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Temos pena: a crise das gaivotas no Porto

  • Foto do escritor: Guilherme Alexandre
    Guilherme Alexandre
  • 29 de nov. de 2021
  • 3 min de leitura

A possibilidade de as gaivotas dominarem as zonas urbanas tem sido afirmada publicamente há mais de uma década. Já em 2008, por parte de Rui Rio, à altura Presidente da Junta Metropolitana do Porto. Mais de uma década depois, a situação é real e os alertas repetem-se: é necessário controlar o crescimento populacional destas aves e, nesse sentido, no passado mês de setembro, os vereadores do PS (Partido Socialista) pediam medidas céleres para a resolução do problema.

© Câmara Municipal de Matosinhos

Não são apenas uma companhia cada vez mais presente no Centro Histórico do Porto, são uma praga com um alcance reconhecido no litoral desta Área Metropolitana e que, de acordo com relatórios camarários e do CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental), representam riscos para a saúde e segurança da população. Segundo um estudo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar em 2009, as gaivotas transportavam bactérias com resistências a vários antibióticos, tendo sido contaminadas por contacto com efluentes hospitalares, e a sua transmissão de volta aos humanos pode causar doenças com especial dificuldade de tratar.


Mais ainda, é difícil de acompanhar a quantidade de relatos que as autoridades recebem sobre aglomerados de gaivotas e zonas de nidificação. Representam, ainda, um problema no que toca aos conflitos com os humanos. Um estudante da Faculdade de Direito da Universidade do Porto relatou que, no mesmo mês, foi atingido por uma gaivota com problemas ao levantar voo, na Rua dos Bragas, e viu um outro jovem ser mordido por uma gaivota, que lhe tentava roubar um snack.


O cenário geral é tão relevante como o caso concreto: as estimativas do trimestre passado indicam cerca de dois mil casais de gaivotas-de-patas-amarelas em zonas urbanas portuguesas, sendo cerca de 500 a 800 casais na zona do Porto e Matosinhos. Se recuarmos duas décadas, encontramos a maior parte das gaivotas no sul de Portugal e nas Berlengas, mas atualmente existem ninhos até Viana do Castelo, notando-se uma dispersão generalizada pelo litoral português.

Outros impactos referidos pelo Relatório Final “Controlo da população de gaivotas na AMP (Área Metropolitana do Porto)” do CIIMAR, de setembro de 2011, são danos patrimoniais causados pela acidez dos excrementos, entupimento de canos e caldeiras devido à nidificação, perturbação de atividades humanas, colisões com aeronaves em épocas migratórias e predação de outras espécies de aves.


São também apontadas várias soluções, a curto e longo prazo, e estão a ser desenvolvidas tecnologias para estes fins. A curto prazo, recomenda-se a destruição de ovos, a instalação de espinhos em edifícios para evitar a nidificação, a instalação de dispositivos sonoros que emitem sons de predadores e a criação de uma aplicação móvel que permite aos cidadãos reportar ocorrências e avistamentos de aglomerados de gaivotas. No longo prazo, os peritos defendem que a forma mais eficaz e sustentável de reduzir a população de gaivotas é através da redução acentuada da disponibilidade alimentícia - muitas vezes, comida encontrada no lixo urbano e em aterros, mas também sobras de peixe, como na lota de Leixões - pois esta se tem provado mais relevante que todas as contramedidas apresentadas. Em declarações ao Observador, Bebiana Cunha, do Partido PAN (Pessoas-Animais-Natureza), rejeita o terno 'praga' e defende como prioridade uma gestão mais eficiente dos resíduos da Área Metropolitana.


Não estão em cima da mesa medidas drásticas como o abate de gaivotas e, desde logo, a própria retirada de ninhos é uma medida excecional e que carece de autorização do Instituto de Conservação na Natureza e Florestas.


Até que as medidas a longo prazo surtam efeito, resta-nos adotar comportamentos defensivos e prestar atenção às gaivotas da calçada.


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