Praxe é uma palavra indissociável da Academia. Desde os tempos primordiais da nossa faculdade, representa união e família para os estudantes que acolhe. O Tribuna procurou conhecer os entranhes desta ‘muy nobre traditio’ pelas palavras de Pedro Teixeira, Iuris Dux Facultis.
1. De que forma é que a praxe marca a diferença face a grupos alternativos que existem no cerne da Academia?
Responder a esta questão não é mais do que evocar uma tradição que, não sendo possivelmente ancestral, como por vezes a pretendem fazer, tem largos anos de história – é preciso não esquecer que somos o grupo académico mais antigo da Faculdade de Direito, existindo desde 1995. É esta tradição tão nossa, esta genética própria e singular, bem como todas as experiências e momentos que daqui decorrem, que marcam a nossa diferença em relação aos restantes grupos académicos, e tornam a Praxe algo único e inimitável, não obstante haver sempre tentativas nesse sentido.
2. A praxe é, muitas vezes, uma tradição académica mal compreendida, quais os principais equívocos que devemos desmistificar?
Continuamos a ter muita gente a perguntar, por exemplo, se é necessário ser praxista para usar o Traje Académico. Ora, e como fazemos questão de explicar, o uso do Traje Académico é um direito inalienável de qualquer estudante universitário, não estando dependente da pertença a qualquer grupo ou movimento académico, contrariamente ao que muitas vezes se ouve dizer.
3. Como é que a praxe é afetada pelas polémicas que têm surgido? Consideras que isso desencoraja os caloiros?
Penso que, atualmente, essas questões se encontram definitivamente ultrapassadas. Na verdade, e mesmo em 2013, quando as polémicas estavam mais acesas, sempre sentimos que existia uma capacidade salutar, principalmente dos estudantes mais novos, para compreender que algumas práticas menos corretas, que possam ocorrer noutros lugares, não nos definem, nem representam o que a Praxe é para nós. Qualquer generalização neste sentido, em especial no caso da Praxe da Faculdade de Direito, é errada, e sentimos que quem nos conhece facilmente percebe isso.
4. As vossas atividades pressupõem, em regra, um regime presencial. Como é que lidaram com as restrições impostas pelo contexto particular que vivemos?
As sucessivas restrições que foram aplicadas já desde 2020, em função da pandemia provocada pela Covid-19 obrigaram-nos, à semelhança do que aconteceu com todos nós, a suspender as nossas atividades, até por uma questão de saúde pública e de proteção. Assim, e como acabou por acontecer com a generalidade das pessoas e dos grupos, passamos as nossas atividades para o mundo on-line, onde temos realizado diversas tertúlias e momentos de convívio com estudantes de todos os anos, desde caloiros a veteranos, não só para nos dar a conhecer, como para manter vivos os laços que nos unem.
5. A semana da queima é, como sabemos, um momento com enorme relevância para a praxe, à luz da situação atual, e pelo segundo ano consecutivo, as tradições académicas terão de ser postas em stand by. Como estão a pensar marcar a data?
Como já é de conhecimento geral, esta semana, tão cheia de significado, foi celebrada à semelhança do que já aconteceu no passado: com a transmissão de uma Serenata aos Finalistas, gravada na Sé do Porto, e que contou com a presença do nosso Grupo de Fados. Simultaneamente, teve lugar uma Missa de Finalistas, bem como uma Beneficência, que apenas terminará no final do mês de maio, e que aproveito para divulgar e para convidar todos a associarem-se. Não soube ao mesmo, claro, mas ajudou a matar as saudades.
6. A praxe como meio de integração. Concordas?
Sem dúvida alguma. Não será certamente o único meio de integração do ensino superior, mas, para mim, foi e é o meio de integração por excelência. A diversidade de pessoas que conhecemos, que vivem pela primeira vez estes momentos ao nosso lado, as experiências, o convívio contínuo, as atividades que vão sendo realizadas, os momentos únicos, os sentimentos – tudo somado acaba por proporcionar uma inclusão que não se encontra noutro local. Aliás, não é à toa que quando falamos da Faculdade de Direito, continuamos a chamar-lhe Casa.
7. Sentes que há uma necessidade da praxe se reinventar para os anos que se seguem?
Penso que, no geral, a Praxe se vai sempre reinventando e adaptando aos novos tempos, às novas pessoas, às novas mentalidades – a Praxe, ou pelo menos a Praxe da Faculdade de Direito da Universidade do Porto não é um fenómeno estático, imutável ou antiquado. Aliás, basta ver que aquilo que era o nosso dia-a-dia há dez anos já não o é neste momento, evoluindo sempre. Contudo, penso que a situação atual de pandemia provocará algumas alterações que nos acompanharão a todos nos próximos anos, e que acontecerá o mesmo com a Praxe – penso, por exemplo, na cada vez maior prevalência do digital nas nossas vidas. Não obstante, há coisas que nunca mudarão: o contacto entre as pessoas, os momentos de convívio, a aprendizagem, o privilegiar estar, e contactar com as pessoas, o viver os momentos diretamente, em detrimento de os viver por proxy atrás de um ecrã.
8. De que forma é que a praxe contribuiu para a tua experiência universitária?
Não só ajudou a fazer com que o meu percurso académico fosse mais rico, em vivências e experiências, como me permitiu conhecer pessoas inigualáveis, com quem aprendi (e continuo a aprender) imenso, dos mais velhos aos mais novos, como me permitiu crescer enquanto pessoa e enriquecer-me como ser humano. Costumo dizer muitas vezes que aquilo que sou hoje, a nível pessoal e profissional, deve muito à Praxe, e precisava de uma vida toda para agradecer por isso.
9. Há alguma mensagem que gostarias de dar aos futuros caloiros?
Possivelmente a mesma que ano após ano, quer eu, quer os restantes membros do Corpo Praxístico, transmitimos: que venham, que experimentem, que formem as suas próprias conclusões e que nos permitam dar-lhes a conhecer este nosso mundo tão próprio e que tanto carinho nos merece.
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