Uma “fábrica” de CR7’s
- Carolina Sousa

- há 3 dias
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Como forma de introduzir o tema que me proponho desenvolver neste artigo, pergunto ao meu caro leitor se alguma vez teve a oportunidade de assistir a algum jogo de futebol, voleibol, basquetebol ou qualquer outro desporto das camadas mais jovens. Se não, recomendo fortemente que o faça, pois, segundo a audiência das bancadas, temos, sem sombra de dúvidas, os próximos melhores do mundo!
Já lá foram os tempos em que o nosso país, tão pequeno e encostado num canto da Europa, era insignificante e facilmente esquecido no mundo do desporto. É inegável que os nossos grandes nomes no desporto-rei, como Eusébio, Paulo Futre, Vítor Baía e Cristiano Ronaldo, ajudaram-nos a encher o peito de orgulho e a acreditar em conquistas maiores. Porém refiro-me a eles como me podia referir a outros atletas históricos, como Carlos Lopes e Rosa Mota, que levaram o hino português onde nunca se imaginou que pudesse ser ouvido.
No entanto, a minha dúvida é: a partir de que momento é que deixou de haver orgulho nas nossas vitórias para passar a haver uma ambição e um desejo desmedido, que começaram a pesar e a sobrecarregar as próximas gerações de atletas? Porque é que os miúdos que querem ir para o futebol, só porque os amigos iam, têm de ser o próximo “Ronaldo”? Porque é que não podem simplesmente divertir-se, praticar exercício físico e acreditar que, tal como nos desenhos animados, tudo pode ser resolvido pelo “poder da amizade”?
Este problema não é recente, nem exclusivo dos pais dos pequenos atletas. Quem os observa percebe rapidamente que são a perfeita definição de “treinadores de bancada”, prontos a criticar o pequeno craque ao mínimo erro e a fazê-lo pagar por isso logo na hora a seguir ao jogo. Estes mesmos já sonham que o talento dos filhos lhes possa render um bom dinheiro e, quem sabe, uma publicidade para alguma cadeia de apostas.
Se formos a ver bem, os próprios clubes dos concelhos que preenchem esse Portugal fora já só aceitam os melhores atletas ou vão “buscar” um jovem jogador ao clube da terra vizinha (como se uma criança de 12 anos pudesse ser comparada a um atleta profissional) ou deixam os mais “pernetas” apenas jogar 5 minutos. Esta mentalidade errada, que já está incutida nas próprias instituições, passa depois para os próprios formadores, que deveriam colocar acima de tudo o bem-estar das crianças que têm a seu cargo, e não o resultado do jogo. Contudo, nem tudo é tragédia, e ainda existem bons formadores que se preocupam em educar os miúdos no mundo do desporto, e que se esforçam para que estes se sintam acolhidos numa coisa que é tão maior que eles próprios.
O ponto mais importante, que é muitas vezes esquecido, é que as atividades extracurriculares desportivas que as crianças praticam são quase como uma “segunda escola”, onde têm um grupo diferente de amigos, um “professor” diferente e o objetivo de aprender mais. Ao tornar esta relação, que deveria ser positiva para o processo de desenvolvimento da criança, numa experiência traumática, retira-se grande parte dos benefícios a ela subjacentes, como também se esquece a importância da prática de uma atividade física desde tenra idade.
No fundo, os miúdos de 12 anos que jogam no clube da terra onde moram só querem participar no jogo e tentar fazer aquele ponto de vitória na partida - aquele ponto que lhes irá dar, cada vez mais, vontade de praticar e mostrar que todo o esforço que fazem durante a semana para irem treinar é ressarcido.
Assim, através do desporto, e não de sermões vindo dos pais ou dos professores, é-lhes ensinado que, quando nos esforçamos realmente para algo, tudo isso, mais cedo ou mais tarde, é recompensado.
Carolina Sousa
Departamento Desporto




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