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Em 1997, Jonas era um típico adolescente: repleto de dúvidas, tímido e apaixonado — por Nathan, um impulsivo e irresistível troublemaker mais velho que o introduziu a um novo mundo: faltar às aulas, mentir aos pais, experimentar o primeiro cigarro, mas mais importante, amar.
Volvidos dezoito anos, em 2015, Jonas, na casa dos trinta, «fez-se gente»: saiu da casa dos pais e arranjou trabalho. Mas era um homem instável, (auto)destrutivo e confuso — embrulhou-se numa série de conflitos perdidos, encontrou-se com homens que conheceu através de aplicativos de dating e não foi fiel ao seu relacionamento.
Mas só se tornou neste «monstro» quando perdeu Nathan para sempre. As Vidas de Jonas descreve, precisamente, as duas vidas de Jonas: o antes e o depois do traumático evento, [n]um confronto direto, inevitável e inseparável, como aqueles dois jovens eram. Ao longo da sua visualização, vemos um rapaz iludido, esperançoso e sonhador — e são estas algumas das maiores belezas da adolescência! — esbater-se, de forma precária, num homem problemático, mal resolvido e frustrado.
O intercalar destes dois grandes momentos da sua vida explicam, misteriosa, mas pesadamente (porque o filme tarda a atingir o clímax), os motivos pelos quais Jonas se tornou naquilo que hoje é. A única válvula de escape é confrontar o presente e ele fá-lo ao contactar, dezoito anos mais tarde, a mãe de Nathan, que o perdoa, porque eram crianças — e perdoar é uma dádiva.
No fundo, era disso que ele precisava.
Sem prejuízo da experiência de visualização ser absolutamente recomendável, As Vidas de Jonas deixa entreaberta a porta, que deve (se assim entendermos) ser aberta com a maior sensibilidade, da «culpa» da experiência de eventos traumáticos, em fases prematuras da vida, na formação da personalidade de cada um.
Porque todos nós somos um Jonas.
Francisco Paredes
Departamento Cultural
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