Cobertura de um evento do CINETEATRA
No passado dia 17 de outubro, pelas 18h00, decorreu na Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP) um evento sobre Cinema organizado pelo grupo académico CINETEATRA. O evento teve como protagonista o realizador e alumni da FDUP Francisco Noronha e foi moderado pela co-fundadora do CINETEATRA, Clara Castro, com direito a intervenção do público. Aqui fica o essencial de uma conversa tão descontraída quanto rica e cativante, com um apaixonado pelo Cinema e pelo Direito.
Nota biográfica
Francisco Noronha é licenciado e mestre em Direito pela FDUP. Desde muito novo que manteve uma ligação profunda com o Cinema, desenvolvendo atualmente atividade como crítico (Jornal Público), programador cultural e realizador. Enquanto estudante, foi diretor do Cineclube da FDUP e do Jornal Tribuna, tendo ainda representado como ator na companhia de teatro universitário da FDUP, Direito à Cena.
Variando entre os géneros ficção, documentário, ensaio, longa e curta-metragem, realizou os filmes Não Consegues Criar O Mundo Duas Vezes (co-realizado com Catarina David, 2017), O Despiste (2019), Reconstrução (2022) e O Triunfo de Helmut (2022), exibidos em festivais e mostras nacionais e internacionais de Cinema. Presentemente, encontra-se a terminar o seu primeiro filme de ficção "A RAPARIGA PROJECTADA", uma curta-metragem que corresponde ao seu projeto final de Mestrado em Cinema pela Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa. Paralelamente, mantém atividade como jurista.
1. Gostaria que começasses por explicar “os inícios”. Quando é que começa o amor pelo Cinema? Antes ou depois de teres ingressado no curso de Direito?
Quando era miúdo, via muitos filmes, desde a Disney ao Charlie Chaplin. O meu filme preferido era o Robin dos Bosques (com a narração em brasileiro). Esses eram filmes ingénuos, mas que me continuam a dizer muito. Lembro-me da primeira vez que fui ao Cinema: tinha oito anos e fui com o meu pai ver o “Há Festa na Aldeia”, de Jacques Tati, um realizador francês que recorria muito à mímica nos seus filmes. O meu pai conta que, nessa ocasião, mal começou o filme, eu desci para o ecrã e lá permaneci durante toda a sessão, com as pessoas na plateia a rirem-se e eu a tocar na tela, a tentar perceber como é que aquilo funcionava. Em geral, eu diria que a minha infância foi muito marcada pelo Charlie Chaplin, principalmente a figura do Charlot.
Na adolescência, fui um adolescente normal, no sentido em que não via filmes do Godard ou do Truffaut, mas filmes que toda a gente via na altura. Aliás, lembro-me de no meu 9º ano ouvir falar de um filme chamado Sex, Lies and Videotape (1989) e ir alugá-lo no videoclube, a achar que ia ser um filme erótico, para depois me aperceber de que era, afinal, um filme muito sério – e foi uma grande desilusão [risos]. No entanto, como os meus pais tinham muitos filmes em casa, em VHS e depois em DVD, eu tinha a noção de que havia todo um outro Cinema por explorar.
No final do meu 12.º ano, por pressão dos meus pais, acabei por ir para o curso de Economia, na FEP, coisa que já na altura era abstrusa para mim. Não aguentei lá muito tempo: fiz umas cadeiras do primeiro ano e depois vim para Direito, às escuras. Não sabia bem o que queria estudar, pensava em Relações Internacionais, mas os meus pais queriam que eu tirasse um curso “sério” primeiro. Quando cheguei à FDUP, fui muito feliz. Esta Faculdade era uma verdadeira Academia, no sentido grego da palavra. Nós não vínhamos à Faculdade só para ter aulas: o facto de existirem tantos grupos académicos que nos atiravam para realidades tão distintas, fez-me sentir um verdadeiro “agente cultural” no primeiro ano em que entrei para o curso.
