“Cumprir Portugal”
- Sofia Machado
- há 4 horas
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“Cumprir Portugal” são duas palavras que soam como um imperativo, uma missão, um destino.
Esta expressão, que Fernando Pessoa deixou como legado, no poema “O Infante”, da obra “Mensagem”, carrega em si toda a densidade do que é ser-se português — uma tarefa que ultrapassa o mero viver e que toca a alma, a história, o futuro.
Afinal, que Portugal é este que temos no presente? Um país preso entre a nostalgia das glórias passadas e a inquietação do presente, um Portugal que se encolhe perante os seus próprios limites, que se resigna à mediocridade e se esquece do que significa ser inteiro.
“Cumprir Portugal”, neste tempo, é confrontar as contradições profundas de uma identidade partida: um país que se orgulha da sua história heroica mas hesita na coragem das escolhas presentes; um povo que ama a palavra mas silencia os atos; uma terra que navega no mar da globalização, mas que parece ter perdido a bússola do sentido.
“Cumprir Portugal” não deve permanecer uma fórmula vazia, uma promessa efémera feita ao calor do momento e desfeita ao primeiro sopro da realidade. De facto, trata-se de um compromisso concreto, robusto, que implica ação decidida, coragem inflexível e perseverança tenaz, mesmo quando a isso subjaz sacrifício, desconforto e a aparente imobilidade das circunstâncias.
Até que este compromisso se materialize, Portugal continuará a ser um país dilacerado entre o sonho e a desilusão, entre a grandeza almejada e a mediocridade acomodada. Um país que deseja ser vasto, mas que se retrai; que aspira à integridade, mas se fragmenta; que anseia pela liberdade, mas se encontra aprisionado pelas suas próprias hesitações.
Portugal será, por ora, uma nação em suspenso. Vale dizer, à espera daqueles que possuam a coragem para o cumprir, ainda que saibam que cumprir é, muitas vezes, uma luta solitária, uma travessia árdua e um percurso desprovido de garantias.
Mas é precisamente nessa espera que reside a semente da mudança — no despertar daqueles que, contra o cansaço e o desencanto, escolhem erguer-se e enfrentar o desafio. Efetivamente, cumprir Portugal não é um ato de conformismo; antes, um gesto de revolta e de fé, uma decisão de continuar a caminhar, mesmo quando o caminho é incerto e o horizonte parece distante. Só assim — com coragem e perseverança — poderá a nação suspensa reencontrar o seu rumo e reacender a chama que faz do nosso país um sonho possível.
Sofia Machado
Departamento Crónicas




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