Ab initio, a Igreja Católica de Roma, consolidou-se como um espaço universal, de comunhão de valores e modos de ação, a partir da fé em Jesus Cristo, filho de Deus. Tendo atingido esta universalidade — que deriva da própria matriz do termo “católico” — com a designada Respublica Christiana, no período medievo, a Igreja assume, pelo menos desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), a necessidade de reformar as suas estruturas, rumo a uma abertura à comunidade, a fim de alargar a amplitude deste espaço de encontro.
O pontificado de Jorge Mário Bergoglio tem sido frutífero nesta abertura, que sobretudo a comunidade dos que não professam a fé na Igreja de Cristo deseja desenfreadamente, e tem cabido à atividade apostólica moderar esta transição iniciada com as reformas de 1965, e sem fim à vista, pela dimensão histórica, humana, religiosa e, por isso, sensível das mesmas.
Reunida a XVI Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, no final do passado mês de outubro, o santo padre ratificou a aprovação de um documento-síntese — pela primeira vez aprovado, também com a votação de leigos — que pretende ser o compromisso com uma igreja em “comunhão, participação, e missão”; saltam à vista do leitor 3 eixos fundamentais neste documento: o estabelecimento de um compromisso entre os ministros da Igreja, a assembleia dos crentes, e sobretudo o arrojado desejo de que esta relação compromissória não se esgote na envolvência daqueles que participam nas celebrações, mas abra as portas das igreja àqueles que passando por elas, as vão ignorando todos os dias; uma dimensão de mais profunda relação espiritual com Deus, a partir da comunidade, por meio de Jesus Cristo e Maria; e, por fim, uma referência àquilo a que hoje chamam os economicistas e tecnocratas, “governance” — a exortação a que os bispos e todos aqueles que assumem responsabilidades de gestão no seio da Igreja se vinculem a uma postura idónea, humanista e, sobretudo, transparente- quer no que concerne a operações orçamentais e financeiras, quer na gestão humana de comunidades.
“Juntos na barca de Pedro” — é a designação de uma das cinco partes do documento (publicado sem ser objeto de uma exortação do Papa) e, provavelmente, aquela que melhor sintetiza o espírito da ação encetada pela Igreja, agora reforçada- a preservação de um espaço de encontro e reflexão, de dimensões aparentemente reduzidas, mas onde se acomodem todos os que a ele acorrendo, assumam a sua missão, à imagem do que acontecia com os discípulos e Jesus.
As questões distas fraturantes, como a posição do clero perante costumes sociais, ou a própria ordenação sacerdotal de mulheres, parece manter-se entreaberta pela correlação de forças entre a cúria romana e o colégio cardinalício, a vontade do pontífice, e os anseios dos fiéis. Fica, em epígrafe, deste encontro a máxima da “conversão de relações” que se esperam mais fraternas, justas, e solidárias, com o necessário confronto entre os valores que jazem sob a Igreja e a perturbação, alheamento, e desenraizamento social e humano do nosso tempo.
Bruno Martins
Departamento Sociedade
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