Nesse sentido, a minha cinefilia enquanto paixão consciente e obsessiva nasceu na FDUP. Quando eu cheguei, já existia o Cineclube e um amigo convidou-me para fazer parte do grupo – aí, eu ainda não sabia nada de Cinema. O primeiro filme que vi no Cineclube foi o Rumble Fish [Juventude Inquieta], do Francis Ford Coppola, e adorei. O que eu apreciava mais no Cineclube era o lado pedagógico, porque fazia-se sempre uma pequena apresentação antes da projeção do filme, que era levada muito a sério pelos membros, e, no final de cada sessão, era entregue uma folha de sala ao público escrita pelo membro do Cineclube que o havia escolhido. Mas também o facto de não haver preconceitos (não se passavam só filmes antigos, entre aspas, ou só de um determinado género). Por vezes, também havia um certo lado snobe na programação, mas isso nunca me disse nada – para mim, a programação cultural só é importante se houver um diálogo com o público. Mais tarde, foi projetado o filme Roma, Cidade Aberta (1945), com a magnífica Anna Magnani, que também foi marcante para mim.
Há muita gente que se envolve nos grupos académicos para ter alguma coisa no currículo ou para ganhar algum tipo de visibilidade; no Cineclube éramos todos desinteressados – fazíamos aquilo por amor à Faculdade.
2. É curioso que a verdadeira paixão pelo Cinema tenha começado na FDUP. Muita gente tem a ideia de que o Direito é o antónimo do criativo e do artístico. É possível, afinal, encontrar pontos de contacto entre o Direito e o Cinema?
Eu acho que nenhuma atividade profissional é incompatível com nada. Sempre gostei de pessoas com paixões várias. Por exemplo, eu não consigo passar dois dias inteiros com uma pessoa que só fale de Cinema, da mesma forma que não consigo fazê-lo com uma pessoa que só fale de Direito ou que só fale de Música. Eu acho saudável e natural ter várias paixões e fazer várias coisas na vida – para mim o que é estranho são pessoas que só fazem uma coisa (respeitando isso, naturalmente). Eu notei que muitos amigos meus deixaram de ter vida quando se começaram a dedicar profissionalmente ao Direito, deixaram de alimentar as suas paixões, e isso é algo que me entristece e que eu tinha a certeza que nunca me ia acontecer.
A ideia de que o Cinema nada tem a ver com o Direito é errada. O Direito não é incompatível com nada. Eu adorei estudar Direito. Quando fui diretor do Jornal Tribuna, juntamente com um colega meu [na altura, havia dois diretores], eu quis fazer várias alterações no Jornal e uma das coisas que introduzimos foi a rúbrica “Em amena cavaqueira”, em que convidávamos pessoas fora da área do Direito para uma entrevista informal. Uma dessas conversas foi com o Valter Hugo Mãe, quando ele ainda não era conhecido. Nessa entrevista, ele confessou-nos (a mim, e ao vosso Professor Tiago Ramalho, que foi o entrevistador) que também tinha estudado Direito, mas que não tinha gostado nada do curso, e eu nunca mais me esqueci de uma frase que ele disse: “quando terminei a Faculdade, a maioria dos meus colegas estava inchada de Doutor; a mim o curso de Direito só me encheu de dúvidas”. Quando ele disse “dúvidas”, não era no sentido de não saber o que queria seguir na vida, mas no sentido de o curso lhe ter levantado muitas questões sobre a natureza humana, sobre o certo e o errado, sobre a moral, por exemplo.
Ora, o Direito sempre fez isso em mim. Quando entrei para Direito, como muitos jovens na altura, vinha cheio de preconceitos, mas, digamos, os “bons” preconceitos, não os racistas e afins. Depois percebi que a realidade era bem mais complexa, fascinante e interessante do que todas as certezas que eu tinha. Eu gostei do curso, porque o Direito me fez deixar de ter certezas sobre as coisas e ensinou-me a pensar; não só no sentido da sistematização e de organização de pensamento, mas no sentido de pensar “sem palas”, ou seja, de me permitir chegar a uma conclusão que eu nunca pensaria chegar e estar disposto a aceitar essa mudança de perspetiva.
