O esplendor cultural da Queima das Fitas do Porto
- André Mota
- 21 de mai.
- 3 min de leitura
E assim passou a mais ansiada semana de todo o ano académico: a semana académica que, no Porto — seguindo a tradição de Coimbra —, recebe o nome de Queima das Fitas.
Durante esta semana, o Porto voltou a sua atenção para todos os estudantes universitários, celebrando o final de um ano de muitas conquistas e propiciando a vários momentos de grande significância na sua vida pessoal e académica. De facto, a semana da Queima das Fitas criou, como sempre o faz, um momento de união entre toda a Academia, desde os estudantes que a vivem pela primeira vez àqueles que com ela se despedem da Faculdade. Por essa mesma razão, esta grande semana se tornou um verdadeiro evento cultural da Cidade Invicta.
Desde logo, a Queima das Fitas é inaugurada todos os anos por uma ocasião de marcada solenidade: a noite da Monumental Serenata. Nessa noite, a cidade é coberta pelas capas negras de dezenas de estudantes, que convergem para um largo espaço onde, às 00h01 de domingo, fazem silêncio para deixar ecoar as notas das violas e das guitarras portuguesas dos Grupos de Fados de várias Faculdades, tendo contado, este ano, com a presença do Grupo de Fados da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (GFFDUP), entre outros. Deste modo, a Serenata não só marca, para muitos, um momento de despedida de um longo caminho percorrido, como também espelha, pela voz dos jovens estudantes que no Porto estudam, a tradição deste estilo musical, tão tradicionalmente português.

Depois, é impossível falar desta semana sem nos referirmos à emblemática tarde de terça-feira, quando se deu o grande Cortejo Académico. Exibindo orgulhosamente as cores da sua Faculdade, através de símbolos como as cartolas e bengalas dos finalistas ou as fitas que tantos estudantes abanam nas suas pastas, centenas de universitários desceram, em júbilo, a Avenida dos Aliados, entoando alegremente cantigas durante esse trajeto, demonstrando o quanto os estudantes dão vida e entusiasmo ao Porto. A magia deste evento é, portanto, capaz de contagiar desde o cidadão residente na cidade, já habituado ao fenómeno, ao próprio turista que tem a sorte de vir visitar o Porto nesta data.

Merecem destaque, ainda, dois outros eventos. O primeiro é o Sarau Cultural, que se compromete a enaltecer e a valorizar a cultura da Academia do Porto, nas mais variadas formas de expressão artística, da música ao teatro, passando também pela vertente da dança. Em segundo, temos o Festival Ibérico de Tunas Académicas, comummente conhecido como FITA, dedicado a estes grupos académicos, que tanto contribuem para espalhar a música portuguesa para a cidade e mesmo para fora dela, ao longo de todo o ano — tendo a Tuna vencedora da XXXVI edição deste festival (a mais recente) sido a Tuna Académica da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (TAFDUP).

Por fim, não podemos deixar de fazer referência aos próprios concertos realizados no Queimódromo todas as noites. O cartaz da Queima das Fitas conta sempre com a participação de vários artistas, tanto nacionais como internacionais, dando-lhes a oportunidade de apresentar o seu trabalho a vários jovens. Aliás, a presença de alguns destes artistas já se tornou verdadeiramente característica e encarada pela comunidade estudantil como tradição. É o caso de Quim Barreiros e Rosinha, que tipicamente sobem ao palco da Queima na terça-feira à noite, depois do cortejo.

Este ano, a Federação Académica do Porto anunciou o cartaz da Queima das Fitas como “o cartaz mais internacional de sempre”, contando com a participação de artistas como Lukas Graham e Milky Chance, sem esquecer também artistas portugueses como Bispo e Nininho Vaz Maia. A diversidade de estilos musicais que é trazida à Queima demonstra, assim, uma clara vontade em praticar algum tipo de expansão de horizontes a nível cultural.
Por tudo isto que aqui foi dito, desengane-se quem considera a Queima das Fitas um evento meramente académico, que apenas interessa aos estudantes. Apesar de, na sua essência, ser dedicada à comunidade estudantil, não devemos descurar a relevância da mesma na área da cultura, que demonstra ser forte, constituindo uma autêntica tradição desta cidade do Norte, tanto para aqueles a quem ela dá casa, como para os que a ela vêm, com furor, conhecer tudo o que ela vem para oferecer.
André Mota
Departamento Cultural
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