Bruna Costa, a menina-mulher de 22 anos que do Porto para o mundo e com a arte ao peito faz as delícias de todos aqueles que têm a honra de a ouvir! Fiquem connosco para mais uma leitura!
1- Olá Bruna! Antes de mais queres contar-nos sobre o momento em que soubeste que o teu caminho passava pelas artes performativas, mais propriamente a representação e o canto?
Olá! Então, eu acho que lá no fundo a Bruna pequenina já sabia muito bem o que queria. Pelo que os meus pais me contam eu sempre disse que queria ter três trabalhos - veterinária, atriz e cantora. Dizia-lhes que ia ao consultório de manhã, gravava as novelas e os filmes à tarde e à noite ia dar concertos. Entretanto, fui sempre cantando e fazendo teatro conforme fui crescendo, mas acabei mesmo por ir para um curso de Ciências no 10.º ano, com o objectivo de seguir a Medicina lá mais para a frente. Este foi o momento decisivo em que percebi que realmente eu queria mesmo era seguir o que o meu coração e o meu eu pequenino me dizia: queria seguir o meu sonho de ser artista! E acabei então por sair do curso e ir estudar Teatro para a ACE, no Porto.
2- Sentes que ainda existe algum estigma face às pessoas que decidem enveredar pelo caminho das artes? Quão saturado, se é que está, pensas que está o mercado cultural em Portugal?
Completamente, respondendo à primeira pergunta. No momento em que eu decidi trocar de curso foram inúmeras as pessoas que me abordaram como se eu estivesse a tomar uma decisão descabida. Sempre fui boa aluna então foi muito chocante para algumas pessoas eu desistir do curso “regular” com média de 18 para me ir enfiar na escola de artes. Mesmo dentro da própria área sinto que esse estigma existe. Há montes de miúdos que querem seguir um caminho artístico e acabam por não o fazer, ou por fazê-lo como uma segunda alternativa ou de forma amadora porque os pais, os professores, as pessoas a volta deles e até mesmo eles próprios acabam por acreditar que seguir um curso artístico é enveredar por um beco sem saída. Falando da tua segunda questão, acredito plenamente que o mercado cultural está saturado no sentido em que as oportunidades de trabalho são, infelizmente, muito apontadas às mesmas pessoas. Não sinto que haja falta de trabalho, muito embora sejamos um país relativamente pequenino a nível cultural comparativamente com, por exemplo, outros países europeus ou os EUA, mas sim falta de abertura nas oportunidades para o mesmo. As caras que vemos nos grandes ecrãs são maioritariamente sempre as mesmas, é muito difícil conseguir castings para cinema e televisão. Mesmo no teatro é complicado chegar a alguns projectos, sendo essa a razão para existirem tantas companhias e artistas independentes. Quando digo que Portugal é pequenino é no sentido de que é dada pouquíssima importância à cultura no nosso país pelas pessoas que deveriam preservá-la e querer que ela cresça.
3- Sentes que o teu caminho passa por cá, ou o futuro está além fronteiras?
Engraçado perguntares isso neste momento da minha vida em que acabo de embarcar para cantar num cruzeiro pelo mediterrâneo nos próximos 5 meses. Desde criança sempre tive curiosidade e vontade de me testar fora de Portugal. Há sempre aquele argumento um pouco patriota de querer dar a nossa cultura ao sítio de onde somos…. Eu adoro Portugal e uma parte de mim queria muito que fosse possível atingir todos os meus objectivos nele, mas infelizmente sinto que o meu país não me dá totalmente aquilo que eu lhe quero dar de volta. Como já disse, o desconhecido provoca-me muita curiosidade e sinto que tenho que estar sempre disposta a espreitar as várias portas que se forem abrindo para mim. Se vou ou se fico, se vou e volto…acho que só futuro o dirá!
4- O que recomendas para todos aqueles que gostavam de arriscar neste mundo tão mágico, mas que não sabem por onde começar? Ensino articulado, curso profissional pós terceiro ciclo?
