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Abstenção em Portugal

Disclaimer: Este artigo foi redigido por um estudante externo à redação do Jornal Tribuna, no âmbito do projeto "Dentro da Tribuna". Acrescentamos que foi submetido até à data de 15 de dezembro de 2020.


As eleições presidenciais realizam-se a 24 de janeiro, mas já começam a surgir as opiniões das pessoas nas redes sociais, onde se destaca o tema da abstenção. Já há muitos anos que a abstenção abala a conversa nacional, especialmente em anos de eleição. A percentagem de pessoas que opta por não votar tem crescido ao longo das décadas e o motivo para tal é diferente do que muitas pessoas acreditam.


Uma das críticas mais comuns feita aos eleitores que optam pela abstenção é de que são “ignorantes, preguiçosos e não querem saber da democracia”. Esta conceção está errada. Assumir que 50% do país é composto por um monte de preguiçosos ignorantes sem interesse em participar na vida democrática é uma presunção ridícula e, francamente, risível. Mas, isso significa que não existem pessoas ignorantes ou preguiçosas que se abstêm das eleições? Claro que não, mas também não vamos fingir que todos os eleitores que votam lançam o seu voto de uma forma informada.


Olhemos para aqueles que votam num partido ou num candidato simplesmente por ser o que os pais fariam. Votar em alguém apenas porque os pais ou os amigos o fazem, também, é ignorância e preguiça. Com isto pretendo apenas salientar que nenhum dos lados é perfeito.


Agora, defendendo os eleitores que não votam, é preciso partir duma posição de querer entender os motivos pelos quais algumas pessoas não querem votar, em vez de saltar para conclusões precipitadas. Se 50% dos eleitores se abstêm das eleições, isso será porque existe um problema com os eleitores ou há algo fundamentalmente imperfeito com os candidatos e partidos políticos? Acredito que a segunda opção é a mais provável. Ouvimos estes candidatos expressarem-se, seja em discursos ou em entrevistas no Jornal das 20h, e há uma falha enorme: não falam de políticas, ou, se falam, são raramente mencionadas. As pessoas não andam desatentas, elas reconhecem que o que realmente tem impacto na vida delas e no seu bem-estar são as políticas implementadas pelo poder político. Logo, apresentar uma candidatura sem substância é receita para o desastre, mas essa é a regra em Portugal. Com muita frequência, aparecem políticos de carreira na televisão a fazer discursos de 20 minutos e não mencionam uma única política que apoiam, dão-nos apenas clichês e frases banais como “Devolver o poder ao cidadão português” ou “Sou um candidato fora da bolha de Lisboa”. Isto não significa nada para as pessoas, ninguém consegue retirar daí qualquer conteúdo que faça com que pensem: “Este candidato está a lutar por mim e pelos meus interesses”.


Se não dermos algo que as pessoas possam ativamente apoiar, então, o cenário mais provável é, e sempre será, ficar em casa em dia de eleições. Muitas pessoas sofrem neste país, sentem que o poder político as abandonou e que as suas vidas estão presas na miséria. Tantos trabalhadores que auferem o salário mínimo, ou perto disso, que querem casar e ter filhos, mas que não sentem que podem porque não há condições para tal. Não vêm oportunidades nenhumas para melhorar o seu bem-estar e sentem que estão presos numa jaula. Isto é mais comum do que se possa pensar. Muitas pessoas estão desesperadas e não vêem ninguém que as queira ajudar o suficiente. Os políticos têm de conquistar votos, têm de convencer os eleitores a votar por eles e a melhor forma de o fazer é apoiar políticas de senso comum e focarem-se nessas políticas.


Os jovens parece que são o grupo etário que mais se abstém nas votações. Esta é a geração mais informada de sempre, graças à internet, logo, assumir que estes optam por não votar por serem ignorantes e preguiçosos soa ligeiramente contraditório, porque é. Eles não se abstêm das eleições porque não querem saber e não sabem nada, abstêm-se porque, de facto, querem saber e estão informados, e concluíram que as opções disponíveis não são merecedoras dos seus votos. As pessoas não querem saber do escândalo da semana que ocorreu na Assembleia da República, estão preocupadas em como podem melhorar as suas vidas e obter uma qualidade de vida decente e digna. Esse é o foco. Se os políticos, desconectados com a realidade de viver em Portugal, não apresentarem políticas que procurem solucionar os problemas com que muitos portugueses lidam, então também não podem estar à espera que estes se desloquem às urnas e os apoiem.


Matias Cabral

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