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Foto do escritorMartina Pereira

A pandemia escondida e esquecida

A 21 de janeiro, era noticiado o encerramento de todas as atividades letivas. Decorria, na altura, a época de exames na Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP). Centenas de estudantes viram a sua vida em suspenso durante largas horas, desconhecendo em que termos terminaria a fase de avaliações em curso.


O desfecho, entretanto, já é conhecido: na FDUP, as avaliações decorreram online. Não será de estranhar que, em virtude da autonomia das Universidades, a solução tenha sido muito diferente da escolhida por outros estabelecimentos de ensino superior.


Finda a época de exames, iniciou-se remotamente o 2.º semestre, de quem o Zoom parece ser amigo inseparável – pelo menos, até dia 4 de abril, assim será. Como já foi comunicado pela Universidade do Porto (UP), essa é a data até à qual, garantidamente, as aulas serão lecionadas com “recurso exclusivo a meios de ensino à distância, como previsto no Plano de Contingência da UP”.


Os impactos do novo confinamento nos estudantes universitários são variados: há quem já não esteja obrigado a apanhar um autocarro da Rede Expressos ou uma carreira de uma linha do Metro do Porto semanalmente, o anfiteatro cedeu o seu lugar ao quarto e as conversas no corredor foram substituídas por chamadas no FaceTime. E estas mudanças não estranham. De algum modo, já todos nos acostumámos ao “novo normal”, cada vez menos “novo”. Importa, ainda assim, perceber os impactos do novo confinamento nos estudantes universitários do ponto de vista psicológico: como anda a saúde mental no ensino superior, por estes dias?


Para Tiago Pereira, coordenador do gabinete de crise COVID-19 e membro da direção da Ordem dos Psicólogos, os jovens do ensino superior constituem um dos grupos mais afetados pelo novo confinamento. A conclusão tem por base a análise dos dados da Linha de Apoio Psicológico da Linha SNS 24.


De modo a oscular o impacto do confinamento e o estado da saúde mental dos estudantes da Universidade de Coimbra, a Associação Académica de Coimbra (AAC) promoveu o estudo intitulado “O Impacto do Confinamento na Academia de Coimbra”, cujas conclusões revelam uma pandemia apagada, silenciosa e altamente perigosa. De acordo com o estudo, 80% dos estudantes revelam sentimentos de angústia, frustração, ansiedade, nervosismo e depressão; um em cada cinco estudantes revela ter tido um ou mais pensamentos suicidas durante o confinamento; e sete em cada dez estudantes pensaram em desistir da faculdade, pelo menos uma vez. Só 20% teve acesso a ajuda profissional e especializada. E os restantes 80% não procuram ajuda porquê? Ora, os motivos dados a conhecer pela AAC são variados: dificuldades económicas, medo de exclusão social, vergonha, falta de coragem, desconhecimento e dificuldade em encontrar ajuda.


Efetivamente, estamos perante um caso em que os números falam por si. O novo confinamento veio, de modo geral, afetar negativamente a saúde mental dos estudantes.


Mas nem só o confinamento contribui para o deteriorar da saúde mental dos estudantes. A falta de um calendário académico que inclua tempo efetivo de descanso é também um fator a incluir nas contas da balança. A ausência de uma pausa real e universal entre o 1.º e o 2.º semestre, que não exclua alunos inscritos em recursos ou melhorias, e a fugacidade com que se sai do 2.º semestre para entrar na nova época de exames são dois fatores que contribuem para o cansaço, fadiga, exaustão e esgotamento do corpo estudantil. Nenhum ser humano pode, por muito que queira, trabalhar como uma máquina: o humano necessita de descanso, de pausas, de repouso. Caso contrário, a linha que o separa de um esgotamento ou de um burnout pode ser mais ténue do que o desejável.


Neste sentido, torna-se imperativo tentar construir calendários mais humanos e menos robóticos, na medida do que for possível, de modo a garantir que os estudantes consigam obter momentos de abstração e tempo livre para, assim, poderem fruir de atividades que lhes ofereçam estabilidade, felicidade e plenitude, seja através de mais momentos familiares, mais livros lidos ou mais minutos de música ouvidos.


É urgente alertar para os problemas dos estudantes e para a fragilidade da sua saúde mental, para que relatos como os que nos chegam da AAC não se generalizem e/ou acentuem. Ao contrário do país, hoje fechado entre quatro paredes, a saúde mental e o bem-estar psicológico são temas que devem sair à rua, devem ser discutidos e debatidos amplamente, para tantas pessoas quanto possível. E é também relevante que os estudantes saibam que, qualquer que seja a situação que ultrapassam, existirá sempre alguém disponível para os ouvir.



Linhas de Apoio e de Prevenção do Suicídio em Portugal

Todas estas linhas são de duplo anonimato — garantido tanto a quem liga como a quem atende. Para encaminhamento, a linha do SNS24 (808 24 24 24) é assumida por profissionais de saúde.

LINHA DE APOIO PSICOLÓGICO DA U.PORTO

220 408 408: 19h00 > 23h00 (domingo a sexta-feira)


SOS Estudante (da secção cultural da Associação Académica de Coimbra​)

Neste momento, atua via Zoom, através do ID: 86499283163, entre as 22h e 1h.​

SOS Voz Amiga

Lisboa

Das 16h às 24h: 213 544 545 - 912 802 669 - 963 524 660

Linha Verde gratuita - 800 209 899 (Entre as 21h e as 24h)

Conversa Amiga

Inatel

Das 15h às 22h: 808 237 327 - 210 027 159

Vozes Amigas de Esperança de Portugal

Voades-Portugal

Das 16h às 22h: 222 030 707

Telefone da Amizade

Porto - Desde 1982

Das 16h às 23h: 228 323 535

Voz de Apoio

Porto

Das 21h às 24h: 225 506 070


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