É aqui que se cruza o Cinema. Para mim, os bons filmes são aqueles que nunca nos dizem o que pensar, o que está certo e o que está errado; são aqueles que respeitam a inteligência do espectador, que não querem impor uma mensagem – como disse uma vez Hitchcock: “eu, quando quero mandar uma mensagem, uso o telégrafo”. Os bons filmes dão-nos liberdade. E o curso de Direito deu-me isso, ensinou-me a pensar de forma verdadeiramente livre. Eu achava fascinante estudar pelos livros e ler o que um autor dizia e, depois de ficar totalmente convencido com a sua posição, ir ler outro autor com uma posição completamente contrária à do primeiro, mas com uma fundamentação igualmente plausível. O Direito é Cultura: todo o processo de produção de normas é Cultura.
Isto tem tudo a ver com Cinema. Por exemplo, o filme The man who shot Liberty Valance (1962), de John Ford, demonstra isso: é filmado de duas perspetivas diferentes (pelos olhos de duas personagens), fazendo o espectador pensar que há boas razões quer para A, quer para B terem agido de determinada forma. Eu gosto das “zonas cinzentas”, e foi isso que me fez gostar do curso de Direito. Se não fosse o Direito, eu não teria tido tão cedo a noção de que não devemos ter tantas certezas, de que é errado subsumir, para utilizar o jargão jurídico, os factos à nossa pré-compreensão das coisas. A meu ver, para chegarmos à “verdade” ou ao fundo das coisas quando estamos a tentar compreendê-las, nós temos de estar dispostos a concluir exatamente o contrário do que pensamos – se não temos essa predisposição, não vale a pena, porque só vamos procurar adaptar um caminho para validar aquilo que já pensávamos sobre o assunto.
Quanto à vertente da organização de pensamento e de sistematização que o Direito me deu. Depois de terminar o curso, fiz o estágio na Ordem dos Advogados e fui advogado. Esse período permitiu-me desenvolver uma grande capacidade de organização, uma mais-valia que não se encontra em todas as pessoas no meio artístico. Até para as coisas que parecem mais irrelevantes, como a escrita de e-mails ou a comunicação em geral, a formação em Direito e a experiência enquanto advogado foram extremamente úteis. Além disso, essas ferramentas são muito importantes na realização em si, porque fazer um filme é como um processo judicial: ao contrário do que as pessoas possam pensar, o processo de realização de um filme tem fases perfeitamente delimitadas.
3. Relativamente às tais “zonas cinzentas”, há uma cena no filme autobiográfico de Paolo Sorrentino, “A mão de Deus” (2021), onde o protagonista, um jovem napolitano aspirante a realizador de cinema, procura orientação numa figura sábia (um realizador mais velho) que surge no seu subconsciente, afirmando que quer fazer Cinema para criar um mundo imaginário e escapar à sua realidade miserável e decadente; ao que a figura sábia reage prontamente, dizendo que esse desejo não basta, porque a história, para progredir, tem de ter (entre outras coisas) “conflito”. Na tua perspetiva, o que é preciso para contar uma boa história?
O mais importante é querer contar a história. Isto parece uma banalidade, mas não é: há realizadores que não têm verdadeiro interesse em contar determinada história ou que só fazem o filme porque é uma imposição do estúdio ou porque estão sem ideias, e isso reflete-se na qualidade do filme. Ao escrevermos ou realizarmos um filme somos Deuses, criamos um mundo: não há limites na Ficção.
4. A música é algo recorrente no teu percurso, quer como crítico [na rubrica de autor da Antena 3 “Regresso ao Futuro”], quer como realizador [do documentário “Não Consegues Criar o Mundo Duas Vezes”, sobre a cultura rap no Porto]. Qual é para ti o papel da música num filme?
Começo por dizer o que a música não deve ser num filme. A música nunca deve ser utilizada para sublinhar algo que já lá está, isto é, para sublinhar emoções. Se a personagem está a chorar, não é necessário colocar um violino por trás – essa emoção já é suficientemente forte. Normalmente os filmes que fazem isso são maus filmes, cheios de clichês, sem cunho. E, em geral, diria que se deve introduzir pouca música num filme.
