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Foto do escritorGabriela Baltazar

Desporto e política: um jogo de poder

O desporto está, hoje, refém do poder político sendo constantemente envolvido em jogos de interesse geoestratégicos, económicos e outros, não conseguindo, jamais, se libertar dessa influência que colide com o fundamental da cultura desportiva e compromete valores fundamentais como a ética, fair play, respeito ou solidariedade, que deveriam guiar a prática desportiva. 


Numa atualidade global, onde a hipocrisia é diariamente exposta pela voracidade de factos e acontecimentos, fica claro que a neutralidade do desporto é uma utopia: o desporto atraiu o interesse dos governos de todo o mundo, especialmente devido à sua capacidade de despertar um senso de orgulho nacional por meio de realizações desportivas. Para estes, o desporto é um recurso (consideravelmente) maleável; para os cidadãos, proporciona um sentimento de união e identidade coletiva. Isto resulta naquilo que é popularmente conhecido como “juntar o útil ao agradável”. 


Podemos afirmar que a política é um jogo - um jogo criado por pessoas para pessoas capazes de sentir o prazer de o esconder, de enganar o adversário e fazer de tudo para conseguir sempre a vitória. Se, antigamente, eram os dirigentes desportivos que corriam atrás dos dirigentes políticos, hoje são estes que perseguem o desporto para conseguirem usá-lo como uma ferramenta de influência. 


A título de exemplo, a invasão da Ucrânia, pela Rússia, intensificou esta dependência do desporto em relação à política e aos políticos. A decisão das principais organizações desportivas de excluir os atletas russos e bielorrussos das várias competições não provocou qualquer perplexidade na sociedade, porque parecia culturalmente aceitável que o desporto tomasse medidas para reprimir esta invasão e criasse, consequentemente, um sentimento antirrusso generalizado. Foi, assim, consensual a ideia de que o desporto não podia ficar indiferente. Mas este tipo de situações gera um problema: ao colocarmos o desporto no clímax dos conflitos mundiais, é aberta a caixa de Pandora


Grandes organizações desportivas, como a FIFA ou a UEFA, têm, igualmente, um papel crucial neste contexto, visto que as suas decisões são maioritariamente influenciadas por questões económicas e políticas. Não é necessário recuar muito no tempo para provar este ponto: o mundial de futebol no Qatar, em 2022, gerou imensos debates e críticas relativamente às motivações que levaram à escolha deste país, dado o seu histórico a respeito de violações dos direitos humanos. 


É factual, portanto, que as organizações desportivas, que deveriam ser neutras e focadas nos valores do desporto, estão frequentemente sob uma imensa pressão de governos e de grandes grupos económicos.


Ao olharmos para este cenário, surge uma questão (talvez) ainda sem resposta: é possível e desejável a neutralidade política dentro do campo desportivo? A verdade é que muitos acreditam que o desporto tem o direito de se posicionar sobre questões sociais e políticas, vendo-o como a arma perfeita de propaganda, capaz de transpor todas as barreiras. Neste âmbito, é pertinente referir a seguinte citação de Nelson Mandela: “O desporto tem o poder de mudar o mundo. Tem o poder de inspirar, tem o poder de unir as pessoas de uma forma como pouco mais o consegue fazer.”. Outros, os defensores da neutralidade, promovem vivamente a perspetiva de que o desporto deve, somente, ser um campo autónomo e livre de todas as decisões políticas e sociais. 


Dito isto, assume-se assim, maioritariamente, uma utilização estratégica do desporto como meio de construir relações, promover a imagem social e resolver conflitos. A política não está “fora de jogo”: está sim a influenciar de tal maneira o desporto que este já deixou de viver na sua autenticidade, visto ter-se deixado influenciar pelos critérios da conveniência política, precisando, urgentemente, de voltar a ser autónomo. 


Só me resta dizer que o desporto tem dado (e vai continuar a dar) aos portugueses mais alegrias e mais prestígio a nível internacional do que alguma vez a política deu e conseguirá dar. 


Gabriela Baltazar

Departamento Desporto

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