"Berlin ist arm, aber sexy" (Berlim é Pobre, mas Sexy) – Klaus Wowereit (2004).
Escolho começar este exercício com uma emblemática frase de Klaus Wowereit, antigo presidente da câmara da capital em apreço. Segundo o Berliner (não o doce), a sua cidade é pobre em termos económicos, mas rica em termos culturais e em vivências. De facto, no rescaldo de duas guerras mundiais e uma guerra “fria”, que tiveram Berlim como palco principal, é perfeitamente natural que a cidade tenha ficado num estranho limbo, quando comparada com as principais capitais europeias. Dito isto, mesmo com todos estes contratempos, há algo que a capital germânica nunca perdeu: a sua identidade como embaixadora de cultura e de experiências.
Felizmente, há cerca de um mês, tive a oportunidade de experienciar, na primeira pessoa, aquilo que David Bowie disse ser “a maior extravagância cultural que alguém poderia imaginar” e aqui estou, para partilhar a minha experiência.
Viajar pode ser, por vezes, uma experiência agridoce. E viajar para Berlim, com um budget limitado, e em Março, é, no mínimo, desmotivador. Termos de nos conformar com tempos de espera elevados para poupar algum dinheiro em voos; com tempestades que dificultam o “turistar”; com ao facto de que apenas iremos estar lá uns dias e que precisaríamos de muitos mais para fazermos tudo o que queríamos, pode ser BASTANTE desgastante.
Fica, então, a questão: será que, a viajar deste modo, se justifica a deslocação para o leste da Alemanha? Obviamente, que a resposta vai depender da experiência de cada pessoa e do que cada um procura; no entanto, na minha humilde opinião, Berlim vale totalmente a pena, mesmo sem as condições de viagem ideais. A verdade é que, quando confrontados com tanta história, cultura, beleza e diversidade, estas inconveniências passam-nos completamente ao lado e quaisquer sacrifícios nos parecem insignificantes.
Por falar em diversidade, este é um dos pontos em que a capital germânica se excede: seja para quem esteja à procura de aprofundar o seu conhecimento nas grandes guerras; para quem goste de desfrutar o seu tempo na natureza; para quem deseje tirar umas fotos com deuses gregos ou para quem apenas se queira embebedar, desfrutar de uma música e socializar, tem em Berlim o local ideal.
Se num momento estamos a contemplar as habilidades de escultura dos gregos, tesouros arqueológicos e a bela Nefertiti, noutro estamos a aprender sobre a divisão da cidade, sobre o muro e sobre as diferenças entre a RDA e a RFA. Já num outro dia, podemos querer aproveitar a natureza, passear pelo enorme Tiergarten, andar de canoa no Treptower Park ou alimentar as cabrinhas e coelhinhos do Zoo.
Figura 1: Deuses Gregos e o busto de Nefertiti
Figura 2: Tiergarten e burros do Zoo
Aproveitando a recente notícia de que a música techno se tornou Património Cultural da UNESCO, pode ser do interesse de muitos experienciar este estilo de música na sua mais pura forma, em clássicos clubes como Berghain ou Sisyphos; isto é, se não se importarem de esperar eternidades na fila de entrada. Todavia, ser-se aceite em Berghain pode ser difícil – cabe então, àquele que tem esse sonho, estar bem vestido, o que não se prova tarefa difícil numa cidade de artistas, que oferece, desde as mais custosas marcas, todas alinhadas na ostensiva avenida Kurfürstendamm, até excelentes seleções de segunda mão e inúmeras feirinhas, que oferecem de tudo.
Figura 3: O famoso club Sisyphos
Também para os entusiastas da História, Berlim é uma visita a não perder. São infinitos os locais emblemáticos, museus, exposições e tours que contam as histórias do país e da cidade. Assiná-lo, neste ponto, a Topografia do Terror, um museu / memorial, situado no local onde se encontravam as sedes da GESTAPO e da SS, que explica como o regime nazi chegou ao poder e documenta as atrocidades que o mesmo cometeu. Nesta mesma linha de pensamento, os fãs do chamado dark tourism vão ficar contentes por saber que, uns quilómetros a norte da cidade, é possível a visita a um campo de concentração, Sachsenhausen.
Figura 4: Reminiscências da Alemanha Nazi
Numa outra nota, talvez o que mais me fascina em relação a Berlim é a sua relação com a arquitetura, arte contemporânea e design. Apesar do seu passado atribulado, ou talvez devido a ele , a cidade dos quatro setores move-se por artistas e para artistas. São mais de 250 as galerias e coleções dedicadas à arte moderna e contemporânea, a acrescentar às centenas de locais que elevam a arte urbana, desde logo a maior galeria a céu aberto do mundo, a East Side Gallery. Também os feitos arquitetónicos são de louvar; desde o monstruoso Brandenburger Tor, ao Palácio do Reichstag, à Berliner Dom e à igreja Kaiser-Wilhelm; dos palácios prussianos e da coluna da vitória, às praças icónicas e aos memoriais.
Figura 5: East Side Gallery e Dans la Serre, Manet
Figura 6: Bradenburger Tor, Reischtag, Berliner Dom e Kaiser-Wilhelm Memorial Church
Berlim é, realmente, uma tela que poucos (sabemos bem quem) ousaram borrar. Para além disso, é uma cidade que emana felicidade. Não que as pessoas estejam sempre a sorrir, o que se diga, pode ser visto, por nós, mediterrâneos, como um problema (provavelmente estão só tristes porque está sempre a chover); mas sente-se um bem estar no ar.
Bem sei que não é possível comprar felicidade, mas quando nos rodeamos deste bem estar, sentimo-nos melhor, mais felizes. É assim que Berlim me deixa, feliz e com vontade de voltar. Se os monumentos e a História nos fazem querer visitar a cidade, é o seu ambiente vibrante, dinâmico e inclusivo que nos obriga a voltar.
Duarte Gomes
Departamento Cultural
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