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Foto do escritorAndré Góis

A sucessão liberal

João Cotrim de Figueiredo apresentou, no passado dia 23 de outubro, a demissão da presidência da Iniciativa Liberal, assim como a não recandidatura. Por enquanto, os candidatos às rédeas da IL são o deputado Rui Rocha e a deputada Carla Castro. As eleições decorrerão nos dias 21 e 22 de janeiro.


Rui Rocha e Carla Castro, deputados da IL e candidatos à liderança do partido @Global Imagens

O anúncio por parte do ainda presidente da Iniciativa Liberal apanhou o mundo político de surpresa, visto que Cotrim de Figueiredo era visto como um dos líderes mais consensuais no panorama nacional.


A demissão do presidente liberal foi inesperada; de facto, o deputado rompeu com a prática instituída na vida política nacional. Os portugueses estão habituados a ver as mesmas caras durante anos ou até décadas. Assim, a aura de desapego que paira no partido liberal é uma energia renovadora. Se atentarmos aos quadros do partido, percebemos rapidamente que estes não são “políticos de carreira”. Nomes como Carla Castro, Carlos Guimarães Pinto e Tiago Mayan Gonçalves eram desconhecidos do grande público há 3 anos, apesar do destaque académico e profissional.


Em contrapartida, as justificações apresentadas pelo líder dos liberais geraram alguma polémica, assim como a forma como este divulgou, imediatamente, o seu apoio à candidatura de Rui Rocha. João Cotrim de Figueiredo afirma que a sua saída deve-se à sincronização de mandatos, à diferente postura que o partido deve adotar (uma postura mais combativa e popular), e ao facto de, nas próximas legislativas, este ter 65 anos, sete na presidência da IL, algo que o próprio não considera saudável na vida política e democrática.


Rápido no anúncio da candidatura, Rui Rocha apresenta-se como o candidato da continuidade, assumindo o legado de João Cotrim de Figueiredo. Candidatando-se com o mote “Liberalismo para Todos”, nas palavras do minhoto, a candidatura apresenta dois objetivos capitais: “continuar o atual sucesso da IL e popularizar o Liberalismo pelo país”. Além do mais, Rui Rocha resgata uma das justificações de Cotrim para a sua saída, assegurando que a oposição a Costa será “feroz e combativa”, com olho na expansão da Iniciativa Liberal para o interior do país, visto que o partido é reconhecidamente um partido urbano.


Por outro prisma, Carla Castro é vista como a candidata da rutura, podendo agregar alguns descontentes da direção de Cotrim, nomeadamente os mais conservadores. Apesar de não ter havido entendimentos entre a lista da deputada e a Lista B, encabeçada por Nuno Simões de Melo (que se candidata ao Conselho Nacional), os mais conservadores ainda não apresentaram lista própria à Comissão Executiva e, se não o fizerem, o seu apoio tenderá para a deputada. Carla Castro concorre com o lema “Crescimento e Mobilidade Social”, afirmando que “há uma continuidade nos valores, há uma rutura na forma de gerir o partido”, defendendo uma direção mais pequena e um partido mais aberto.


Efetivamente, a nível de apoios, Rui Rocha dispõe do suporte de grande parte do grupo parlamentar. Na verdade, além do apoio do ainda presidente da Iniciativa Liberal, o candidato possui ainda a concordância de Bernardo Blanco, Patricia Gilvaz e Joana Cordeiro. Por outro lado, Carla Castro, apesar da preferência exteriorizada por Tiago Mayan Gonçalves e Miguel Ferreira da Silva, dependerá de forma substancial das bases do partido para tomar o leme dos liberais. Subsequentemente, Carlos Guimarães Pinto, deputado e antigo dirigente da Iniciativa Liberal, revelou que continuará “a posição de afastamento da vida interna do partido”, não apoiando nenhum candidato, mas revelando que o partido está bem entregue tanto a Rui Rocha como a Carla Castro: “ambos têm capacidade para manter aquilo que é a identidade do partido e acredito que irão manter a identidade do partido”.


As próximas eleições legislativas ainda estão distantes, porém é inegável que o partido liberal terá um papel importantíssimo para a direita. A verdade é que a maioria absoluta do Partido Socialista está a ser pautada por vários casos polémicos, pelo que a inflação e a subsequente perda de poder de compra dos portugueses pode levar a que o povo vire à direita. Não entrando no terreno da futurologia, é provável que o PSD de Montenegro suba nas sondagens, mas a hipótese de uma maioria absoluta do Partido Social Democrata é remota. Neste cenário, os liberais terão um papel importantíssimo na formação de governo. Tanto Carla Castro como Rui Rocha já declararam que o CHEGA é uma linha vermelha, portanto as eleições no seio do partido liberal poderão ser decisivas para o futuro da direita e para o futuro do país, dado que o próximo presidente da IL terá de ter a capacidade de penetrar no eleitorado do interior e desmarcar-se do elitismo a que o partido é associado.


Nos últimos dias, saíram várias notícias relatando uma guerra interna no partido. Não negando que poderão haver divisões no partido e até cisões, o facto de existir mais do que um candidato à liderança apenas poderá ser positivo, demonstrando que há vontade de trabalhar. Assim, as eleições no partido liberal representam o crescimento de um partido que se propõe a ser grande.



André Góis

Sociedade


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