O Jornal Tribuna é “aquilo que nós somos”, dizia uma das fundadoras, que connosco falava na celebração dos 25 anos da Faculdade de Direito da Universidade do Porto.
Em 1997, o Jornal Tribuna era composto por um “Conselho de Redatores” que se apelidava de “irreverente”, próprio do contexto em que viviam. Em 2021, não nos impediremos de falar, de ser, de ignorar linhas editoriais que aqui nunca existiram e, a existir, seriam apenas a decência e a informação em primeiro plano. O Jornal Tribuna desde a sua fundação pauta-se pela representação dos Estudantes, pela cultura, pela manifestação, pela reivindicação, pela verdade.
“A confirmarem-se os factos, eles merecem o nosso maior repúdio e indignação porque, alegadamente, mais uma vez, estamos perante uma situação de desrespeito, de discriminação e de sexismo para com uma Estudante. Algo que nós não podemos aceitar nem tolerar e estamos aqui precisamente para defender os nossos Estudantes, que representamos.”
O mote é este. É julho e não descansamos.
Infelizmente, não são os exames o que mais nos desgasta desde maio, mas o claro sexismo que corre pelos corredores da mui nobre Faculdade de Direito da Universidade do Porto.
Em julho, expomos a mais recente discriminação por parte de um docente. Docente esse cujo nome preenche já a imprensa nacional. Assim, vale agora a pena ignorar os últimos momentos de avaliação para que se faça verdadeiramente justiça por todas as mulheres que, nos últimos anos, se viram condicionadas por um homem que não sabe conviver com os seus pares.
É erróneo achar que a luta feminista dentro da Academia se estabelece apenas entre aqueles que estão em posição de desigualdade (docente-Estudante). Esses tentarão, talvez, alterar classificações com base no quão histéricas ou inapropriadas somos nos momentos em que com estes interagimos.
O verdadeiro perigo está naqueles que nos são iguais. Aqueles que, ao nosso lado, farão o futuro, um futuro que não parece mais promissor do que era há tempos, por mais educação que tenhamos, por mais informação a que nos seja dado acesso. Não será um futuro promissor: estes que temos por iguais partilham da mensagem de “repúdio e indignação”, de o dizer com todas as letras. Contudo, fazem-no sem pôr a mão na sua própria consciência. Estes também são esse homem, e sentam-se do nosso lado da sala.
Reiteramos, é erróneo acreditar que a luta feminista dentro da FDUP está finalmente a chegar a bom porto, que a união está feita, que as mulheres se indignarão sempre e se defenderão umas às outras. Nem há dois meses vimos vítimas serem descredibilizadas, ou os escassos “eu nunca defenderia um assediador”, seguidos de uma permanência ao lado daquele que o fez.
Quando entramos na Faculdade de Direito, uma das primeiras coisas que ouvimos é que existe muita competitividade, mas pensámos, talvez ingénuas, que este mundo pudesse colocar a competitividade, meramente académica, de lado quando estão em causa valores morais. Quando entramos em Direito, somos continuamente desafiadas a pensar criticamente, no entanto, na hora da verdade, no momento em que o pensamento crítico pesa na mesma balança da competitividade, é rapidamente descartado.
Perguntamos, desiludidas, quem é que nos defende? Quem é que nos representa?
Não vemos defesa por parte daqueles que perpetuam os comportamentos dos quais nos querem defender. Não vemos representação naqueles cujos comportamentos nos ameaçam. No máximo, sentimo-nos ridicularizadas e, apesar do mediatismo, ocultadas.
Avançamos com a certeza de que quem agiu incorretamente não precisará sequer de perguntar pela sua defesa. “Coitado”. Aqui a tem.
Face ao desrespeito anteriormente demonstrado pelos Estudantes que compõem a Redação deste Jornal, questionando as nossas intenções, e face à contínua violência perante as Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, seria contraproducente à nossa missão de plena representação a inércia.
Mafalda Azevedo
Matilde Costa Alves
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