Se querem mesmo isto, invistam na formação! Seja de que forma for. Na minha perspectiva, o curso profissional ou o curso superior são a melhor opção para quem quer seguir a área, mas acho que depende também da especialização que cada pessoa quer seguir. No meu caso, a formação no curso profissional foi essencial porque me abriu os olhos a muita coisa, fez-me conhecer vários mundos, caminhos, que mais tarde me permitiram, e ainda permitem, ir fazendo as várias escolhas que me têm levado a várias oportunidades. Mas, cada caso é um caso, e nesse sentido aconselho sempre a que falem com o máximo de pessoas da área que possam apresentar-nos diferentes perspectivas e possibilidades.
5- Como foi a tua experiência na ACE Porto?
Os três anos na ACE foram fundamentais para o meu desenvolvimento profissional. Como referi em cima, consegui percecionar o mundo artístico de uma forma completamente diferente da que tinha quando entrei, uma vez que me foram apresentadas diversas possibilidades dentro das várias áreas das artes do espetáculo. Penso que a coisa mais importante que levo da ACE, além desse desenvolvimento profissional, é o meu desenvolvimento pessoal, já que estes três anos foram fundamentais para a minha formação enquanto jovem adulta, agora profissional da área, no sentido de me fazer perceber melhor quem sou (pelo menos neste momento), quem fui, quem quero ser e o que quero fazer.
6- De todas as artes em que estás envolvida qual é a que mais te fascina? Dobragem, representação, música?
Eu costumo pensar sempre que sou uma fascinada por natureza. Principalmente em relação às artes, é muito difícil para mim escolher uma que esteja em primeiro lugar. O teatro foi a minha primeira casa e é o sítio onde eu quero sempre voltar. O cinema é outra arte que me fascina imenso e que ainda não tive oportunidade de explorar tanto quanto gostaria e espero poder fazê-lo. As dobragens são algo mais recente na minha vida profissional, mas que me têm dado um gozo enorme fazer. E depois temos a música, que foi algo que sempre esteve presente e que se tem tornado cada vez mais no meu maior amor.
7- Como surgiu o convite para passares a fazer dobragens com a Netflix? Quem é a Lady K de Karma’s World?
Eu comecei a trabalhar com a Somnorte em meados de 2020, para a dobragem de um videojogo. Entretanto eles ficaram com o registo da minha voz e vão enviando os vários actores em portfólio para os castings de séries, filmes, etc. No caso, a diretora de casting da Karma’s World achou que a minha voz encaixava nesta personagem. A Lady K é uma mulher irreverente, que domina a arte da música, especificamente do Rap/Hip-Hop, e que decide ser uma espécie de mentora para a pequena Karma, que tem o sonho de fazer música. Foi muito divertido gravar a série e aconselho a todos, miúdos e graúdos, que a vejam porque tem uma mensagem muito importante relativamente aos sonhos e ao trabalho artístico.
8- O que dirias à Bruna de há 10 anos atrás e o que esperas da Bruna do futuro?
À Bruna de 10 anos diria para largar o skate e a ideia da medicina mais cedo e começar logo a dedicar-se ao que sempre sonhou. Apesar de não me arrepender de nenhuma escolha que tomei até hoje, gostava de ter investido na minha formação um pouco antes do que o que fiz. Dir-lhe-ia também que está num bom caminho e que com calma e perseverança os objetivos vão sendo alcançados.
Da Bruna do futuro espero muitas histórias para contar. Sejam elas de pequenas ou grandes conquistas, obstáculos e percalços, objetivos alcançados, sonhos que ainda tenha, viagens feitas, grandes histórias de amor, memórias inesquecíveis. Espero que ela tenha feito tudo aquilo que eu agora pretendo um dia fazer. E espero sobretudo que ela continue a nunca se arrepender de nada e que tenha vivido sempre tudo ao máximo.
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