O feminismo ocupa um lugar de excelência no conjunto dos temas mais discutidos na atualidade. As pessoas, sobretudo homens mais conservadores, têm uma especial afeição pela ideia de que o feminismo defende a supremacia das mulheres e a consequente opressão dos homens. Por este motivo, é importante não confundir o feminismo com o femismo. Enquanto o feminismo defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o femismo defende a superioridade das mulheres sobre os homens.
Podem achar que este artigo é mais um que se junta aos muitos outros artigos sobre este tema. Podem até achar que este tema já terá sido demasiado discutido, opinião que eu partilho. Contudo, não é por ser muito badalado que deixa de ser um tema necessário e essencial. Por todos estes motivos, resolvi escrever este artigo de uma perspetiva diferente, de uma perspetiva que acredito que vai tornar mais fácil captar a atenção masculina. Uma vez que os homens são, por natureza, seres de ação, com uma grande necessidade de demonstrar o seu poder perante tudo o que os rodeia, falemos do papel dos homens no feminismo, mais concretamente, no mundo universitário. Portanto, falemos do papel da figura masculina nos grupos feministas universitários.
Uma vez confrontados com este tema, julgo que a primeira pergunta que surge é: qual é o interesse de um homem integrar um grupo feminista? A meu ver, não há melhor resposta do que a de um integrante do FEMfdup: “Sempre tive a capacidade de ouvir os problemas e frustrações de mulheres e raparigas sobre diversos assuntos. Quando elas me contavam as experiências delas com homens e davam o seu ponto de vista sobre a situação, eu ficava sempre em choque com a diferença de reações e comportamentos que existiam numa situação, apenas por causa do género da pessoa. Também ficava muitas vezes desiludido e chateado, questionando-me como é que a nossa sociedade poderia comportar-se desta forma. Com a minha entrada na faculdade, comecei a ter um desejo de querer ajudar nesta luta, perceber qual era o meu lugar de forma a melhorar a situação das mulheres que ainda são fortemente discriminadas pela sociedade em que têm de viver, e entender melhor o que era o feminismo e todas as suas diferentes vertentes.”
Contudo, os homens não necessitam de aderir à causa feminista apenas com uma perspetiva de solidariedade para com as mulheres, porque existem vários benefícios do feminismo para os homens, que têm vindo a ser estudados e publicados em vários livros e artigos. Por um lado, o feminismo permite derrubar estereótipos, ideias antiquadas e visões desatualizadas sobre o que significa ser homem. Desta forma, ensina aos homens que é correto expressarem as suas emoções e que não precisam de esconder os seus sentimentos para poderem ter sucesso a nível económico e social. Nesta linha de pensamento, o feminismo oferece aos homens maneiras de se expressarem de forma saudável e controlada.
Além disso, o feminismo permite alcançar uma maior paz social, porque ensinar aos homens maneiras saudáveis de se expressarem, permite que eles consigam interagir melhor com a sociedade em geral e com as mulheres em específico.
Durante muito tempo, as mulheres foram vistas como seres incapazes de levarem uma vida independente das figuras masculinas que as rodeavam. Posto isto, pergunta-se: será que as mulheres dos homens na sua luta pela emancipação? Será que as mulheres dependem dos homens para que deles se tornem independentes?
Na luta feminista há e deve haver um maior destaque das mulheres,devem ter um lugar de liderança, peloque aos homens deve caber um lugar de apoio. As mulheres não estão dependentes dos homens, conseguindo organizar e liderar esta luta por si mesmas. Não obstante, é comum dizer-se que “quantos mais, melhor”, pelo que toda ajuda é bem-vinda. Quanto mais pessoas estiverem do lado da causa feminista, mais fácil é transmitir esta mensagem ao maior número de pessoas possível, e mostrar, desta forma, que o feminismo não é só uma luta pela emancipação das mulheres, mas de toda uma sociedade contra valores obsoletos e ultrapassados.
Acredito que, para uma pessoa ser independente, não está e não deve estar dependente do consentimento de ninguém. Por exemplo, um jovem, para se tornar independente dos pais, não precisa da sua autorização, uma vez que a independência provém apenas da sua própria vontade. O mesmo acontece com as mulheres, que, para serem independentes, não necessitam obrigatoriamente do consentimento dos homens. Contudo, claro que sempre se vai aceitar e promover a ajuda dos homens nesta luta, visto que não só é benéfica para eles, como ajuda a difundir, de forma mais rápida e eficaz, a mensagem que o feminismo pretende transmitir.
Fazendo uma pequena síntese de tudo aquilo que já foi dito, retiramos a ideia de que os homens são importantes para o feminismo para ajudarem as mulheres na sua luta pela igualdade de direitos. Não que as mulheres não o consigam fazer sozinhas, mas quanto mais pessoas aderirem à causa mais fácil é a difusão da mensagem.
Analisámos até agora a importância dos homens para o feminismo. Mas então, qual é que é a concreta importância de haver rapazes a integrarem grupos feministas universitários?
Ainda que não seja uma instituição muito popular, sobretudo entre os mais jovens, a escola, aliada à educação recebida em casa, contribui para a construção da nossa base de valores. Apesar de, na minha perspetiva, a escola não nos preparar para a vida (nem de perto), tenta não só instruir-nos academicamente mas também ensinar-nos a ser cidadãos corretos. E é por este motivo que existem disciplinas como a cidadania, cuja importância é muitas vezes desprezada e desvalorizada. Contudo, estas disciplinas são tão abrangentes que é impossível haver um grande foco num tema específico. Quero com isto dizer que, apesar de falarmos sobre a igualdade de género na escola, não existe, por exemplo, nenhuma disciplina dedicada única e exclusivamente ao feminismo. Assim sendo, é necessário procurar noutros locais formas de nos dedicarmos a causas como esta, e os grupos universitários são uma excelente maneira de preencher estas lacunas.
Quero com isto dizer que na escola são-nos incutidos, o mais cedo possível, valores que nos permitem , no futuro, ser bons cidadãos. Não obstante, a escola não tem tempo para se dedicar única e exclusivamente a educar os seus alunos sobre a igualdade de género e o feminismo, e é aqui que surgem os grupos universitários que, ainda que seja numa idade mais tardia, vêm transmitir ideias como o feminismo de forma a que os jovens se desenvolvam sem terem presente qualquer tipo de preconceito, o que permite que, no futuro, eles não discriminem pessoas com base no género.
As pessoas têm uma mente muito mais aberta enquanto jovens, por isso será sempre mais fácil fazê-las compreender determinada via, que neste caso vai na direção da não discriminação, que na idade adulta. Uma criança que é ensinada a respeitar as mulheres, vai crescer com essa ideia, e a sua conceção do mundo vai ter esta realidade presente. Já perante um adulto que nunca viveu num meio em que homens e mulheres são vistos de igual forma, fazê-lo mudar de ideias vai ser, sempre, mais complicado, porque não foi o mundo em que esta pessoa cresceu.
É de grande importância relembrar que o feminismo não tem apenas como objetivo alcançar a igualdade de género, mas também desconstruir conceitos desatualizados sobre o que significa ser homem e mulher. Assim sendo, é também possível incutir esta ideia desde cedo nos jovens rapazes, que podem viver livres destes estereótipos impostos pela sociedade, livres para se tornarem na melhor versão deles mesmos.
Eunice Galvão
Departamento Mundo Universitário
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