Valerá para todos os inícios do nosso calendário gregoriano uma ideia de renovação: o início implicou um término, uns maiores que outros, como será o secular, por exemplo. Mas, nas nossas vidas, grandes momentos não esperam pela mera passagem de cem anos agrupados para os seguintes…
Será culturalmente universal a esperança depositada e manifestada quando o relógio, nesses particulares dias, bate as doze badaladas. De Fernando Pessoa a “Sleepless in Seattle”, a arte também comprova um interesse nessa atemporal imagem, para não mencionar as milhentas invenções humanas desenhadas (e erário público gasto) pelo mundo fora para mudar e surpreender o Homem Médio. É um verdadeiro testamento da nossa vontade invocada à mudança; quiçá, uma instantânea e efémera ponte de acordo por todo o espectro político.
No mundo universitário, esta singularidade é igualmente acolhida, mas percecionada assimetricamente pelo espaço, não fosse o tempo relativo.
Sorte a nossa, calha mesmo no ponto de junção entre “férias” e o apogeu da época dos exames. Variará consoante a pessoa e a sua agenda, mas arrisco a dizer que o “ano novo” não é sentido, para estes propósitos, com tanta gravidade como será o final dos exames escolares…
À euforia e desejo de continuação, de sobrevivência académica, se junta, então, a renovação, relegada à secundarização, pois, quando chegados aos primeiros momentos do ano, que seriam de catarse, já nos esquecemos das vindas de promessas e realinhamentos que costumávamos fazer quando mais novos. Até o próprio ar, as pessoas, pareciam reinterpretados, o que contrasta com a absoluta falta de deslumbramento registada nessa ocasião.
Crescemos, será “só mais um evento”, e também quando é que uma mente impaciente não se estará a reinventar? Apenas crentes e alheados à exigência real, que os estudantes creem sentir, podem possivelmente reservar uma noite, um momento de desejo e reimaginação.
Contudo, para quem se resigna a aceitar isso terá o final da época de exames como um “proxy” de tal momento; esse sim, será um “evento”. E para quem se recusa; bem, também não terá assim tanto tempo quanto isso para poder deambular sobre tal assunto sem se cronometrar.
Cada um de nós no mesmo espaço de tempo experienciou única e indefetivelmente. O bom, o mal, e o outro fizeram parte. É bom relembrar nestas épocas que a vida não é apenas feita de celebrações, como ela própria, per si, é uma! E a saúde mental dos jovens é algo extremamente mediático e com boa razão. É empiricamente atestável pelo estado de cansaço visível durante os exames que o “stress”, ou os seus valores mais elevados do que a média saudável, é mais vezes a regra do que a exceção.
Uns diriam que faz parte, outros diriam que não. Mas não creio ser essa a primeira coisa a se verificar nesta situação. Antes de mais, o que sobressai à vista, à pura curiosidade humana, é o quanto eles aguentam e não desistem. Desde melhorias e recursos até à importante tentativa, o jovem universitário é incrivelmente resiliente, mesmo que, por momentos, isso lhe seja desconhecido, mas, afinal, não existirá observador mais parcial nesse caso.
A ideia prevalecendo-se de oportunidade, como constatado anteriormente, o momento de reflexão há de aparecer. É imperativo. Mesmo para os que demasiado pensam é necessária uma paragem do seu comboio mental e visualizar a própria viagem…
Não parece inverosímil que quaisquer que sejam as mudanças que cada um deseje erguer sejam improváveis, nem muito menos impossíveis. As “resoluções do término dos exames universitários”, ou a formalização das “coloquiais doze passas”, podem ser verdadeiros apoios à realização pessoal, quer em termos intersubjetivos, quer em termos objetivo-académicos, principalmente, em momentos tão turbulentos e desidratantes, uma vez que oferecem a opção de definir com clarividência objetivos a realizar.
O segredo está em começar pequeno no âmbito de ação das mesmas, devido ao seu “compouding effect”, e aproveitar a parcialidade cognitiva que temos por novos começos e os seus proxies. Pelo menos, é esse um dos corolários dos aforismos da autoajuda.
E porque não entrar com o pé direito?
O curioso da calendarização é que ela, tal como as nossas vivências, é sempre singular e nem pretende parar. Reconhece-se que será surreal sair de uma época de exames, mas também será incrível ser surpreendido pela passagem de mais um ano. Porque não celebrar o que conseguimos e ambicionar o que falta, tal é a ingenuidade e engenhosidade humana?
E porque não entrar com o pé direito? Se calhar, basta tentar.
José Pedro Carvalho
Mundo Universitário
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