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Foto do escritorAndré Mota

As Tunas e o que elas representam para o mundo académico

DEDICATÓRIA: este artigo é dedicado às mui nobres Tunas da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, a TAFDUP e a Legislatuna, pela sua irrefutável excelência e pela verdadeira casa que representam  para tantos estudantes.


Vários são os grupos que compõem o vastíssimo oceano do academismo, sem dúvida. Vários são, também, aqueles que levam os estudantes a envergarem, com orgulho, o tão reconhecido traje académico. É desta categoria que emergem e sobressaem as Tunas, que reúnem, nas faculdades em que são criadas, um sem-número de jovens que partilham a vontade de, através da música, dar vida e trazer alegria aos sítios por onde passam, enquanto proporcionam, a si mesmos, experiências que nunca hão-de esquecer.


Uma Tuna é um grupo académico musical que pode ser facilmente encontrado por qualquer estudante universitário no momento em que entra na sua faculdade. Pode ser composta por estudantes do sexo masculino, estudantes do sexo feminino, ou até mesmo por ambos. As Tunas não passam despercebidas, e é muito fácil reconhecer quando estamos na sua presença. Basta andarmos na rua e avistarmos várias pessoas vestidas de preto, a caminhar em direção a algum sítio com instrumentos nas mãos, para que seja possível concluir que encontramos uma Tuna. 


A origem das Tunas é puramente ibérica, reconduzindo-se à nossa vizinha Espanha. A tradição acaba por ser introduzida no território português após a passagem da Estudantina de Santiago de Compostela por Coimbra – que, como sabemos, é a cidade onde foi criada a primeira Universidade portuguesa. Nessa altura, a atividade musical assumia grande relevo para os estudantes coimbrenses, pelo que, juntos, procederam à criação e institucionalização da mais antiga Tuna portuguesa – a atual Tuna Académica da Universidade de Coimbra (TAUC), fundada no ano de 1888. A partir dessa data, o vento que espalhava o fenómeno das Tunas Académicas e Universitárias, verdadeiramente, foi soprando para todos os cantos do país onde se encontravam estudantes, tornando-as das mais antigas e mais importantes tradições no mundo académico português.



A nível musical, as atuações das Tunas são puramente acústicas, sendo possível, nas suas formações, identificar instrumentos como guitarras, bandolins, cavaquinhos, acordeões, contrabaixos e alguma percussão. É aqui que está a sua magia, pois através da simplicidade destes elementos, conjugada com as vozes despidas e sinceras que cantam em uníssono, conseguem criar um espetáculo melódico capaz de arrepiar, comover, ou fazer dançar o ouvinte. Igualmente, a nível visual, as Tunas são algo maravilhoso de experienciar, pois, além da qualidade musical, combinam o ritmo e a energia das coreografias feitas com pandeiretas, bem como o movimento hipnotizante dos estandartes. Assim, não há qualquer sensação que as Tunas não consigam proporcionar. O seu repertório é capaz de cobrir desde os ritmos latinos mais eufóricos e mexidos, até à doçura e intimidade das belas serenatas cantadas ao luar.




Enquanto membro de uma Tuna – a Tuna Académica da Faculdade de Direito da Universidade do Porto -, não me é difícil reconhecer o quanto uma Tuna é capaz de acrescentar à sua faculdade e, mais ainda, à comunidade estudantil da sua região. Desde logo, é muito difícil – para não dizer, mesmo, impossível – que alguém não se deixe contagiar pelo espírito tão característico que move os seus membros. As Tunas vivem à base da alegria e da boa-disposição, alimentando-se de um desejo de difundir essa energia por onde quer que passem. Não é, por isso, descabido que os festivais e convívios de Tunas  organizados um pouco por todo o país se tornem, assim, eventos bastante apreciados e, mesmo, aguardados por um sem número de pessoas. É nestes festivais que é posto à prova o talento destes jovens, num ambiente que lhes permite trazer diversão tanto a eles como àqueles que os vão assistir, ao mesmo tempo que se deslocam a vários sítios em representação da faculdade e da cidade de onde vêm.




Mas que não se pense, por um segundo, que o conceito de Tuna apenas contempla uma vida boémia, que é vivida apenas a tocar músicas, sem qualquer tipo de preocupações. Não. Estar numa Tuna é muito mais do que isso. Quem entra numa Tuna, também pode contar com um enorme crescimento, do ponto de vista das suas capacidades. As Tunas são capazes de formar, nos seus elementos, uma ótima ética de trabalho, melhor do que a podem adquirir em outras associações. O que se faz numa Tuna passa por muito mais do que atuar, e mesmo esse aspeto merece um cuidado e seriedade muito fortes por parte dos seus membros, tendo em conta que a atuação de uma Tuna exige, da parte de todos, uma enorme dedicação na sua preparação. 



Para alguém se tornar parte de uma Tuna, precisa de estar pronto para assumir um grande compromisso perante os seus restantes integrantes e perante si próprio. Os laços que se criam numa Tuna ultrapassam, em muito, os anos que alguém passa numa instituição do ensino superior a completar uma Licenciatura. E, a meu ver, o aspeto mais importante é este:  ao entrar numa Tuna, recebemos sempre muito mais do que aquilo que esperamos. Muitos, como eu, juntam-se por amor à música, mas são as amizades que se fazem, os irmãos que se ganham e os momentos que se vivem em conjunto que criam numa pessoa o “bichinho” que as faz ficar.


André Mota

Departamento Mundo Universitário


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