A hard day's degree
- Leonor Mendonça
- 30 de set.
- 2 min de leitura
Uma das primeiras coisas que nos dizem ao entrar na universidade é se trabalhares, consegues, quase como uma fórmula mágica para o sucesso, uma promessa de que o esforço individual é suficiente para vencer quaisquer obstáculos e fazer chover oportunidades.
É verdade que o esforço conta. Sem ele nunca iremos chegar longe, mas a realidade é que nem todos começamos na mesma linha de partida: há quem não tenha grandes apoios financeiros, há quem trabalhe enquanto faz o curso, há quem tenha tido acesso no secundário a escolas com bons recursos e outros que talvez tenham sido prejudicados pela falta deles, há quem tenha contactos que abrem portas e há quem esteja a construir o seu caminho sozinho.
Ignorar estas diferenças é acreditar piamente que basta dar o litro para que tudo se resolva. Ainda que bem-intencionado, este mito pode ser cruel, uma vez que a responsabilidade recai apenas sob o indivíduo e as desigualdades estruturais que condicionam os percursos são ignoradas. Quantas vezes é utilizada a palavra mérito para legitimar decisões que no fundo são determinadas por fatores alheios ao esforço? Quantas vezes se celebra um sucesso sem olhar para os privilégios que o tornaram possível?
O Tribuna também existe para abrir espaço a estas reflexões. Não para dar respostas, mas para abrir debate e desconstruir narrativas demasiado cómodas, porque, se a meritocracia é um mito urbano académico, talvez esteja na hora de lhe devolver sentido, talvez esteja na hora de pensar o mérito de forma mais plural, justa e consciente das condições da sua existência.
O convite que vos deixo é muito simples: olhem para o vosso percurso e para o de quem vos rodeia e reconheçam que o esforço e o talento existem, mas que o contexto também importa. Partilhem experiências, aprendam uns com os outros e, acima de tudo, não se deixem cegar pelo mito de que quem não consegue simplesmente não trabalhou o suficiente.
Leonor Mendonça
Diretora-Adjunta do Jornal Tribuna
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