Vandalização de obras de arte, ataques a ministros e empresários e bloqueios nas estradas: é assim que os “novos” ativistas lutam pela agilização da transição climática, pretendendo forçar a mão dos governantes. Na verdade, é inquestionável que urge colocar em marcha políticas que contribuam para a célere e necessária transição climática. Porém, será esta a forma ética e eficiente de pressionar quem efetivamente decide?
Bem, pela descrição supra efetuada o leitor facilmente deduz que os meios adotados pelos militantes do clima são contraproducentes, levando a opinião pública a tomar o lado dos atacados. Quem não simpatizou com Duarte Cordeiro quando este foi atingido com tinta? Quem não recriminou os atos das jovens que alvejaram os “Girassóis” de Van Gogh com sopa de tomate? Quem não tomou as dores das milhares de pessoas que se viram presas no trânsito na sequência do bloqueio da Segunda Circular?
Corria o ano de 2018 quando uma jovem sueca começou a faltar às aulas às sextas-feiras com o intuito de chamar a atenção para as alterações climáticas. Com efeito, os protestos desta jovem (o leitor já deverá ter identificado o seu nome) valeram-lhe desde 2018 várias nomeações para o Prémio Nobel da Paz. Os comportamentos de desobediência da jovem foram escalando, levando a múltiplas detenções. Discordando de muitas das ações protagonizadas por Greta Thunberg, é impossível negar que o seu grito ecoou um pouco por todo o mundo. A luta injusta de alguém que singularmente faz frente a empresas multimilionárias e a governos pouco motivados e controlados por lobbies, uma verdadeira história de David e Golias da modernidade. O certo é que a moda pegou e milhares de jovens um pouco por todo globo trocaram os protestos pacíficos por crimes de desobediência e o discurso construtivo por polémicas.
Além do mais, os jovens que protagonizam estas ações de desordem estão manifestamente pouco preparados com soluções realistas e atingíveis no curto prazo. Na verdade, não é preciso ser nenhum génio para perceber que depois de atirar tinta a um ministro os órgãos de comunicação social vão imediatamente apontar uma câmara e um microfone aos protagonistas de tal ação. Para já, as experiências que temos tido a nível nacional são de entrevistas despreparadas com pedidos irrisórios.
Nesta senda, a demonização das grandes corporações petrolíferas, apesar de simples e verdadeira, é inútil, visto que sem a ação e o auxílio das mesmas muito dificilmente se fará a tão ansiada transição energética. Por outro lado, não existe um governo ou empresa que aprecie uma multidão a protestar, de forma pacífica, as suas ações. Quer seja por motivos de reeleição quer seja por razões de lucro, poucas reações como o aglomerado de multidões parecem motivar os big players a tomarem decisões. Efetivamente, e por mais superficial que seja, a imagem pública vale milhões, e francamente os ativistas, apesar de motivados por uma causa nobre, estão a perder esta guerra.
Os jovens assumem um papel primordial na transição energética, isto parece um facto assente. Efetivamente, nenhum outro estrato da população será tão afetado pelos comportamentos irresponsáveis de indústrias e administrações públicas. A forma como a luta será feita parece ainda estar por definir, espero, sinceramente, que terminemos no lado correto da História. Neste sentido, cabe prezar por aqueles que inconformados com o estado das coisas, utilizam meios dignos para manifestar o seu desagrado.
Dito isto, é de louvar os jovens portugueses que apresentaram em Estrasburgo, no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, um processo contra 32 Estados por inação climática. Efetivamente, aqui, Portugal vai estar sentado no banco dos réus. Resta perguntar: Que ação terá mais impacto, atingir Medina com tinta (ainda que seja bastante divertido) ou levar Portugal ao mais alto Tribunal Europeu? Para mim, enquanto jovem, a resposta é bastante intuitiva, espero que os meus pares, especialmente aqueles mais motivados nestas questões, constatem o mesmo. Será mais prazeroso e eficaz observar Duarte Cordeiro explicar ao povo português o porquê de Portugal ter sido condenado pela superior instância europeia pela sua inação do que ver o mesmo colorido a verde.
De facto, está na altura dos ativistas serem menos verdes e amadurecerem, sendo mais inteligentes na forma como protestam. A batalha contra as alterações climáticas não se deve tornar num espetáculo de populismo, perdendo-se completamente o cerne da questão, debatendo-se incessantemente a forma, e não o conteúdo. Estaremos do lado certo da História.
André Góis
Departamento Fazer Pensar
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