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Covid 19: Os Movimentos Negacionistas e a Extrema-Direita

  • Foto do escritor: Gonçalo Angeiras
    Gonçalo Angeiras
  • 30 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

Um pouco por todo o mundo, a extrema-direita tem-se infiltrado nos protestos e movimentos negacionistas da Covid-19. As redes sociais são um importante motor de difusão de “Fake News”.


Ao longo da História e perante os maiores flagelos que afetaram a Humanidade e infligiram medo, receio e ansiedade às populações, podemos encontrar uma tendência clara: o aparecimento de movimentos populistas e demagógicos.


Estes tipos de movimentos aparecem precisamente como uma maneira de se apoderarem dos anseios das pessoas nos momentos mais críticos, propagando a partir daí a sua mensagem. Esta pandemia que nos tem vindo a assolar ao longo dos últimos meses não é exceção.


Desde praticamente o aparecimento do primeiro infetado com o vírus da Covid-19, na cidade de Wuhan na China, que surgiu um pouco por todo o mundo uma série de movimentos negacionistas da pandemia, grupos heterogéneos que englobam militantes de extrema-direita, defensores do movimento antivacinação e conspiracionistas.


O Caso Alemão


As primeiras grandes manifestações noticiadas tiveram lugar um pouco por toda a Alemanha, mais precisamente na capital Berlim onde se chegou ao extremo, quando, em agosto, cerca de duas centenas de manifestantes contra as restrições impostas no combate à pandemia tentaram invadir a sede da câmara baixa do parlamento alemão, o edifício do Reichtag, ostentando símbolos e entoando cânticos conotados com movimentos de extrema-direita, levando o chefe de Estado alemão a proferir as seguintes declarações : "Bandeiras nazis e obscenidades de extrema-direita em frente ao Bundestag alemão são um ataque insuportável ao coração da nossa democracia".


O partido de extrema-direita alemão, a AfD (Alternativa para a Alemanha), inicialmente, reagiu à pandemia de uma forma muito parecida aos seus partidos irmãos um pouco por toda a Europa, pedindo aos governos “Lei e Ordem”, fecho de fronteiras e medidas ultra restritivas das liberdades individuais. Porém, ao longo da evolução da pandemia, passaram para o extremo oposto, estando agora maioritariamente contra qualquer restrição imposta, juntando-se a muitos protestos negacionistas.


É de realçar que a maioria da população alemã demonstra uma grande confiança no governo e nas instituições, sendo favorável às medidas adotadas ao longo da pandemia. Esta associação da AfD às manifestações negacionistas tem sido prejudicial ao partido, sendo que caiu de 13% para 10% nas últimas sondagens.



Portugal: CHEGA! e os movimentos negacionistas


Quanto ao crescimento de movimentos negacionistas, o nosso país não foge à regra. Se é verdade que ao longo da primeira vaga da pandemia existiu pouca contestação organizada por parte dos portugueses, a realidade é que, chegados à segunda vaga e com o receio de um novo confinamento, começaram a surgir por todo o país, e difundindo a mensagem pelas redes sociais, diversos grupos negacionistas.


Nos últimos tempos tem estado na ordem do dia os nomes de duas páginas do Facebook com milhares de gostos, visualizações e partilhas: os “Médicos pela Verdade” e os “Jornalistas pela Verdade”. É de realçar que dentro do movimento “Jornalistas pela Verdade” nenhum membro conhecido é jornalista e dentro do movimento “Médicos pela Verdade” a maioria dos membros não é profissional da saúde.


Estes grupos questionam a autoridade científica e intelectual da OMS, duvidam da fiabilidade dos testes e são contra o uso generalizado das máscaras. Vários profissionais de saúde e a própria Ordem dos Médicos já repudiaram, de forma clara, estes movimentos, sendo que a Ordem abriu uma série de processos disciplinares aos poucos médicos que foram identificados como integrantes do grupo negacionista.


Para além da ação nas redes sociais, estes movimentos já organizaram diversas manifestações à imagem do que vemos um pouco por todo o globo. Manifestações onde são pouco respeitadas as regras para evitar o contágio definidas pela Direção Geral de Saúde - DGS - e que têm vindo a ganhar cada vez mais apoiantes.


No passado sábado, dia 14 de novembro, estes grupos manifestaram-se em Lisboa, no mesmo espaço onde decorria a manifestação do movimento “A Pão e Água” que reivindica o aumento dos apoios do governo à restauração, bares e aos espaços de diversão noturna. Ao longo da manifestação, uma série de protestantes negacionistas agrediu verbalmente vários jornalistas e repórteres, considerando que as televisões e jornais generalistas emitem notícias falsas sobre a pandemia.


Não fugindo a aquilo que tem sido a ação da extrema-direita na Europa, nos EUA e no Brasil, o partido CHEGA! tem membros envolvidos na organização destas manifestações negacionistas, tendo sido confirmada a presença do deputado e líder do partido - André Ventura - na manifestação, publicação posteriormente removida da página de Facebook do movimento.


Vários dirigentes do partido de extrema-direita têm utilizado as suas páginas pessoais em várias redes sociais para difundir notícias falsas acerca da pandemia, exemplo de João Tilly, destacado militante do CHEGA! em Viseu, que publica recorrentemente vídeos com informações que contrariam toda a comunidade científica.


Ao contrário do que se verificou na Alemanha, o partido da extrema-direita portuguesa tem vindo a subir nas sondagens, passando de 4% no início da pandemia para 6% nas últimas sondagens conhecidas.


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