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Foto do escritorMafalda Azevedo

8M é na rua, este ano marchamos em casa.

Atualizado: 17 de mar. de 2021

8 de março de 2021, marca o primeiro editorial do Jornal Tribuna para 2021.

Surge como uma página informativa do que tem sido o “Dia Internacional da Mulher”, termina como que um desabafo da terrorizante realidade do ser mulher - deixo já assente a título de presságio. Ficam os desejos de uma luta justa, na injustiça, pelo dia em que estaremos em pé de igualdade. Ficam as palavras de carinho às mulheres companheiras. Terminada a breve introdução do que vos espera, encaminho-me assim para uma bonita aula de história, deste dia que de todas as mulheres é.


A primeira celebração do que é hoje conhecido como o “Dia Internacional da Mulher” remonta ao dia 28 de fevereiro 1909, em Nova Iorque. Esta primeira ocorrência terá sido organizada pelo Partido Socialista Norte Americano. Um ano e meio depois, em agosto de 1910, é proposta a celebração anual na Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, pelas delegadas alemãs, inspiradas no dia celebrado pelas companheiras norte-americanas.

A 19 de março de 1911, dão-se as primeiras celebrações, tendo sido organizadas cerca de 300 demonstrações no Império Austro-húngaro, na luta por direitos iguais. À data reivindicavam o direito ao voto e direitos laborais iguais. Engraçado, mais de uma centena de anos mais tarde, e pelo menos uma das variantes permanece constante.

A primeira demonstração do dia 8 de março enquanto Dia da Mulher dá-se a 1914 na Rússia, pela mera coincidência de ser um domingo, demarcando-se como o dia mais conveniente para a mulher trabalhadora. No mesmo dia, mulheres no Reino Unido lutavam também pelo direito ao voto.

3 anos mais tarde, 1917, operárias têxteis russas cobriram a cidade, marcando o início da Revolução Russa. As mulheres russas entraram em greve, exigindo Pão e Paz, lutavam pelo final da primeira Guerra Mundial e do racionamento alimentar. Após a Revolução de Outubro a feminista Alexandra Kollontai e Vladimir Lenin tornaram o dia 8 de março feriado oficial na União Soviética. Deixou, em 1965, de ser considerado um dia de trabalho.

Até 1967 era considerado uma data “comunista e socialista”, tendo na década de 1970 ganho força por grupos de mulheres impulsionadas por organizações sindicais. Em 1975, as Nações Unidas começam as suas celebrações do Dia da Mulher, sendo em 1977 proclamado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas como o Dia da Mulher e da paz mundial.

De 1977 damos um salto até 2021. Com a iminência pandémica, (ainda) passamos o 8 de março de 2020 na rua. De 8 a 8 de março, do ano que precarizou a posição da mulher, fazendo-nos caminhar uns passos para trás. A mulher doméstica carregou às costas o peso da casa, dos filhos, do trabalho (doméstico e tudo o que demais aprouver). A mulher trabalhadora carregou os despedimentos, os lay-offs. As mulheres prostituídas carregaram o preço da vida e da violência.

Não nos ficamos por aqui. A 7 de março de 2021, na concentração promovida pelo Movimento Democrático de Mulheres, lia-se “Não estamos todas, faltam as mortas”. Não esquecemos as nossas companheiras. Desde 2004, 564 mulheres foram assassinadas. Crime pintado como passional. De paixão vemos muito pouco. 30 mulheres assassinadas, 16 delas em relações de intimidade no ano de 2020. Pouco mais terei que adicionar.

Não esquecemos as mulheres transsexuais, vítimas de violência e de discriminação. Vítimas de desatenção e descuido pelos media, como se não lhes fosse devido o respeito por de humanos se tratarem. Deixamos o nome de Angelita Correia, encontrada morta na praia de Matosinhos no dia 11 de janeiro de 2021, desaparecida desde 2 de janeiro. Como ela, muitas mulheres enfrentaram o mesmo fim violento e infeliz, tendo pouca ou nenhuma justiça sido feita em seu nome.

Termino este editorial, desorganizado na sua organização, numa esperança de dias melhores. Não é apenas uma luta de direitos, a luta em busca da tão merecida dignidade, que nem todas temos direito de ter.

Uma luta por todas as mulheres, sem exceção. Não se aceitam exceções. Companheiras de mãos dadas por um futuro melhor, pintado a roxo.


Consultar para educar


Mapa da Liga Feminista do Porto dos Femícidios por parceiro em Portugal https://www.ligafeministadoporto.site/femicidio


Literatura | "Teoria Feminista: Da Margem ao Centro", bell hooks, 1984

Cinema | "She's beautiful when she's angry", Mary Dore, 2014

Podcast | "A.K. 47 - Selections from the Works of Alexandra Kollontai" Kristen R. Ghodse

Música | "Beweare of the dogs" Stella Donelly


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