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Foto do escritorDuarte Nogueira

A 13.ª Economia Mais Lenta do Mundo

Somos nós, é verdade. Segundo o FMI, Portugal é a 13.ª Economia mais lenta do Mundo. Desde 1999, a Economia portuguesa tem-se destacado pela negativa. Teve vários anos de crescimento lento e depois, foi uma das mais castigadas durante a crise de 2008. Assim, entre 1999 e 2028, Portugal soma um crescimento de apenas 42,1%, o que corresponde a uma taxa média anual na ordem dos 1,2%. Esta informação surgiu após as novas previsões até 2028 do FMI, publicadas em Washington, que permitem traçar o percurso do PIB português nas primeiras três décadas, tendo o Euro como moeda em circulação, e compará-lo com os resultados apresentados nos restantes países.


No quadro da União Europeia, apenas dois países apresentam um desempenho pior que Portugal: a Itália (17,3%) e a Grécia (24,3%). Em contraste, a Irlanda, que também fez parte dos primeiros 11 países da União Económica e Monetária, como Portugal, cresce 370%, quase quintuplicando o seu PIB. Ainda abaixo do crescimento português encontram-se países que enfrentaram (ou que ainda enfrentam) situações de guerra ou conflitos armados, como é o caso do Iémen ou da Líbia.


Para este ano, as novas previsões do FMI revelam-se mais pessimistas do que as do Governo de António Costa e das do Banco de Portugal. O Fundo Monetário Internacional previu uma taxa de crescimento anual de 1%, ficando aquém dos 1,3% que Fernando Medina considerou no Orçamento de Estado para este ano, e ficando ainda mais distante dos 1,8% apresentado em março por Mário Centeno, Presidente do Banco de Portugal. Fernando Medina atualizará as previsões do Governo aquando do envio do Programa de Estabilidade 2023-2027 para a Comissão Europeia, sendo o cenário bastante diferente de há uns meses. Para além do crescimento mais fraco do que se esperava, o contexto mundial piorou segundo o FMI, que baixou para 2,8% a previsão de crescimento global em 2023, e que admitiu que esta década pode ser a pior desde 1990. A sua causa é o facto de a estabilidade do comércio mundial estar a ser abalada pela perspetiva de uma fragmentação em blocos geopolíticos que podem trazer de volta um protecionismo exacerbado e uma reviravolta nas cadeias de importação e exportação.


As projeções do World Economic Outlook do FMI preveem um ritmo de crescimento ligeiramente acima dos 2% em 2025, mas apontam para um abrandamento de 2026 a 2028. Uma economia portuguesa a crescer mais lentamente significa que a consolidação orçamental será mais difícil e a descida do rácio da dívida pública para menos de 100% do PIB até ao final da legislatura, como pretendido, torna-se menos provável. Não está previsto que o défice não desça abaixo de 1% e que o rácio da dívida baixe para menos de 100% até 2026.


Portugal está a crescer e à primeira vista parece estar no bom caminho, quando comparado com os demais países da União Europeia, uma vez que se encontra acima da zona euro (0.8%). No entanto, Portugal não deixa de fazer parte do grupo das economias com um crescimento abaixo dos 1,2%. A baixa média da zona euro é justificada pelo facto de a Alemanha, a maior economia do Euro, encontrar-se em recessão (-0,1%), assim como as grandes economias da Itália e França registarem um crescimento lento. Por isso, apesar de Portugal ter vindo a crescer acima da média europeia e continuar a fazê-lo nos próximos anos, a verdade é que são em maior número as economias a crescer mais rápido do que aquelas que andam mais lentas do que Portugal. É o caso, por exemplo, da Grécia que, com uma restruturação da dívida e três resgates desde 2010, vai crescer quase três vezes mais do que Portugal.



@Jornal de Negócios


A Inflação também foi um dos temas abordados pelo FMI. Inflação essa que atingiu níveis como há décadas não se via e, ao contrário do inicialmente assegurado pelos Bancos Centrais, não será passageira. No que toca a Portugal, há a previsão de um abrandamento em 2023 e 2024. Do registo de 7,8% do ano passado, as taxas de inflação irão diminuir para 5,7% e 3,1%, respetivamente. Previsões estas que se afiguram mais positivas do que aquelas que foram apresentadas pelo Banco de Portugal. No entanto, as taxas de inflação continuarão bem acima da meta de 2% fixada pelo BCE, assim como acima da média da zona euro. A pressão será muito maior em 15 economias da União Europeia, onde vários países de leste apresentarão taxas de dois dígitos. Contudo, apesar de Portugal apresentar uma taxa de inflação longe dos dois dígitos e de, inclusive, ser mais baixa na Alemanha e na Áustria, a verdade é que a fraqueza da estrutura social portuguesa amplia os efeitos do surto inflacionista.


Contudo, há algo em que realmente nos destacamos: a dívida portuguesa está entre as que mais diminuirá. Até 2028 prevê-se uma descida de 38,4% desde o pico em 2020, o ano da pandemia COVID-19, que fez disparar o endividamento público na generalidade dos países. Na União Europeia, apenas a Grécia e a Irlanda terão maiores reduções de dívida neste período. Portugal deixará de pertencer ao clube dos 15 países mais endividados do Planeta (em percentagem do PIB) no horizonte dos próximos 5 anos, em que o FMI espera que a dívida portuguesa fique abaixo dos 100%, o que não acontece desde 2009. Portugal, no presente ano, também regista o terceiro melhor valor de défice da zona euro, registando 1,2% de défice negativo.


De 1999 a 2023, Portugal demonstrou ser uma das economias mais lentas e dependentes do mundo. Os números indicam que a situação nacional está a melhorar, mas uma análise cuidada dos gráficos indica que os desenvolvimentos observados não permitem a Portugal ‘sair da cepa torta’. Até 2028 continuaremos a apresentar uma economia fraca. Quanto às próximas décadas ainda não há previsões que possam ser realizadas com exatidão, mas atendendo ao caminho que Portugal tem percorrido, não é muito difícil prever o futuro português. E não é famoso.


Duarte Nogueira

Redator do Departamento Sociedade



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