top of page
Buscar

Die Kaiserin: O Confronto Entre o Dever e a Moral

Foto do escritor: Eunice GalvãoEunice Galvão

Não é com orgulho que o admito, mas a verdade é que, como tantos outros, também sou uma daquelas pessoas que acha que “apenas o que vem de fora é que é bom”, contribuindo para a monopolização do mercado cinematográfico por parte de Hollywood. As únicas produções europeias que alguma vez apoiei foram as britânicas, mas meramente por serem em inglês. 


Sempre me fez confusão ver filmes ou séries num idioma que eu não conseguisse compreender. Na altura em que a série La Casa de Papel se tornou num fenómeno mundial, foi estranho ver algo que não fosse em inglês, apesar de eu compreender perfeitamente espanhol. Lembro-me bem de descartar séries que apareciam nas minhas sugestões, na plataforma Netflix, pelo simples facto de não serem em inglês. Die Kaiserin foi o meu break free da cultura norte-americana. 


Die Kaiserin é uma série de produção alemã que conta a história de Elisabeth, uma jovem duquesa que se apaixona pelo futuro noivo da sua irmã, o Imperador Franz Joseph, com o qual acaba por se casar, tornando-se na nova Imperatriz do Império Austríaco. Não obstante, as ideias pouco convencionais de Elisabeth entram em conflito com a forma como as coisas se fazem em Viena. A série acompanha, assim, a vida da protagonista enquanto Imperatriz e a sua luta na defesa pelos ideais segundo os quais se deve fazer política.


Esta série, como tantas outras já por mim assistidas, inspiram-nos a lutar por aquilo em que acreditamos, por muito “fora da caixa” que as nossas ideias possam ser. Claramente, Elisabeth não é uma política, nem nunca o poderia ser: o seu coração demasiado bondoso não lhe permitiria decidir de forma racional, nem aceitar os necessários “males que vêm por bem”. Outra das temáticas também já mais que badaladas é a tensão resultante da relação entre as sogras e as suas noras, algo que também se repete ao longo da história.


Não me atrevo, sequer, a tentar comparar-me a Elisabeth, mas também sempre tive umas ideias um pouco “fora da caixa”. Tenho a dizer que não recomendo. Elisabeth consegue que algumas das suas ideias triunfem, no entanto, a verdade é que não é tão fácil como ela faz parecer.


Ao longo da minha vida foram-me atribuídas algumas qualidades. Contudo, corajosa nunca foi uma delas. Sempre evitei envolver-me em conflitos e discussões. Talvez seja esse o motivo pelo qual todos ficaram tão surpreendidos quando decidi que queria estudar Direito. Não obstante, estes três anos e alguns meses mudaram-me e a vontade de lutar pela justiça acabou por se entranhar em mim. Contudo, confesso que fiquei desapontada quando descobri que esta vontade não vive dentro da maioria das pessoas.


Enquanto dou por mim a ser invadida por este desejo incessante de lutar pela justiça, observo nos restantes uma simples aceitação da realidade tal como ela é, ainda que não seja do seu agrado, o que me faz sentir deveras desiludida. Os poucos que ousam lutar por aquilo em que acreditam acabam por ser chamados de loucos, tal como acontecia com Elisabeth, que, apesar de ocupar uma posição política de grande relevância, não conseguia mudar o mundo sozinha.


Temos a ideia de que, ocupando um cargo importante, podemos, finalmente, tomar decisões e fazer as coisas da maneira que gostaríamos. Porém, muitas das vezes, isto não é o que acontece. Aliás, o facto de ocuparmos uma tal posição pode mitigar a nossa tão valiosa liberdade de expressão, quando se trata de casos em que não nos representamos a nós próprios, mas sim a uma determinada entidade.


Ainda que o Império Austríaco em nada esteja relacionado com a franquia do Spider Man, sempre gostei da frase With great power comes great responsibility. Compreendo agora que esta frase podia ter mais do que um significado. Sempre achei que, com grande poder, vem uma grande responsabilidade, unicamente porque as nossas decisões são importantes o suficiente para impactar o mundo, razão pela qual deveriam ser tomadas da forma mais ponderada possível. Em todo o caso, percebo agora que, muitas vezes, a responsabilidade que o grande poder comporta não significa isto: significa antes mostrar uma frente forte e unida, que faça com que as pessoas depositem a sua confiança nos seus líderes. Tal também acontece na série Die Kaiserin, na qual Elisabeth é obrigada a tomar a posição política da família real, mesmo que tal não corresponda à sua opinião. A sua grande responsabilidade não é ter cuidado com aquilo que decide, mas transmitir segurança na decisão tomada pela instituição que ela representa. 


Um espírito jovem e rebelde como o de Elisabeth não se deixa domar facilmente e, na maioria dos casos, a jovem Imperatriz segue o seu coração, esquecendo a sua responsabilidade. Por vezes, consegue influenciar a opinião do seu marido. Não querendo descredibilizar o trabalho dos homens nem as suas capacidades de comando, há quem diga que, por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher.


Encerro esta exposição colocando-vos uma questão: numa situação na qual tivessem de dar a cara por uma decisão que não é a vossa e que atenta contra a vossa maneira de ver as coisas, o que fariam? Seguiriam cegamente a vossa convicção ou cumpririam esta grande responsabilidade de contribuir para a imagem da instituição que representam?



Eunice Galvão

Departamento Cultural

Commentaires


© 2024

Jornal Tribuna

bottom of page