(Des)Amor: Reflexão sobre a peça «I’M STILL EXCITED!» de Mário Coelho
- Beatriz Loureiro
- 6 de mai. de 2023
- 2 min de leitura
Fazendo jus a «Re-tratamento» dos Da Weasel, podíamos ter aqui algo «bem piroso e lamechas, como o amor deve ser: verdadeiro», mas não: a peça «I’M STILL EXCITED!» de Mário Coelho é uma história de (Des)Amor. Com texto e encenação de Mário Coelho, a peça conta com a interpretação do próprio, de Rita Rocha Silva, de Anabela Ribeiro e de Pedro Baptista, e esteve em cena (no âmbito do projeto Pendular) no Teatro Campo Alegre a 10 e 11 de março.

Como Mário esclarece, esta é uma história de «boy meets girl» e «girl meets boy», mas o tempo das apresentações já vai longe – retrata-se, aqui, o término do relacionamento de Rita (Corpo Imóvel) e Mário (Corpo 2). Os dois reencontram-se num ambiente festivo, de celebração do aniversário de Corpo Imóvel, que é, simultaneamente, um ensaio de teatro. Se, no início, o ambiente algo tenso entre os dois podia indiciar um possível reatar de um amor antigo, essa esperança rapidamente se desvanece. Numa sucessão de lembranças (boas e más) desta «[…] triste e nojenta história de amor […]», percebemos que voltar seria somente parvo e, sobretudo, criador de maior sofrimento para ambas as partes. Sabem aquelas meias rotas que têm no armário, mas que as deixam lá ficar, just in case? Ora, pois, é deitá-las fora, por mais que custe.
A simplicidade do cenário em tons cru alterna, de modo exímio, com a frenética mudança de cor – ainda que se mantenha sempre no registo garrido – dos focos de luz. Esta oscilação de luzes ocasionada pelos próprios intérpretes denuncia a instabilidade dos dois Corpos, que resvala para o caos de uma última conversa que encerra tudo.
Nesta peça, a linha que separa a ficção da realidade é extremamente ténue, quase transparente, diria – e é precisamente essa proximidade que nos seduz durante as 2 horas de espetáculo.
Na corda bamba entre o caos e o amor situa-se «I’M STILL EXCITED!», uma criação absolutamente brilhante de um jovem português. Fazem-se coisas muito fixes por cá.
Beatriz de Oliveira Loureiro
Departamento Cultural
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