medo”, num contexto social de pandemia e crise social. Mas, afinal, quem é Marisa Matias?

Marisa Matias nasceu a 20 de Fevereiro de 1976, em Coimbra. Foi também em Coimbra que realizou todo o seu percurso académico e onde começou a sua atividade política; onde participou nas greves de zelo por causa da Prova Geral de Acesso e participou em movimentos estudantis contra a propina. Doutorada em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra com a tese: A natureza farta de nós? Saúde, ambiente e novas formas de cidadania, foi investigadora do Centro de Estudos Sociais.

© Estela Silva/LUSA

Atualmente, além de vice-presidente da Esquerda Europeia, é presidente da Delegação para as Relações com os Países do Maxereque, vice-presidente da Comissão Especial sobre as Decisões Fiscais Antecipadas e Outras Medidas de Natureza ou Efeitos Similares, entre outras funções, que desempenha enquanto eurodeputada.

Em 2011, pelo seu trabalho na diretiva do combate aos medicamentos falsificados, como relatora da estratégia europeia de combate ao Alzheimer e, ainda, por ter fundado o Intergrupo da diabetes, Marisa Matias foi eleita eurodeputada do ano na área da saúde.

Em 2012, foi nomeada relatora do Parlamento Europeu para a avaliação de atividades do Banco Central Europeu. O seu relatório, relativo às atividades de 2011, foi um processo difícil, sendo aprovado por apenas um voto de diferença na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários. Mais tarde, foram aprovadas alterações ao relatório que eliminaram todas as referências críticas ao BCE enquanto membro da Troika, eliminando igualmente a proposta que obrigava o BCE a devolver aos países sob intervenção da Troika os lucros resultantes da compra e venda de títulos de dívida pública, pelo que Marisa Matias pediu para que o seu nome fosse retirado do relatório.

Marisa Matias e Catarina Martins, do Bloco de Esquerda.

Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE), promete justiça social, económica e ambiental, não pretende conformar-se com a atual situação de Portugal e lutará por soluções que ofereçam estabilidade financeira junto das famílias: proteção dos postos de trabalho e garantia de salários.

Eu não sou candidata para fazer vénias ao sistema ou a poderes que são os responsáveis pelo atraso de Portugal. Não aceito discriminações, não tolero a intolerância, não me calo perante o ressentimento e a ignomínia. A mentira e a grosseria, ou o aproveitamento da vulnerabilidade dos que sofrem, estão a tornar-se sistema. Há, de Trump à Europa, uma mistura de políticos em segunda mão com advogados de negócios, com especuladores, com saudades da impunidade, que procura embrulhar um programa de atraso com a violência contra os trabalhadores, os pobres, as mulheres, os imigrantes.

Beatriz Costa

TIAGO MAYAN GONÇALVES

(Porto, 43 anos)



Tiago Mayan Gonçalves é o candidato apoiado oficialmente pela Iniciativa Liberal (IL), um dos partidos com assento parlamentar mais recentes e do qual é também um dos fundadores iniciais. É advogado e natural do Porto, cidade onde ainda reside, e tem 43 anos.

A sua única experiência no campo da política é como membro (ainda activo) da Assembleia de União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde pelo movimento “Porto, o Nosso Partido”, que elegeu Rui Moreira como Presidente da Câmara Municipal do Porto. Diz ser o único candidato presidencial verdadeiramente liberal e invoca, alusivo à campanha que teve início este ano, o segundo centenário da Revolução Liberal em Portugal.

© Manuel de Almeida/LUSA

A sua campanha tem sido marcada especialmente pelo facto de Mayan ser um estranho para a maioria dos portugueses, algo que diz pretender mudar. Usa, assim, esse seu histórico político (quase) inexistente como justificação para afirmar que se sente mais próximo dos cidadãos. Refere não ser um “político profissional, já que pensa que a “política pode e deve ser feita por pessoas comuns”.

Ideologicamente, Mayan segue a linha do seu partido de liberalização do tecido económico e social, argumentando que é preciso uma Presidência com ética, moderação e que nos liberte das “amarras do Estado. Assim, pretende diminuir a intervenção das entidades estatais nos indivíduos e na economia, onde quer um maior espaço para a iniciativa privada.

