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Foto do escritorJosefa Maria Mané

Época de Exames em Tempos de Pandemia

A época de exames do primeiro semestre, na FDUP, como é habitual, estendeu-se durante o mês de janeiro e, para alguns, até ao início de fevereiro. No entanto, esteve bastante longe de se enquadrar nos padrões da habitualidade, como seria de esperar numa época de exames presencial realizada durante o pico da pandemia.


Corria o mês de dezembro e já se discutiam os moldes em que decorreria a época de exames do primeiro semestre. Entre professores e alunos, poucos não eram os que duvidavam da possibilidade de se concretizar esta época de exames presencialmente e em segurança, dado o contexto pandémico. Pelo contrário, as diretrizes da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) eram no sentido da adoção de um modelo de avaliação presencial.


As adversidades eram óbvias e várias questões emergiam: Como é que os estudantes infetados ou em isolamento poderão realizar os exames? E os estudantes que fazem parte dos grupos de risco? Como é que serão assegurados o distanciamento e o cumprimento de todas as normas sanitárias?


Respostas a tais questões surgiram no dia 23 de dezembro, dia em que a Direção da FDUP, através de um comunicado por e-mail, veio dar a conhecer que o cumprimento das regras de saúde pública passaria pelo “uso de máscara, o distanciamento entre pessoas (nomeadamente no momento de entrega das respostas aos exames) e [cumprimento das] regras de etiqueta respiratória”.


Além disso, dever-se-ia “realizar o arejamento dos espaços de realização dos exames, independentemente das condições meteorológicas”.


Estipulou-se que a duração das provas não deveria ultrapassar as 2 horas e que as salas de exames seriam abertas 20 minutos antes da hora do exame, para que os estudantes pudessem entrar e acomodar-se sem que existissem aglomerações de pessoas.

Por fim, ressalvou-se a urgência de “evitar em todo o momento aglomeração de pessoas”.


Quanto aos estudantes em isolamento por força da COVID-19, ser-lhes-ia assegurada a realização dos exames, quer na época de recurso – no caso das unidades curriculares semestrais - ou, nos exames em que tal não fosse possível, ser-lhes-ia fixada uma nova data.


Com o cumprimento cabal destas normas e com a imprescindível colaboração de todos os estudantes, idealmente, a época de exames teria decorrido sem complicações. No entanto, quando se situa na casa das centenas o número de alunos que se deslocavam diariamente às instalações da FDUP – cuja capacidade para arcar um tamanho número de alunos durante uma pandemia é questionável –, a realidade acabou por ser completamente diferente.


Ao longo da época de exames, o distanciamento físico entre alunos não ocorreu: observaram-se ajuntamentos constantes à entrada e à saída dos exames. Na maioria das salas onde os exames eram realizados, distribuíam-se cerca de oitenta alunos por sala, sendo que a distância entre as mesas era bastante reduzida.


Face a isto, nas redes sociais, correu uma fotografia de uma sala de exame na FDUP, onde se acentuava a proximidade das mesas. Comentários como “uma vergonha”, vocês querem que nós morramos?, entre outros, faziam-se acompanhar das respetivas publicações.


Em alguns exames, por descuido dos responsáveis, o arejamento das salas não terá sido garantido. Nas situações em que o foi, devido à vaga de frio que se fez sentir por todo o território continental, surgiram algumas queixas relacionadas com frio e correntes de ar, bem como repercussões no estado de saúde de alguns alunos. Marco Moreira, estudante do 2º ano da licenciatura em Direito confessa: “fiquei doente por causa das janelas abertas e do frio que circulava. Obrigou-me a estudar para o segundo exame com febre e dores de garganta e, no dia do exame, ainda tive de ir ao médico, porque não conseguia comer nem beber. Senti-me como que obrigado a escolher entre a minha saúde e a minha educação”.


Tudo isto sucedia à medida que os números da COVID-19 em Portugal aumentavam drasticamente. A cada dia que passava, um novo máximo diário de novos casos de infeção e de mortes se atingia – a título de exemplo, no dia 20 de janeiro registaram-se 14.647 novos casos de infeção e 291 óbitos. Portugal tornara-se o pior país do mundo, no que toca às taxas de infeção e de mortalidade.


A insegurança parecia acompanhar o crescimento do número de casos e, por conseguinte, começava a denotar-se um claro descontentamento entre os estudantes. Valeria a pena correr o risco de contrair o vírus para realizar um exame?


Inês Torres, estudante do 2º ano da licenciatura em Direito expressa esse mesmo descontentamento: “durante uma época de exames que já desafia a estabilidade mental de qualquer aluno, uma pandemia mundial certamente não ajudou. Adicionalmente, o facto de a própria Faculdade não seguir as regras de segurança, sendo que as salas de exame não tinham qualquer tipo de distanciamento, apenas contribui para este sentimento de ansiedade presente entre os alunos. Certamente, é uma época de exames que ficará na mente de todos nós, mas pelos piores motivos”.


Apesar do confinamento geral que se iniciou no dia 15 de janeiro, o Governo afastou, tanto quanto pôde, o fecho de creches, escolas e universidades. Por isso mesmo, o regime de avaliação presencial não cessou. Só uma semana mais tarde, no dia 22 de janeiro, face ao aumento “particularmente dramático” de casos de infeção e mortes que se continuava a verificar, o Governo anunciou o encerramento de todo o sistema de ensino.


Deste modo, o modelo presencial de avaliação foi interrompido. É sabido que a Faculdade tinha já preparado de antemão um modelo alternativo de avaliação, pelo que a transição para o regime telemático ocorreu sem grandes complicações. Além disso, a grande maioria dos estudantes já se encontrava familiarizada com este modelo de avaliação desde a época de exames do segundo semestre do ano letivo anterior.


No que respeita aos alunos que se encontravam em isolamento durante a época de exames, foi, efetivamente, assegurada a realização dos exames numa ocasião posterior. Sofia Ferreira, estudante do 2º ano da licenciatura em Direito, considera que, no que toca a essa situação, “a Faculdade resolveu as coisas de maneira competente e rápida”. Adianta, “no meu caso, contactei a Faculdade a 19 de janeiro a informar da minha situação de isolamento. Obtive resposta logo no dia seguinte a dizer que seria contactada o mais rapidamente possível para remarcação do exame a que eu não iria comparecer, Direito Penal. No dia 22, enviaram-me um e-mail com a data e hora do exame (que se realizou a 3 de fevereiro) e já com o respetivo link do Zoom”.


Outra estudante do 2º ano da licenciatura em Direito, que prefere não ser identificada, tem uma opinião contrária quanto à atuação dos serviços académicos da Faculdade: “Estive em isolamento profilático de 14 de janeiro a 28 de janeiro. Faltei ao exame de Teoria Geral do Direito Civil e de Direito Penal, que me foram reagendados. No geral, os serviços académicos foram muito incompetentes, no que diz respeito a ajudar minimamente os alunos nestas situações específicas. Eles não são os melhores”.


Em jeito de conclusão, cumpre realçar o esforço contínuo por parte da Faculdade no sentido de envidar todos os esforços necessários ao cumprimento das diretrizes da DGS e permanente reforço e reiteração das medidas adotadas. No entanto, todos os esforços são poucos perante uma situação de tamanha delicadeza, pelo que a única solução que se mostrou eficaz foi a adoção do regime de aulas à distância.




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