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O 25 de abril nos dias de hoje – o olhar de uma jovem


Os tempos autoritários do pré-25 de abril foram cruéis, amargos, desumanos e uma continuada adjetivação de tal modo negativa e frustrante que imaginá-lo, hoje em dia, me dá uma sensação angustiante e, para quem o viveu e sentiu na pele, noites sem dormir.


Confesso que, enquanto jovem da pós-Revolução, não sei (nem desejo saber) o que é não me ser concedida a liberdade de sair à rua, de me juntar com os meus companheiros e colegas, de me poder expressar sem medo de algum vizinho me ouvir e me denunciar à PIDE, com a consequência de entrarem por minha casa dentro e me levarem, a meio da noite, para a prisão, para ser torturada e interrogada por horas, quando, na verdade, não passavam de meras suspeitas sem fundamento.


Não consigo equacionar o que é não ter o direito de voto, nem o direito a participar ativamente na vida política, por ser mulher, o que é ter de ver um irmão, um pai, um marido a ir para a Guerra Colonial, para lá morrer por um objetivo tão obsoleto como a expansão territorial, da qual adveio uma perda económica brutal e, pior ainda, um atentado aos Direitos Humanos tão disforme com os ideais contemporâneos do Estado Moderno que, no espetro da comunidade internacional atual, é algo completamente impensável.


Infelizmente, tomamos estes Direitos, Liberdades e Garantias, que são fundamentais e inerentes a cada um pela nossa simples existência e condição humana, como assegurados e certos, mas relembro-vos, caros leitores, que o contexto sociopolítico e socioeconómico de instabilidade e insegurança do qual originou o Estado Novo e o regime Salazarista, com o “Salvador da Pátria”, não pode ser ignorado e, muito menos, esquecido.


Talvez não tenhamos sentido os anos de terror do Salazarismo, mas sabemos muito bem, da História, quais as consequências que daí resultaram. O contexto pandémico catastrófico que o Mundo enfrenta, as ascensões ao poder e a maior visibilidade da extrema-direita (recordo que, tanto a esquerda, como a direita, quando extremistas, são ambas antidemocráticas e sanguinárias), as constantes lutas pelos Direitos Humanos básicos, os desastres ambientais cometidos diariamente, entre outros alertas são o nosso contexto e devemos prestar-lhe a máxima atenção possível, porque regimes autoritários e totalitários ascendem de forma tão vertiginosa, que assustam.


Se o necessário para fazer cessar quase meio século de retrocesso e decadência foi uma Revolução, a nossa tão gloriosa Revolução de Abril, o necessário, nos dias de hoje, é educar-nos o mais possível para que não se cometam erros evitáveis, proteger-nos, a nós e aos outros, através das medidas de segurança da saúde pública, nomeadamente, o dever cívico de recolhimento domiciliário e perceber que, as minhas ações, hoje, são pensadas, de forma igualmente sublime, para salvaguardar aqueles que me rodeiam. Esta é a nossa Revolução, o nosso motim, do qual os nossos antepassados se orgulhariam.



Mariana Fernandes Nunes, estudante de Direito da FDUP


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