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  • Foto do escritorJornal Tribuna

“BEM BOM”- “O sonho que as pessoas nem a dormir conseguiam ter”

Bem bom”, “Amanhã de manhã”, “OK, KO”, “Quente, quente, quente”, “É demais” são nomes de músicas que não são estranhas a qualquer um de nós. Permitam-me que apresente as mulheres que lhe deram voz e alma e que tão bem conhecemos pelo nome «DOCE». Este grupo musical, fundado em 1979, era composto por Fá (Fátima Padinha), Teresa Miguel, Lena Coelho e Laura Diogo.


A história destas 4 mulheres não tinha sido, ainda, contada. O pontapé de saída, tão necessário, foi dado por Patrícia Sequeira, com a realização do filme e da série que retratam a história do grupo musical e as vidas das 4 mulheres que o compõem. A banda feminina «DOCE» encheu salas de espetáculo que ecoavam ao som das suas canções, vendeu milhares de discos por todo o mundo e venceu o Festival da Canção (contando com quatro participações), o que as levou, também, à Eurovisão.


A ideia de criar uma girl band portuguesa surge através do compositor e cantor Tozé Brito, na festa da despedida dos Gemini (grupo musical extinto que tinha sido integrado por Fá e Teresa Miguel), sendo também responsável pela sua criação o brasileiro Cláudio Condé, que era o Presidente da Polygram (na altura, uma das maiores editoras mundiais). Porém, as «DOCE» trouxeram a Portugal muito mais do que uma canção que conta as horas da madrugada. Estas foram, além da maior girl band portuguesa e da Europa, um símbolo real de empoderamento feminino. «As doce eram o sonho que as pessoas nem a dormir conseguiam ter», disse Lena Coelho, aquando do lançamento do filme sobre a banda.

As «DOCE» foram um fenómeno pelos momentos de divertimento que proporcionavam a quem as ouvia e, mais que isso, pelas letras que valorizam o papel da mulher na sociedade, os desejos, paixões e ambições destas.


Esta girl band foi um movimento de resistência no feminino, num país que se revelava à época, ainda, profundamente machista e obsoleto. As danças, extremamente pensadas, teciam o ritmo da independência e liberdade da mulher. O vestuário que destacava o corpo desta com os tecidos - que se dizia que vinham do espaço, como o «space blue» - cortes, brilhos e padrões... O guarda-roupa da girl band era pensado precisamente para elas e possuía um objetivo simples: fazer com que se sentissem poderosas. Gritava modernismo, avanço e o fim de uma era em que a mulher tinha de escolher vestir-se de forma discreta. As mesmas mulheres que foram questionadas sobre se a estratégia adotada para a vitória no Festival da Canção teria passado por irem «vestidas até ao pescoço» (em entrevista para a rádio Nacional) despiram-se de corpo e alma para a capa de um dos seus vários álbuns. Repare-se, aqui, que as «DOCE» eram alvo de críticas e difamação desmedidas pelo público e pela comunicação social, estando os holofotes dos palcos muito direcionados para as suas vidas pessoais.


A série e o filme expõem temas que eram, na altura, autênticos tabus para a sociedade portuguesa - a SIDA, o aborto, o assédio sexual -, que temia libertar-se do conservadorismo que pairava. As quatros mulheres vivenciaram, como contam a série e o filme, inúmeras situações de assédio sexual, que, aos olhos de uma sociedade retrógrada, eram explicáveis pela postura de firmeza e autoestima das «DOCE».


Esta é uma história que se revela de visualização obrigatória a todos os portugueses, para que se possa perceber como era a sociedade portuguesa na década de 80. Salienta-se, porém, que 4 décadas e muitas girl bands depois, estas situações não foram, ainda, erradicadas. As «DOCE» foram discos de ouro, de platina, e um país que se adivinhava ao som de todas as suas canções. «Era doce, doce, mas acabou-se», tendo a banda cessado a sua existência, na sua composição original, em 1985.


Porém, as produções cinematográficas e televisivas deixam clara a duração eterna das «DOCE», perdurando estas em cada um nós. A luta principiada por estas mulheres não teve ainda fim e a sua história deve ser eternamente contada, para que não nos esqueçamos que a liberdade da mulher, uma vez conquistada, não se perde nunca mais!


Filipa Moreira

Estudante do 2.º Ano de Direito

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