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Foto do escritorIsabel Lobo

Eleições Legislativas 2022: os partidos - CDS-PP

CDS-PP, um elogio (quase) fúnebre


Se em 2015 o CDS-PP tinha 18 deputados na Assembleia da República, em 2019 esse número diminuiu para 5 e as projeções para as próximas eleições legislativas apontam um resultado desastroso: 1 deputado. A diminuição drástica da representação do CDS tem repercussões mais profundas do que possa parecer à primeira vista. Quais serão os motivos por detrás deste declínio do partido? Será possível resgatar o CDS de uma morte anunciada?


História do CDS


O CDS-PP, fundado a 19 de julho de 1974, nasceu de um espectro da sociedade que não se revia na corrente marxista dominante no pós 25 de Abril, assumindo-se “contra o Marxismo, moderado e aberto às correntes de catolicismo social e conservadorismo liberal” e elegendo os únicos 16 deputados não socialistas da Assembleia Constituinte de Abril de 1975, que haveriam de votar sozinhos contra o texto final da Constituição, de 2 de Abril de 1976. Acabou por se tornar um pilar da democracia portuguesa, representando a ala de direita conservadora da sociedade portuguesa.

A história recente do CDS é marcada por 3 líderes, Paulo Portas, Assunção Cristas, e Francisco Rodrigues dos Santos. Se com Paulo Portas observamos um crescimento eleitoral (11,7% nas eleições legislativas de 2011) que permitiu aliar-se ao PSD e formar o XIX Governo Constitucional, com Assunção Cristas observa-se o segundo pior resultado de sempre do CDS em eleições legislativas, 4,25%. Francisco Rodrigues dos Santos é o atual líder do partido, sucessor de Assunção Cristas e herdeiro de um partido fragilizado pela perda de base eleitoral e pela perda de credibilidade do partido.

A prova dos 9 para Francisco Rodrigues dos Santos e para o partido que lidera será no dia 30 de janeiro de 2022, mas as projecções prevêem 1% das intenções de voto para o CDS.


Problemas internos do CDS


É inegável que o CDS está a travar uma luta pela sua própria sobrevivência, mas parece difícil de traçar onde começou o declínio. Alguns entendidos apontam como início do fim o esgotamento do “portismo”, com a saída de Paulo Portas da liderança do partido e a incapacidade de Assunção Cristas de continuar esse legado, após a saída desta pessoa tão marcante na história centrista. Também se poderia facilmente apontar os acontecimentos recentes dentro das instituições internas do CDS como destruidores da confiança depositada pelos eleitores do partido.

O episódio da desconvocação do congresso eletivo do partido foi considerado um atentado à democracia interna do partido: o congresso, previsto para os passados dias 27 e 28 de novembro, foi desconvocado para depois das eleições legislativas de 30 de janeiro, numa decisão tomada num conselho nacional extraordinário, cuja convocatória havia sido impugnada horas antes pelo tribunal do partido, e portanto ficou por discernir se ocorreu ou não ilegalidade na desconvocação do congresso. As consequências foram inevitáveis: figuras centristas abandonaram o partido - Adolfo Mesquita Nunes, António Pires de Lima, e o líder, Francisco Rodrigues dos Santos, sai pouco legitimado para as eleições legislativas, uma vez que tomou uma atitude que pode ser considerada de cobardia perante opositores internos.


Democracia-cristã na Europa


Apesar de todo o desenrolar de acontecimentos no CDS, é necessário observar o caso do CDS como um reflexo da democracia-cristã e da direita conservadora (mas democrática) na Europa. O que acontece neste preciso momento no CDS em Portugal, observa-se espalhado pelos outros países europeus. Na Alemanha, após um domínio de décadas da CDU (União Democrata-Cristã), o centro-direita ficou órfão após a recente saída de Angela Merkel do cargo de chanceler e de líder do partido. Em França, o partido de centro-direita, “Os Republicanos” (de Nicolas Sarkozy) tem sido absorvido pelo partido de extrema-direita de Marine Le Pen, “Frente Nacional”, e pelo partido de Emmanuel Macron, “Em Marcha!”, como voto útil do eleitorado que se opõe à extrema-direita. Na Hungria, o partido Fidesz, outrora pertencente ao Partido Popular Europeu (agrupamento partidário democrata cristão/conservador no Parlamento Europeu, do qual fazem parte o PSD e o CDS), após a vinda de Viktor Orbán para a liderança do partido evoluiu para um partido de extrema-direita, encontrando-se actualmente suspenso do PPE.

A evolução da democracia-cristã europeia não é de todo risonha: outrora um pilar das democracias europeias, tem falhado sucessivamente os desafios que o século XXI tem trazido: não se tem imposto como uma alternativa ao capitalismo desenfreado, não é credível como oposição à extrema-direita antidemocrática. A democracia-cristã estagnou no século XX.


O futuro do CDS e a direita portuguesa


O CDS tem um problema interno: o facto de historicamente agregar várias correntes ideológicas- democratas-cristãos, conservadores, liberais- impede a solidez do partido perante a nascença de partidos ideologicamente vincados (Iniciativa Liberal e CHEGA), para além do recente ambiente de guerra interna não ser favorável em época de pré-campanha para as eleições legislativas. No entanto, o estado doente do CDS parece ser, acima de tudo, sintomático de uma regressão da família ideológica em que se insere, sendo a dinâmica interna apenas a cereja no topo do bolo.

É inegável que o CDS sempre foi essencial para a democracia portuguesa, na construção de uma direita conservadora e democrática. O desaparecimento do CDS, apesar de não ser uma certeza, é uma ameaça real, que se se concretizar deixará um espaço vago na direita por ocupar- nomeadamente por um partido perigoso, extremista, antidemocrático.

Tem-se observado um crescimento constante do CHEGA nas sondagens, que indiciam que este partido poderá tornar-se o terceiro partido político mais votado em Portugal. Com o esgotamento do governo socialista e da geringonça, os media têm repetidamente falado da hipótese de um bloco central- coligação de governo PS/PSD.

Neste cenário de futuro, o principal partido da oposição estaria no governo, o CDS seria inexistente, deixando o CHEGA numa posição confortável para liderar a oposição, algo no mínimo alarmante. A direita conservadora ficará órfã democraticamente. Mas isto tudo hipoteticamente, claro.

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