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Eleições Presidenciais em Portugal: Uma eleição – Vencedores e Derrotados

  • Foto do escritor: Gonçalo Angeiras
    Gonçalo Angeiras
  • 26 de jan. de 2021
  • 3 min de leitura

No domingo passado, os portugueses foram chamados às urnas pela décima vez em democracia para escolherem o seu Presidente da República, o chefe de Estado e o mais alto magistrado da nação.

Se há uns meses a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa parecia mais do que certa, a pandemia veio colocar imensos pontos de interrogação neste sufrágio. A abstenção que se esperava astronómica não confirmou todo esse pessimismo, rondando a casa dos 60%, contrariando as projeções iniciais que chegaram a indicar valores na ordem dos 75/80%.

Com os portugueses a demonstrarem maturidade democrática com a adesão inesperada a este ato eleitoral, a reeleição de Marcelo à primeira volta parecia uma evidência clara.

No final da noite, os três partidos do centro quiseram estar associados à vitória histórica de Marcelo, que passou a ser o primeiro candidato a vencer de forma inequívoca em todos os concelhos do país numa eleição presidencial democrática.

Enquanto se associavam ao Presidente reeleito, PS, PSD e CDS-PP ignoravam o elefante na sala, o resultado avolumado de André Ventura, deputado único e líder do Partido CHEGA!.

Carlos César reclamou a vitória para os socialistas nesta eleição, Rui Rio festejou a vitória do centro político, ao mesmo tempo que se demonstrava satisfeito com a suposta queda dos comunistas no Alentejo para a extrema-direita. Francisco Rodrigues dos Santos fez também um efusivo discurso de vitória.


O discurso de reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, na Faculdade de Direito de Lisboa. | © Mário Cruz/EPA

A direita em sentido amplo foi sem quaisquer sombras de dúvidas a vencedora destas eleições. O candidato natural da direita social, conservadora e católica provavelmente só não atingiu números próximos de Mário Soares em 1991 devido à situação pandémica em que nos encontramos. Numa época de distanciamento físico e social, foi mesmo o Presidente dos afetos a vencer as eleições. Uma figura que transcende qualquer partido, acabando po roubar votos a todos. A sondagem Expresso/SIC–ISCTE previa Marcelo com 58%, valor que superou em 2%, atingindo um valor na ordem de 60%.

André Ventura conquista simbolicamente um terceiro lugar que serve de prenúncio para a realidade eleitoral que vamos enfrentar nos próximos anos. Se Ventura inicialmente se designava como sendo de centro-direita, admirador de Francisco Sá Carneiro e do Papa João Paulo II, hoje já vemos um discurso marcadamente mais radical. Agora, a grande questão é se atingiu o limite, ou se continuará a crescer eleitoralmente.

O candidato liberal, Tiago Mayan Gonçalves, foi claramente uma cara nova nestas andanças e acabou por surpreender com quase 140 mil eleitores a votarem no militante da Iniciativa Liberal, que segundo o próprio, pretendia ocupar um espaço vazio nestas eleições, espaço esse que corresponde ao liberalismo em toda a linha.

À esquerda, a queda foi significativamente maior: Ana Gomes ultrapassa Marisa no lugar de mulher com mais votos em Eleições Presidenciais, mas acaba em segundo lugar, acabando por não cumprir o objetivo da segunda volta. João Ferreira não se consegue livrar do estigma que ainda hoje existe para com candidatos comunistas e acaba por igualar praticamente o resultado de Edgar Silva em 2016. Marisa Matias acaba por culpar o Partido Socialista devido à não comparência de uma candidatura mobilizadora da esquerda democrática, ficando muito atrás dos 10% das últimas eleições.


Boletim de voto. | © Rodrigo Antunes/LUSA

As últimas sondagens não se mostraram muito diferentes dos resultados reais, sendo que, provavelmente, influenciaram alguns portugueses na forma como exerceram o seu direito de voto, numas Eleições que marcam o início de um combate que pretende colocar à prova a rigidez do nosso sistema democrático.


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