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  • Foto do escritorDinis Chan

Dupla Identidade: Sou Estudante, Também Sou Atleta

Atualizado: 15 de dez. de 2023

Harmonizar as várias facetas da vida exige alguma habilidade especial e, para muitos, torna-se uma tarefa exigente e extenuante. Encontrar um equilíbrio entre amigos, relações amorosas, trabalhos da faculdade, aulas e atividades extracurriculares, pode, muitas vezes, parecer desafiador, se não impossível.


A ideia de acrescentar a esse conjunto de responsabilidades mais uma missão de representar a Universidade ou a Associação de Estudantes em competições desportivas, ou até a integração numa seleção nacional universitária nos campeonatos nacionais e internacionais, pode parecer inconcebível para a maioria. No entanto, apesar do dia ter apenas 24 horas, muitos estudantes-atletas da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP) encontram maneiras para conciliar todos estes desafios. 


O Mundo Universitário teve a honra de falar com três estudantes-atletas da FDUP: Maria Romero Amandi Arezes, Mélanie Martinho Rodrigues e Santiago José Coca Pimentel, que nos permitiram ter uma ideia da vida de um estudante da faculdade de direito e atleta dedicado ao mesmo tempo.


Dos Grandes Esforços e Dedicações


Treinando 5 horas por dia, 6 dias por semana, eis como é a vida quotidiana de uma estudante-atleta: Maria Romero Amandi Arezes, estudante do 1º ano de Direito da FDUP, conta que a elevada intensidade de treino priva, inevitavelmente, os estudante-atletas de estarem com a família e amigos, já que muitas vezes não conseguem gerir os dias de acordo com as suas vontades, chegando até a drenar todas as suas energias.


“São muitos os dias em que saio de casa às oito da manhã e só regresso às nove da noite, sendo no caminho do treino até casa onde vejo, pela primeira vez, a minha família,” relata Mélanie Martinho Rodrigues, estudante-atleta de 17 anos, que começou o seu percurso na ginástica acrobática aos 10 anos. Melánie ocupa, em média, 30 horas semanais em treinos regulares dessa modalidade, com o objetivo de se manter ativa para alcançar o seu  desempenho máximo.


Para Santiago José Coca Pimentel, aluno de 2.º ano de Direito da FDUP, optar pela  vida atlética implicou estar afastado da família. Devido à entrada na seleção nacional de sub-19 de voleibol, o jovem jogador teve de se mudar de Lisboa, onde nasceu,  para o Porto, cidade-sede dos Clubes aos quais presta, com regularidade, a atividade de voleibolista. "Vejo-me obrigado a sacrificar imenso tempo, (...) isto leva-me a tentar aproveitar quaisquer folgas ou tempos mortos que tenha para estudar,” acrescentou o estudante português-espanhol que, todos os fins de semana, a acrescer aos treinos semanais, ainda tem 8 horas de jogo.


A Arte da Priorização


O tempo ao nosso dispor é sempre o mesmo: 24 horas, um recurso de escassez absoluta que se caracteriza pela impossibilidade do seu acúmulo ou economia. Desta forma, a dedicação do nosso tempo a uma atividade, com certeza, trará “sacrifício”.


A grande maioria dos estudantes-atletas alega que o facto de o seu tempo estar muito cronometrado, para que consiga atingir os desafios a que se propôs, acaba por se revelar um ponto positivo. No fim, tem tudo a ver com a organização de tempo, mais precisamente a priorização de atividades e a gestão de energia.


Mélanie considera que esta rotina “muito estruturada” a obriga a prestar mais atenção às prioridades claras: “(...) [isto] faz-me saber o que tenho de fazer, quando tenho de fazer, tornando-me mais produtiva e menos distraída com outras coisas que não importam tanto,” testemunha a aluna lisboeta da FDUP.


“O que fazemos dentro do ginásio não é um sacrifício, apenas estamos a trocar algumas coisas banais por outras que pouca gente consegue. O que gosto mais no meu desporto é o nível de comprometimento necessário, pelo que precisamos de gerir muito bem o tempo”, ressaltou a ginasta, que atualmente representa a Seleção Nacional, no escalão Júnior Elite, tendo estado na Bulgária em outubro deste ano no Campeonato da Europa.


