O ingresso no ensino superior despoleta nos estudantes um sentimento agridoce: por um lado, temos a ânsia de lidar com o novo ritmo esfuziante de que tanto falam (e que, segundo esclarecem, em nada se assemelha ao do ensino secundário), por outro, o entusiasmo de conhecer novos rostos e de expandir o conhecimento numa área que, à partida, nos identificamos. Surge-nos, com efeito, uma panóplia alargada de questões que parecem não obter resposta: “Terei feito a escolha certa?”, “Será o ensino superior o bicho de sete cabeças que me costumam descrever?”.
A verdade é que, enquanto caloiros, muitas das dúvidas só se dilucidam com o tempo (este que parece estar, incessantemente, numa guerra contra nós e nós contra ele). Contudo, sabendo de algumas informações previamente, a experiência no mundo universitário pode-se tornar bem mais aprazível e, um pouco, menos desgastante. Importa referir que nem mesmo o tempo dá resposta cabal às concretas dúvidas estudantis, pelo que o que perfeitamente funciona para um, pode não funcionar para outro.
Não descurar a leitura. Quando Voltaire, sabiamente, apontou que a leitura engrandece a alma, não poderia estar mais correto. Enquanto estudantes de Direito, somos confrontados com palavras rebuscadas, até de aparência estrangeirada, e difíceis de digerir. Além da possibilidade de alargar o nosso léxico, é-nos constantemente exigido um espírito crítico, cultura geral, domínio da escrita e forte poder de argumentação. Posto isto, quanto mais cedo investirmos em bons livros, mais preparados ficaremos para o futuro, que se revelará desafiante.
Para aligeirar a rotina de ler os famosos “calhamaços” jurídicos, saber intercalar este período com livros de leitura mais leve e fluida não seria má ideia.
No que concerne ao enriquecimento do vocabulário jurídico, a aposta na leitura de jurisprudência é, indubitavelmente, uma mais-valia, cujos benefícios se estendem a uma maior compreensão dos conteúdos (veja-se, a título exemplificativo, a clareza das definições jurídicas elaboradas pelos juízes), além de nos permitirem ter contacto com casos e histórias reais.
Orais de melhoria são um grande sim! Na FDUP em especial, e baseando-me em alguns testemunhos, vale a pena apostar nas melhorias orais, independentemente do que ouvem dizer acerca de determinado docente ou do seu método de avaliação. Aconselho não só a ir, como, na eventualidade de não correr como esperado, não desistir de ir nas próximas oportunidades para tal. Uma má experiência inicial não implica uma má experiência no futuro. Releva, assim, ter destreza para aferir se os conselhos de outrem devem ser fatores preponderantes aquando da tomada de decisão, tendo em mente que cada aluno tem a sua experiência individual.
A par disso, é perfeitamente natural que um exame escrito não corra consoante o esperado. Assim sendo, há que perceber que, do mesmo modo que existem variáveis que podemos controlar, como o estudo e a preparação de um modo geral, também existem, por outro lado, outras que nos transcendem, nomeadamente a formulação das questões da prova ou potenciais nervosismos, pelo que importa ter isso em mente.
Há imensas formas de aprender e aprofundar conhecimentos, que não se limitam à comparência nas aulas. O mundo universitário, ao contrário do que sucede com o ensino secundário - muito mais circunscrito e limitativo à sala de aula - permite um leque variado de formas de aprendizagem. A título de exemplo, através dos cursos breves organizados pelos grupos académicos, bem como conferências e debates (veja-se o Debate do Orçamento de Estado de 2025 organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, que teve lugar no passado dia 14 de outubro), cujo papel se demonstra fundamental na formação do estudante, a par dos conteúdos das diferentes disciplinas. Não desvalorizando a maior importância da matéria propriamente dita, vale a pena conciliar, dada a possibilidade de aprofundar temas que poderão nem ser abordados em sala de aula e de permitir o contacto com diferentes profissionais de diferentes áreas do Direito, cujo contributo poderá ser enriquecedor em termos de carreira.
Fazer o percurso acompanhado com outras pessoas é vantajoso, já que todos estão no mesmo barco e as adversidades por que um passa podem ser as mesmas por que outro já passou, além de permitir uma melhor e mais eficiente assimilação de conteúdos.
Contudo, tal não obsta a importância de gizar o próprio caminho, tomar as próprias decisões e evitar comparar o seu percurso com o do colega. De facto, não existe um caminho certo, mas o mais indicado para cada um, mediante objetivos que, presume-se, diferem.
Enfim, o que pretendo transparecer é que os conselhos alicerçam-se nos circunstancialismos privados de cada indivíduo, pelo que ao segui-los cegamente estaria a tomar um percurso que não é o meu e uma verdade que não é a minha.
Por fim, a título mais pessoal, um dos conselhos que mais me tem ajudado, e que pretendo manter durante o resto do meu percurso académico, embora me tenha custado aprender, foi o de evitar ao máximo fazer noitadas à base de café e de abdicação de horas de sono. Estas eram motivadas, em larga medida, pela pressão constante de ter todos os conteúdos das diferentes unidades curriculares em dia. No que concerne à estrita obrigação de estar constantemente em dia, percebi, por influência de testemunhos dos mais experientes, que é muito difícil (principalmente quando não se prescinde de ler a bibliografia) e que, quando tal começa a interferir em larga medida nas horas de sono ou bem-estar, esse esforço dificilmente logrará os resultados pretendidos.
Diante do exposto, importa ter em mente que, embora o ensino superior acarrete desafios, e mesmo que pareçam de impossível superação, se a vontade de os superar for maior, e se a isso se complementar o foco e a dedicação necessários, o objetivo almejado concretizar-se-á. Afinal, e citando uma das mais célebres frases de Pessoa: “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, e eu não poderia estar mais de acordo.
Diana Pinto
Departamento Mundo Universitário
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