[José Miguel Barbosa] Achas que há uma desvalorização do silêncio no Cinema? Não só no que toca à música, mas também quanto à excessiva literalidade na transmissão da mensagem. Sinto que no período da Nova Hollywood (década de 70 nos Estados Unidos da América), por exemplo, os filmes eram mais silenciosos a passar a mensagem, no sentido de reconhecerem inteligência ao espectador, mas isso tem vindo a perder-se…
A Nova Hollywood é um fenómeno que nunca mais aconteceu e que duvido que volte a acontecer na História do Cinema. O que aconteceu foi que realizadores norte-americanos como Martin Scorsese ou Steven Spielberg, fizeram filmes violentos e subversivos de forma independente, e acabaram por ter sucesso; com isso receberam o financiamento total dos grandes estúdios para filmes futuros. Essa década acabou num instante porque, por um lado, isso contrariava a génese conservadora dos Estados Unidos da América (EUA) e, por outro, estes realizadores, a quem foi dado todo o dinheiro da indústria, fizeram filmes com derrapagens financeiras brutais – o filme que se considera ter acabado com esse período foi o Heaven’s Gate (1980), do Michael Cimino, uma grande obra sobre a História dos EUA.
Voltando à questão da transmissão da mensagem em Cinema. Por exemplo, quando eu vejo o filme Cruising (1980) do William Friedkin, que aborda o tema da homossexualidade, eu não sei o que é que o Friedkin pensa sobre o assunto – o que eu sei é que ele quis que eu pensasse alguma coisa sobre o assunto. Isto, para mim, é que é um grande filme, que não presta contas a ninguém e que não faz bandeira de nada. Mas isto não se passou apenas na Nova Hollywood: por exemplo, a Nouvelle Vague francesa é conhecida por associar-se a ideais de esquerda, mas se virmos o À bout de souffle (1960), do Jean-Luc Godard, essa longa é apenas sobre um homem, uma mulher e uma pistola – eu não sei o que é que o Godard pensa sobre as referências políticas que surgem durante o filme. Há, hoje, muitos filmes que são feitos para validar mensagens políticas ou ideológicas, mas para mim a Arte é algo que me deve fazer ir mais além e não apenas servir para reafirmar o que penso. Hoje, o espectador vai à sala de cinema para reconfirmar no filme as suas próprias ideias. Isso não me interessa. A Arte e a Ciência, para o serem, para procurarem a verdade, têm de ser livres.
5. Se tivesses apoio financeiro e logístico ilimitado, que tipo de filme realizarias?
Seria ficção. E a primeira coisa que gostava de ter era tempo – “time is money”. Faria as coisas com calma, formaria uma equipa boa e grande e faria castings para os atores com mais tempo. Por exemplo, neste momento estou a trabalhar no meu projeto final de Mestrado em Cinema [na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto] e toda a equipa é feita por colegas do mestrado ou por pessoas externas a quem pagamos um valor simbólico. Isto faz com que não possamos exigir determinadas coisas que poderíamos exigir se pagássemos mais. Depois há aquela situação em que não há dinheiro para filmar em duas semanas, por isso vamos ter de filmar numa semana, o que significa ter de cortar cenas.
Um filme, para o bem e para o mal, nunca é, de todo, aquilo que nós primeiramente projetámos, por variadíssimas razões: práticas, logísticas e às vezes até por razões surpreendentes – por exemplo, havia uma praia onde eu queria muito filmar uma cena, mas depois cheguei lá para fazer uns testes de imagem e não funcionou. Claro que as mudanças e os imprevistos também trazem coisas boas, desde logo os atores, que por norma enriquecem as personagens que idealizámos no papel.
6. Relativamente ao documentário “Não Consegues Criar o Mundo Duas Vezes” (2017), co-realizado com Catarina David, que retrata a cultura rap no Porto: como é que surgiu a ideia e a oportunidade de realizar este primeiro filme?