Relativamente à pandemia do SARS-CoV-2, defende uma redução das restrições impostas pela Lei e um maior depósito de confiança nos portugueses, de modo a mitigar os danos na economia. O liberal é um forte crítico da actual ministra da Saúde e da Directora Geral da Saúde, que afirma e diz não terem condições para continuarem a exercer os respectivos cargos. Considera ainda que a “cegueira ideológica” por parte do Executivo em não ter “recorrido aos privados a tempo”, no que toca à prestação de serviços de saúde, tem matado pessoas.

Sobre a actual Presidência, o advogado diz que Marcelo Rebelo de Sousa foi o “ministro da propaganda do Governo e que serviu como “carro vassoura” para limpar os erros da Administração de António Costa e colaborar com esta.

Tiago Mayan Gonçalves e João Cotrim Figueiredo, deputado na Assembleia da República pela Iniciativa Liberal.

João Cotrim de Figueiredo anunciou no passado dia 12 de Dezembro que a candidatura de Mayan ultrapassou o mínimo de 7.500 assinaturas exigidas pelo Tribunal Constitucional. Segundo o presidente da Iniciativa Liberal e deputado à Assembleia da República, foram entregues cerca de 10.000 assinaturas para a formalização da candidatura de Tiago Mayan a Belém.


(Este autor escreve com o antigo acordo ortográfico.)

José Miguel Barbosa

VITORINO SILVA

(Porto, 49 anos)


"A minha mensagem é a verdade do povo. Quando digo que sou povo e que estou misturado, toda a gente sabe que muitos dos outros candidatos não são. Eles não se misturam."

Vitorino Francisco da Rocha e Silva, mais conhecido como Tino de Rans, nasceu em Penafiel, a 19 de abril de 1971. A 23 de dezembro de 2020, oficializou a sua candidatura com a entrega de 9 mil assinaturas no Tribunal Constitucional, onde se apresenta como “candidato do povo” com “gabinete” na rua. Não é a primeira vez que concorre à Presidência, tendo sido candidato em 2016, onde alcançou o 6.º lugar, com 3.28% dos votos. Mas, afinal, quem é Vitorino Silva?


É uma cara bem conhecida do público português por diversos motivos. Foi Presidente da Junta de Freguesia de Rans, em Penafiel, aos 22 anos. Em 1999, esteve sob as luzes da ribalta, tendo sido o seu primeiro grande momento de aparição pública a nível nacional, com um discurso que valeu muitos elogios ("Pelo amor de Deus, não durmam à sombra da laranjeira!") e um abraço de António Guterres, no 11.º Congresso do Partido Socialista. Escreveu um livro autobiográfico, lançou um disco e participou em vários programas de entretenimento e reality-shows, o que fez com que recebesse muitas críticas, ainda nos dias de hoje.

O célebre abraço entre António Guterres e Vitorino Silva. | © D.R.

Depois de se ter desfiliado do Partido Socialista, partido com o qual deixou de se identificar, concorreu como independente à presidência da Câmara Municipal de Valongo em 2009. Concorreu ainda à Câmara Municipal de Penafiel, em 2017, mas apenas conseguiu 6.22% dos votos. Atualmente, é calceteiro e funcionário da Câmara Municipal do Porto. Em 2019, formalizou o seu partido RIR (Reagir, Incluir, Reciclar).

O papel crescente do Partido RIR no funcionamento da economia e da sociedade portuguesa é clarificar a procura da verdade, a funcionalidade de qualquer organização e a procura da utilidade de todos os Serviços Públicos.”

Quanto à sua candidatura, um dos maiores objetivos é "combater os populismos”. Concorda com a eutanásia, a prostituição e as drogas leves, considerando que é tempo de Portugal evoluir, aceitar e respeitar a opinião de todos os portugueses. Defende o Sistema Nacional de Saúde e o sistema público de educação, como o sistema de transportes públicos e a paridade entre sexos no mundo laboral; quer limitar os excessos da atividade bancária e financeira e moderar os privilégios dos cargos públicos quando excessivos ou desnecessários.

Vitorino Silva deu sangue na sua campanha presidencial. | © LUSA

Para Vitorino Silva, vencer estas eleições é chegar a mais pessoas do que nas eleições anteriores, é ter mais um voto do que em 2016. Quanto ao atual Presidente aponta que "O grande adversário do Marcelo é o próprio Marcelo. Quando a notícia é boa, o Presidente fala, quando a notícia é má, não fala", alertando ainda que foi "muito forte com os fracos e muito fraco com os fortes".


Rita Marques e Beatriz Costa

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