As médias mais altas do país, aqueles que sabiam sempre as respostas, chegam todos à mesma faculdade, e deparam-se com a triste realidade de que, outrora, foram os melhores, e agora são só mais um. A sensação de desilusão ao ver a primeira negativa, a perda de respeito próprio e a morte da ideia que as notas refletem o nosso valor intelectual e até pessoal. O fantasma de quem éramos assombra cada momento, a pessoa que fomos é o objetivo que não conseguimos alcançar.
Como entender que o que antes nos tornava “especiais" e nos levava a ser tão elogiados é agora apenas uma memória? Como podemos lidar com a perda da excelência académica que nos trouxe tanto carinho e orgulho por parte de quem nos rodeava?
A primeira coisa a fazer é esquecer a ideia de que só merecemos ser recompensados quando temos uma boa nota. Pensemos no seguinte: quando reconfortamos um amigo que tira uma má nota, estamos a recompensá-lo de certa forma, estamos a tratá-lo bem mesmo perante o seu mau resultado porque achamos que, mesmo assim, ele merece o nosso carinho, porque tentou e porque não é em nada definido pela aquela nota. Defendo,então,que estendam essa compreensão a vós mesmos, recompensem-se pela tentativa em vez de pelos resultados. São mais que os erros que fizeram num papel, merecem a própria compaixão.
A segunda coisa é admitir. Falem da vossa má nota, não há mal em ter momentos piores, mas há mal no isolamento e na vergonha sem razão.Sempre que contei a um amigo de uma má nota, a conversa acabou em gargalhadas, em mãos quentes nas minhas, em abraços fortes e acolhedores que me relembram que existe um mundo para além de testes e médias. A única saída do labirinto da mente é a nossa habilidade de falar, se guardarmos para nós, vamos andar em círculos de culpa, a vaguear sozinhos para sempre.
O terceiro e último passo é saber admitir os próprios erros. É um vício tão grande como drogas ou tabaco culpar os que nos rodeiam pelas coisas más que nos acontecem: a culpa é do professor que não soube ensinar, ou é do corretor que não soube corrigir, ou do “gajo” sentando ao teu lado que respirava demasiado alto.
A verdade é uma, injustiças podem acontecer, a culpa não tem que ser toda tua, mas, enquanto não admitires como contribuíste para o mau resultado, nunca vais melhorar.Vais ser eternamente uma vítima impotente, dos professores, dos corretores, das pessoas com problemas respiratórios, de deus e do universo…
Além disso, se as coisas más que nos acontecem são culpa de outros, o inverso também é verdade. Queres mesmo ter de atribuir o mérito total das tuas conquistas a outras pessoas? A boa nota no exame ao corretor, o prémio de mérito aos professores… É absurdo pensar que os nossos sucessos não são obtidos graças a nós e ao nosso esforço, portanto, a mesma lógica se aplica ao oposto.
Concluindo, espero que, nesta época de exames, possam encontrar conforto ao seguir estes três passos, que se mantenham firmes na convicção de que os valores que os professores escrevem na folha de exame em nada se relacionam com o valor que tem como pessoas.
Martinha Carneiro
Departamento Mundo Universitário
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