O recente debate em torno da implementação da semana de trabalho de quatro dias suscitou o interesse de adoção deste novo modelo no Ensino Superior. Neste seguimento, a Federação Académica do Porto propôs um projeto-piloto de testagem da semana letiva de quatro dias, a ser adotado, voluntariamente, pelas Universidades, já no próximo ano letivo de 2023/2024, abrangendo os 2º, 3º ou 4º anos das Licenciaturas e Mestrados Integrados.
No documento proposto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a FAP apresenta a excessiva carga horária e a necessidade de inovação pedagógica como principais motivos que justificam a pertinência da testagem da semana letiva de quatro dias.
Num estudo elaborado pelo ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) em 2019, Portugal era um dos países europeus com maior carga horária em sala de aula, rondando uma média de 21 horas de aulas semanais, contrastando com demais países europeus como a Bélgica, França e Países Baixos, que apresentavam uma média de 16 a 18 horas.
Como resultado desta sobrecarga letiva surgem dificuldades de gestão do tempo que contribuem para o menor envolvimento dos estudantes em atividades extra curriculares e desportivas. De igual modo, tem-se assistido a um aumento de situações de burnout na comunidade estudantil, motivadas pelo incremento da ansiedade e exaustão. Por outro lado, a baixa percentagem de trabalhadores-estudantes em Portugal (de acordo com a Eurostat, em 2021 a percentagem de trabalhadores-estudantes portugueses era de 10%) está intimamente relacionada com este fenómeno bem como a pouca recetividade das instituições de ensino aos trabalhadores-estudantes, tal como apontado por João Caramelo, investigador no CIIE (Centro de Investigação e Intervenção Educativas) e professor na FPCEUP (Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto). “Num contexto em que as próprias faculdades estão muito pressionadas com os resultados e com a eficiência do trabalho formativo que desenvolvem”, alguns professores encaram os trabalhadores-estudantes como um “atrito” na medida em que consideram que estes irão precisar de “mais apoio”.
Doutro ponto de vista, a passagem do tempo parece não ter afetado o método de lecionação nas Universidades portuguesas já que continua a existir uma clara preferência pelo antigo modelo de ensino essencialmente expositivo e unilateral, com reduzida participação dos estudantes. Por este motivo, a FAP entende que a redução da carga horária letiva promoverá uma importante inovação pedagógica na medida em que o tempo em sala de aula será obrigatoriamente melhor aproveitado pelos professores.
Além disso, acredita-se que a semana letiva de quatro dias garantirá maior participação do pessoal docente em ações formativas que permitam desenvolver uma nova cultura pedagógica.
É indubitável que alguns desafios atuais colocam em evidência a indispensabilidade da modernização do modelo de ensino nas Universidades portuguesas. Por este motivo, na medida em que se pretende um Ensino Superior competitivo e próximo da realidade europeia, é imprescindível que as faculdades estejam disponíveis a [pelo menos] aderir à testagem do projeto-piloto proposto. O progresso é impossível sem mudança.
Para melhor entendimento da proposta apresentada pela FAP, recomenda-se a todos os estudantes a leitura do respetivo documento (semana_de_4_dias_fap_1.pdf).
Benedita Amaral
Departamento Mundo Universitário
Comentários