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  • Foto do escritorAna Picado

A vida em Brno

Atualizado: 2 de mai.

O sonho da experiência internacional


O sonho de fazer Erasmus já existia muito antes do Direito, e por isso prevaleceu sobre quaisquer dúvidas. Durante alguns meses questionei a possibilidade de fazer uma mobilidade internacional durante uma Licenciatura em Direito, muito em prol do facto de não o encontrar nos currículos das pessoas que admirava no mundo do Direito e também porque toda a gente dizia que era complicado, e que Direito é para ser feito em Portugal. 


Da Licenciatura queria sair mais do que uma simples jurista, queria sair uma pessoa com sonhos, experiências e horizontes mais largos. De que é que me servia ter mudado de cidade para, ao fim de 4 anos, sair a mesma pessoa, mas apenas com uma cartola vermelha?


Não tendo uma grande preferência pelo sítio, acabei por ir parar a uma cidade completamente desconhecida para mim na altura – Brno na República Checa. Podia dizer que foi um completo acaso mas estaria a mentir. A decisão de escolher Brno acabou por ser muito influenciada por estudantes mais velhos que me falaram de um sítio incrível em que tiveram a melhor experiência das suas vidas, e onde se sentiram acolhidos pela aura de uma cidade estudantil.


Deixando de lado toda a parte burocrática, e o facto de ser um processo extremamente solitário no que diz respeito às ansiedades normais de arranjar casa e equivalências, decidi não pesquisar nada sobre a cidade para que tudo fosse novo.


A vida em Brno


Os primeiros dias foram extremamente intensos visto que caímos todos de paraquedas numa semana totalmente preparada para a nossa receção. Desde jantares internacionais, a pub crawls e passando, ainda, por noites de karaoke, seria impossível não conhecer pessoas novas. A maioria das pessoas está completamente aberta à novidade e vive-se algo que apenas é possível quando nos colocamos numa situação tão desconfortável.


A vida na residência universitária era tudo o que se poderia imaginar – um ambiente de camaradagem aliado à estranheza da partilha de quarto com uma pessoa totalmente desconhecida. A escolha de colega de quarto é uma verdadeira lotaria, mas a mim calhou-me uma verdadeira amiga que passou a ser parte do elenco de todas as aventuras que teríamos ao longo do semestre. Todo o período de adaptabilidade torna-se menos penoso quando se tem pessoas para partilhar e rir de todas as peripécias.


Ao longo do semestre fomos ocupando os nossos dias (e noites) com passeios pelos parques da cidade, idas ao Ballet e à Ópera, conversas sem fim nos famosos pubs, lanches no Fancy Fries, jantares no Bistro Bastardo e cantorias no karaoke. No mês de dezembro tivemos a surpresa de viver numa cidade coberta de neve, e para pessoas do Sul não houve coisa mais fascinante. Durante estas últimas semanas a cidade fica também repleta de mercados de natal onde se encontra de tudo: desde decorações de natal aos doces mais típicos para aquecer os dias mais frios. A curiosidade natalícia acabou por nos levar a conhecer outros mercados de natal na Europa como o de Viena e o de Praga que acabaram por exceder qualquer expectativa, ficando para sempre na nossa memória.


Um dos pontos altos de Brno é, também, a sua excelente localização, o que acabou por nos levar a cidades como Viena, Bratislava, Budapeste, Cracóvia, Varsóvia e Praga. No entanto, não queríamos deixar de conhecer cidades mais pequenas que transmitiam, de uma forma mais local, a cultura checa, como Olomouc, Ostrava e Mikoluv.


O contexto académico na Masaryk University


Desde o momento em que me encontrava no Porto a escolher as unidades curriculares que queria fazer no meu semestre de mobilidade percebi o privilégio que iria ter, dado que me deparei com uma lista extensa de possibilidades (algo a que não estamos habituados na Faculdade de Direito da Universidade do Porto). A Masaryk University preza muito pela sua internacionalização, e isso nota-se tanto na receção que faz aos seus estudantes internacionais, mas também na forma como investe num corpo docente internacional cujos currículos permitem garantir uma oferta formativa completa e diversa.


Um outro ponto acerca da vida académica em Brno prende-se com a forma como estes constroem as aulas e os momentos de avaliação. Afastando-se um pouco do estilo de lectures, as aulas eram marcadas por uma vertente prática e dinâmica, sempre muito ligada ao debate e à discussão. Ao mesmo tempo que estava a desenvolver conhecimentos em áreas de Direito Internacional e Europeu, consegui, também, desenvolver o meu inglês jurídico dado que éramos convidados a efetuar várias apresentações orais, simulações de julgamento e debates.


Tive o privilégio de fazer unidades curriculares como Human Rights in Europe, The Law and Practice of International Organizations e EU Environmental Law com professores que têm experiência em Agências da Organização das Nações Unidas e  Comissão Europeia,  que acabavam por trazer uma componente extremamente prática para a sala de aula.


O período de mobilidade internacional é marcado por uma intensidade que aumenta todas as emoções que sentimos. A aura que se sentia em Brno era de ansiedade pelo novo e isso levava as pessoas a largarem-se das suas normais amarras do quotidiano. Acaba por ser estranho que toda esta vontade de querer viver a vida ao máximo depois desapareça para muitos no voo de regresso. 


Um agradecimento eterno à Aitana, à Rita e ao Pedro.


A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver - José Saramago em “Deste Mundo e do Outro”


Ana Picado

Espaço Erasmus

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