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Foto do escritorMafalda Azevedo

Bolívia: uma democracia que a casa voltou

Em outubro de 2019, o povo boliviano perdeu o que conhecia como democracia. Um ano mais tarde esta volta a casa: o Movimento para o Socialismo (MAS) venceu, a 18 de outubro de 2020, as eleições presidenciais por 53%.


Decorrida uma semana das eleições presidenciais da Bolívia, dedicamos este espaço a uma breve apresentação cronológica dos últimos anos para a política boliviana.

Golpe de Estado, eleições fraudulentas? Intromissão dos Estados Unidos da América em política externa? As questões que, para muitos, estão para lá de resolvidos, e que, para outros, nem o ponto de interrogação mereceram. Aqui ficam as últimas décadas, onde nem sempre reinou a democracia.


A dezembro de 2005, Evo Morales venceu as eleições presidenciais, tomando posse a janeiro de 2006. Este destaca-se como o primeiro líder indígena do país da América do Sul com mais comunidades indígenas.

Desde o início do seu mandato, notou-se uma redução de 40% no índice de pobreza e de 60% no de pobreza extrema. Morales dedicou-se ao desenvolvimento de políticas sociais para o combate ao racismo, ao sexismo e à pobreza.


Evo Morales e uma apoiante indígena, a 19 de outubro de 2020. | © Agustin Marcarian/REUTERS

No entanto, a história de tensão com os, ainda longe, vizinhos norte-americanos, dá-se aquando da nacionalização dos setores fundamentais.

Evo Morales pretendia regular o consumo de cocaína, sem terminar as plantações de coca no país. Em 2008, o Governo Boliviano foi acusado pelo presidente norte-americano, George W. Bush, de não estar a exercer um compromisso sério no combate ao consumo e tráfico de narcóticos. 2 anos mais tarde, Evo Morales acusou o Governo estadunidense de apoiar golpes de Estado, em países seus vizinhos, fortalecendo as más relações entre os dois.


Ao longo dos anos assistiram-se fortes ataques verbais, de ambas as partes. Em 2008, o embaixador Phillip S. Goldberg foi expulso do Estado sul-americano, e indicado como persona non grata.

O Presidente Morales terminou também a relação de 35 anos com a organização norte-americana Drug Enforcement Administration após o alegado envolvimento e intromissão na divisão do povo boliviano e, portanto, ataque à democracia.

Destaca-se, ainda, a sedução norte-americana às minas de lítio conservadas na Bolívia. A multinacional Tesla há muito que tentava aceder aos depósitos de lítio, a preços reduzidos, sendo este o ingrediente, pouco secreto, para as baterias dos seus carros elétricos. Elon Musk revelou em 2019 que pretendia construir uma fábrica no Brasil, recorrendo ao fornecimento de lítio boliviano. Estando nós na era das políticas externas via tweets, acusações vivem para sempre imortalizadas por screenshots dos internautas: já dizia Elon Musk, “We will coup whoever we want! Deal with it”.


Introduções diplomáticas feitas, fazemos um fast forward até à crise presidencial de 2019. Evo Morales caminhava para a renovação do seu quarto mandato, enquanto Chefe de Estado.

Contudo, o principal adversário ao, até então, Presidente, anunciou não reconhecer os resultados às presidenciais, alegando fraude eleitoral. A Organização dos Estados Americanos (doravante, OEA) apresentou surpresa e preocupação face a uma reviravolta eleitoral em favor de Evo Morales.

Porém, o relatório foi uma prova preliminar e pouco conclusiva do efetivo envolvimento (ilícito) de Morales nas eleições presidenciais. Após 21 de dias de protestos e manifestações, antecedidos pelo relatório da OEA, Evo Morales foi convidado, por militares, a abandonar o cargo.

Jeanine Áñez assumiu o cargo a 12 de novembro de 2019. Entretanto, a OEA emitiu o seu relatório final, em que renovou as acusações de fraude. Todavia, estudos independentes provaram o contrário, tendo, em setembro de 2020, a Human Rights Watch acusado o Governo interino de abuso de direito, tal como de ataques infundamentados a Evo Morales e aos seus aliados.


Parágrafos, meses de protestos, e 33 vidas perdidas mais tarde, chegamos a outubro de 2020. Chegamos à semana passada, em que o partido MAS (Movimento para o Socialismo) venceu as eleições presidenciais com 53% dos votos.

Os bolivianos fecharam, assim, a crise e a instabilidade política, abrindo as portas à democracia, e celebrando a sua chegada a casa.



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