Como sabemos, a Covid-19, além de ter gerado um grande impacto político e social, não deixou de parte um forte abalo a nível económico. Foram muitas as empresas que encerraram portas, foram muitas as indústrias que tiveram de despedir trabalhadores, foram muitas as áreas que tiveram de recorrer ao lay off para salvaguardarem as suas gentes e o trabalho de uma vida. Este mês, celebramos o Natal e, por isso mesmo, decidimos dar palco a alguns pequenos negócios, que podemos e devemos apoiar, sobretudo numa época em que as despesas chegam a dobrar. No fim de contas, qual o impacto da Covid-19 na pequena indústria?
1. Boa tarde Sr. Nuno, antes de mais, será que nos poderia fazer uma pequena linha do tempo sobre a história da FAS?
Boa tarde, a FAS é uma empresa que surgiu em 1976, tendo uma base familiar e indo já na sua 2ª geração de liderança. A empresa ao longo dos 44 anos, foi-se consolidando no mercado através de novas ideias e força que este tem vindo a exigir. Também em termos espaciais, a empresa que inicialmente se constituiu entre as paredes de uma casa familiar, foi alvo de uma grande mudança em 1995. As instalações passam a ser as de uma indústria já muito evoluída para a época em Portugal.
2. Quais as áreas de trabalho em que mais incidem?
Trabalhamos sobretudo dentro do ramo das artes gráficas e publicitário, sendo que também nos destacamos bastante na área da marroquinaria, uma vez que esta é uma área em vias de extinção, devido ao seu caráter minucioso.
3. Crê que as pequenas indústrias desta área vão sobreviver num Portugal cada vez mais tecnológico?
Penso que se vão extinguir todas as empresas que nos últimos dez anos não acompanharam a dita evolução tecnológica.
4. E considera que a FAS acompanhou? Se sim, como?
Sim, apesar de o ter feito com muita dificuldade, já que o mercado estava cada vez mais exigente, fomo-nos reinventando e adaptámo-nos às novas realidades da indústria gráfica.
5. Qual o mês em que sentiu que efetivamente a pandemia era uma ameaça à empresa?
O primeiro mês em que efetivamente se sentiu o abalo foi em abril, sendo que tal se prolongou até ao período das férias. As consequências da Covid-19 foram nefastas, sobretudo até agosto, já que o nosso foco estava nas áreas da restauração e do turismo.
6. Qual o foco de clientes antes e depois da pandemia?
Antes, o foco estava sobretudo na restauração, e no turismo, essencialmente ao nível das agências de viagens e operadores turísticos, sem esquecer o setor funerário.
Este tem vindo a contribuir para o volume de alguns negócios, apesar da pandemia. O que nem sempre se verificou na nossa área, em parte devido às restrições aplicadas pela DGS quanto ao modo de realização das cerimónias fúnebres. Também aqui sofremos em termos de procura.
No ramo publicitário houve alguma resiliência pela quebra da confiança que se instalou no mercado devido à Covid-19.
7. Como foi a adaptação da empresa à pandemia? Houve alguma evolução no sentido de produzir produtos aptos ao seu combate?
Tivemos uma vez mais de nos reinventar. Assim, durante cerca de dois meses e meio (abril, maio) estivemos a produzir material de proteção facial e outros bens conexos. Esta oportunidade, que teve algum sucesso, devido ao facto de termos sido consultados por várias entidades, foi uma verdadeira tábua de salvação para a FAS. Um verdadeiro ventilador.
8. Portanto, estamos perante uma empresa de cariz familiar e que, nesse sentido, quando algo corre mal, está uma família por inteiro em risco, além de um conjunto ainda avultado de trabalhadores?
É a questão da dependência deste tipo de empresas, não dependemos apenas da família, mas sim de todos os que colaboram com ela. Nas empresas familiares, a responsabilidade é sempre maior. É sobre levar muitas vezes os problemas da empresa para casa e não saber distinguir o que é assunto de casa e assunto de empresa. Pode ser desgastante, porque nunca se conseguem separar as águas.
9. Tiveram de reorganizar a estrutura da empresa em consequência da pandemia?
Num ou noutro ponto tivemos de fazer ajustes, pela força da crise que se instalou no mercado, nomeadamente ao nível do quadro de trabalhadores.
10. O que espera dos meses que se avizinham?
Uma incógnita, isto porque a pandemia não está controlada, não havendo confiança para grandes investimentos. É uma questão de desespero e desincentivo, ficando muitos projetos na gaveta.
11. Um apelo para promoção do comércio local?
Apoio a promoção por parte das Autarquias Locais e do Governo face ao pequeno comércio, não promovendo apenas as grandes superfícies, como temos verificado ao longo desta crise pandémica. O comércio deve pautar-se por critérios de igualdade. A economia só assim poderá renascer.
Entrevista a Nuno Silva da empresa FAS, LDA
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