Disciplina e Resiliência, a Base do Triunfo


“Ser estudante-atleta exige todo um nível de disciplina e comprometimento para conciliar o desporto com a faculdade,” assinalou Mélanie, sublinhando ainda que “qualquer desporto tem como um dos valores-base a resiliência.”


Maria Arezes,  também ginasta, reconheceu igualmente a relevância da disciplina:  “A motivação não é constante, no entanto, o que mais interessa é a disciplina, que não nos deixa desistir e mantém-nos a aparecer para treinar todos os dias, querendo fazer mais e melhor.” 


Apesar de ter feito uma rotura de ligamentos, ter torcido o pé diversas vezes e, mais recentemente, ter até rompido um ligamento da mão, incapacitando-a de tudo o que fazia, Maria insiste na sua fé: “a resposta, tão perto da prova para que treinámos a vida toda, foi continuar a treinar com a dor.”


A atleta, que agora se insere na melhor classe de ginástica acrobática no país, ‘AcroElite’, já tinha sido tricampeã nacional no ano de 2021, repetindo o feito este ano, participando no campeonato da Europa e ganhando provas internacionais.


Santiago admite também a importância da resiliência, defendendo que o progresso e a evolução, independentemente do contexto, nunca são processos lineares e “vai sempre haver fases de maior progresso, outras de estagnação, e até mesmo fases de regressão no processo evolutivo. Independentemente disto, há sempre que manter o foco e tentar manter sempre a motivação que se tinha no início do processo.”


Além de Uma Vitória ou Derrota


O caminho dos atletas não é fácil de ser percorrido. Existem barreiras, medos, desafios, incertezas, mas este percurso vai muito mais além de uma mera conquista ou perda, porque permite que os jovens atletas cresçam e se tornem pessoas melhores.


Alguns momentos de fracasso impactaram Santiago fortemente, especialmente numa fase final do campeonato europeu. Contudo, acredita que são momentos como estes que permitem a verdadeira evolução dos atletas, pois são nestas circunstâncias que ganham a força interior e a motivação necessárias. “Ganhei, mais do que outra coisa, muita força interior e humildade. Estar longe daquilo que era a minha normalidade levou a que me sentisse alienado muitas vezes, mas foi precisamente esse sentimento que me deu a autoconfiança para crescer, tanto como atleta como a nível pessoal,” adiantou o jovem voleibolista, que tinha se classificado no 9.º lugar, do fase final do campeonato da Europa, no ano passado.


Maria está convencida que tudo o que aconteceu de menos bom serviu para aprender e melhorar. A estudante frisa ainda como o atletismo tem afetado a sua vida, “Eu sempre fui uma pessoa tímida, que não falava muito e conseguir fazer amigos nem sempre era fácil, pois não me dava a conhecer a qualquer pessoa assim tão facilmente. A ginástica exige de mim uma competência social que me tornou numa pessoa muito mais descontraída e, de certo modo, extrovertida. Isso facilitou imenso a minha adaptação na faculdade,” confessou.


Quanto a Mélanie, a confiança, a paz, a tranquilidade, a determinação e a resiliência que lhe foram transmitidas ao longo deste percurso foram a sua maior aprendizagem. “Quando era mais nova, não sabia lidar bem com as críticas, nunca as via como algo para o meu bem, para melhorar. Não as via como algo construtivo, mas sim como um “ataque” pessoal. Este percurso fez-me ver que não somos sempre perfeitos, não somos sempre os melhores, e é a errar que se aprende,” contou a jovem ginasta, resumindo que aprendeu a ser uma pessoa mais tolerante à falha.


Para muitos destes jovens desportistas, "estudante-atleta" é um estatuto e título que têm o orgulho de envergar, não por causa do que oferece, mas como um termo que reconhece a dedicação que tiveram para se distinguirem dos demais. É como uma medalha de honra.


Dinis Chan

Departamento Mundo Universitário

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