Com a chegada do tempo frio e o aproximar da época natalícia, o Porto (e o país) ilumina-se e convida a passeios delongados. E se num desses passeios tropeçasse num pouco de cultura?
No seguimento do aliviar das medidas de restrição de combate à pandemia – e muito embora os desenvolvimentos pandémicos recentes tenham deixado os agentes culturais apreensivos –, a cultura sai à rua no Porto e volta a inundar os recantos da cidade.
Com o regresso da árvore de Natal à Avenida dos Aliados e do Mercado de Natal à Praça da Batalha, parece que se cria um cenário idílico para que as pessoas consumam mais cultura – não vá acontecer, acidentalmente, num passeio pela baixa portuense, tropeçarem em espetáculos de teatro ou exposições de obras de arte.
De 10 a 19 de dezembro, sobe a palco no TNSJ À Espera de Godot, de Samuel Beckett, com encenação do romeno-húngaro Gábor Tompa. A obra de Beckett, diz a sinopse do TNSJ, “alterou por completo não apenas a literatura dramática, mas a própria condição teatral”.
Entre os dias 7 e 12 de dezembro, realizar-se-á a primeira edição do Porto Comedy Fest, organizada pelo FeRRo Comedy Club. Durante os 6 dias de festival, passarão pela Invicta 50 humoristas, 15 sessões e podcasts ao vivo. Tudo somado, serão mais de 24 horas de humor!
No Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, no dia 30 de novembro, reúnem-se Bruno Nogueira e Manuela Azevedo para apresentar o Deixem o Pimba em Paz. O espetáculo partiu do fascínio de Bruno Nogueira pelo pimba que explora as várias dimensões desse universo – as roupas, as coreografias, as letras, as músicas – e dá nova vida às canções pela voz da vocalista dos Clã.
Chico da Tina (ou Francisco da Concertina) também vai pisar o palco do Super Bock Arena, a 11 de dezembro. Com álbum recentemente lançado – E Agora Como é Que É –, o trapstar português vai apresentar singles de Platina como “Ronaldo” e “Platina” e promete trazer convidados.
No dia seguinte, a 12 de dezembro, James, a banda britânica composta por 7 membros, promete vir a Portugal percorrer os diversos sucessos de uma carreira com mais de 30 anos.
Pela Casa da Música, vai passar Fernando Tordo, com Natal em Casa de Ary, a 19 de dezembro, numa viagem ao número 23 da Rua da Saudade, antiga morada do poeta que faleceu em 1984.
Um pouco mais distante do centro do Porto, a exposição Pinturas Partilhadas junta o realizador Pedro Almodóvar e o pintor Jorge Galindo, cujo resultado é “o sentido de uma espacialidade aberta, quase gestual". A exposição pode ser vista no Museu Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante, até 31 de dezembro.
Pensando também nos que passarão as últimas semanas do ano apartados do Porto, não podemos deixar de mencionar pedaços culturais que podem ser achados por todos os recantos do país.
A juntar às comédias românticas natalícias que estarão certamente para chegar a uma plataforma de streaming perto de si, estreou a 25 de novembro o filme que junta Lady Gaga, Adam Driver e Jared Leto. House of Gucci (Casa Gucci, na tradução portuguesa), com a direção de Ridley Scott,é inspirado na chocante história verídica dos bastidores da família detentora do império da moda italiana e aborda a relação de Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e do seu marido, Maurizio Gucci (Adam Driver), empresário e neto do fundador da marca, que terminará num assassínio.
Pelas livrarias de todo o país, e também a tempo da correria frenética das compras de Natal, chegarão novos livros de Chico Buarque (Anos de Chumbo, uma coletânea de oito contos, editada pela Companhia das Letras), José Eduardo Agualusa (O Mais Belo Fim do Mundo, pela Quetzal) e Afonso Cruz (Sinopse de amor e guerra, pela Companhia das Letras).
Chegarão também às prateleiras dos leitores portugueses os dois novos livros de Djaimilia Pereira de Almeida, Gestos e Três Histórias de Esquecimento, editados este mês pela Relógio d’Água, que publicará ainda Dicionário de Artistas, de Gonçalo M. Tavares. Pela mesma editora, será publicado o aguardado novo romance de Sally Rooney, Mundo Belo, onde Estás.
Na não-ficção, com a chancela da Dom Quixote, vai sair Duas Solidões — O Romance na América Latina, de Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Já a Tinta-da-China vai publicar Bom Senso e Bom Gosto, texto essencial de Antero de Quental que está na origem da “Questão Coimbrã”, e História da Primeira República Portuguesa, com coordenação de Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo.
Para finalizar, chegará a Portugal, pela tinta da Relógio d’Água, o livro vencedor do Booker Prize de 2021, A Promessa, do sul-africano Damon Galgut.
Se existem já perspetivas de inserir nas metas do próximo ano coisas como “ler mais”, “passear mais”, “ouvir mais música ao vivo”, um antecipar do cumprimento desses objetivos pode ser uma coisa a pensar – afinal, os meses de novembro e dezembro não servem exclusivamente para tentar atingir as notas altas da Mariah Carey.
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