Eu quando fiz esse primeiro filme, nunca achei que ia ser realizador. Essa história é muito simples. Eu sou melómano, ouço música desde miúdo e sempre fui apaixonado pelo Hip Hop – e essa paixão tornou-se algo obsessivo, no bom sentido. Eu tenho uma amiga, a Catarina David, que na altura em que fizemos o filme (em 2017) estava a terminar a Licenciatura em Cinema pela Universidade Católica Portuguesa. A ideia de avançarmos com este projeto surgiu naturalmente em conversa: ela tinha os conhecimentos técnicos de Cinema, uma câmara e o material necessário, adorava Hip Hop e, tal como eu, queria “pôr as mãos na massa”; eu tinha um conhecimento profundo sobre Música e era um cinéfilo, apesar de nunca ter pegado numa câmara sem ser para umas brincadeiras em casa. Embora não tivesse formação em Cinema, eu sabia como é que queria filmar. Na verdade, eu formei-me em Cinema a ver filmes, sobretudo de um realizador, que é o meu realizador predileto, o Michelangelo Antonioni. Conheci esse realizador aqui na Faculdade, no Cineclube; aliás, cheguei a programar um filme dele, o La Notte (1961), que foi a minha primeira crítica de Cinema no blog do Cineclube.
Nós fizemos este documentário num modo guerrilha total: apenas duas pessoas a trabalhar no filme, a fazer tudo (tínhamos um técnico de som nalguns momentos). Isto hoje, para mim, seria impensável. Primeiro, tivemos de arranjar os contactos dos artistas (cerca de 50 pessoas), sendo que, por norma, há pessoas a trabalhar com os realizadores que só fazem isso. Depois, a dificuldade foi conseguir que as pessoas respondessem aos e-mails e telefonemas para marcarmos datas para as entrevistas. De seguida, tive de ouvir os discos todos de novo, para ter boas questões para colocar e, finalmente, estar nos locais para filmar (com uma câmara apenas).
Depois foi preciso montar o filme – nisso a Ficção é muito mais fácil: quando se faz Ficção, já está tudo planeado antes de filmar. No documentário, eram horas e horas de entrevistas, mais horas e horas de filmagens nas ruas do Porto. Tivemos de desgravar todas as entrevistas e selecionar em cada uma aspetos comuns, sendo que esses aspetos não foram falados todos nas mesmas alturas de cada entrevista. Tivemos ainda de captar os aspetos particulares de cada um e escolher onde inseri-los. E isto foi só o áudio; depois tivemos de ver se a imagem funcionava. A montagem demorou meses.
Ainda assim, começámos as filmagens em abril de 2017 e em dezembro de 2019 estávamos a apresentar o filme no Porto Post Doc – nenhum documentarista acreditava quando lhe dizíamos o tempo que demoramos a fazer o filme. O filme foi todo autofinanciado. Apesar de haver coisas que hoje mudaria neste primeiro projeto – por exemplo, encurtaria a duração –, com aquilo que tínhamos, continuo a achar que fizemos um bom filme.
7. Poderias falar um pouco sobre o projeto em que estás a trabalhar no momento, a curta-metragem “A Rapariga Projetada”?
Este é o meu projeto final do Mestrado em Cinema da Universidade Católica. Tudo surgiu de uma imagem. Eu pratico surf e existem aplicações que os surfistas usam para ver o estado do mar em tempo real e que captam imagens de diversos ângulos da praia. Isto é Cinema. Eu mal conheci essas câmaras, achei interessante, porque eu adoro filmes com matérias voyeurísticas – o filme charneira nisso é o Rear Window (Janela Indiscreta), do Hitchcock, porque é um filme que define a condição de espectador. Há uma noite em que eu acordo por volta das quatro da manhã e, por curiosidade, fui ver a imagem da câmara que estava na praia de Matosinhos e reparei que, no areal, estava um conjunto de pessoas vestidas de branco numa espécie de ritual. Eu adorei isto, pelo capital de mistério, fantasia, thriller e noir que tinha. Ora, esta imagem surge neste meu filme, ainda que de outra forma. Não posso revelar muito mais, porque ainda estou a finalizar o projeto, mas posso dizer que um filme que foi referência para mim é o Le Bonheur (1965), da Agnès Varda.
Beatriz Castro
Departamento Cultural
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