Miguel Louro é o Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (AEFDUP), eleito em maio de 2023. Nesta entrevista, fala-nos do que o fez avançar para a presidência da Associação de Estudantes (doravante, AE), das principais propostas que pretende implementar este ano e da importância do associativismo.
Porque decidiste avançar como presidente desta lista para as eleições da Associação de Estudantes?
A AEFDUP fez parte do meu percurso académico praticamente completo. Eu entrei no primeiro ano (ano da pandemia)- entramos um bocadinho mais tarde, em outubro, depois houve, logo a seguir, em novembro, o Associa-te e eu candidatei-me e entrei em Ação Social.
Nos 4 anos da minha licenciatura estive na AE e tive esse percurso de crescimento, desde colaborador, vogal, até coordenador e, na altura, a meio do ano passado, ao falar com outras pessoas e ao pensar naquilo que eu queria para a AEFDUP, achei que fazia sentido e que tinha essa capacidade para levar esse projeto para a frente, com um conjunto de pessoas bastante alargado que estava comigo. Estávamos juntos neste projeto de levar para a frente aquilo que acreditávamos que era melhor para a AEFDUP, de acordo com a nossa experiência e com as ideias que tínhamos para melhorar. Vindo de dentro, sabíamos o que era preciso melhorar, aquilo que estava já a ser bem feito e, depois disso, continuar.
Foi essa reflexão que me levou a achar que fazia sentido e que tinha uma equipa capaz de fazer o melhor possível para a AEFDUP.
Que papel teve e tem o associativismo na tua vida académica?
O associativismo é, basicamente, quase tudo da minha vida académica. Como disse, estou na AE desde o meu primeiro ano - eu digo muitas vezes “a AE é o meu grupo académico”. Outras pessoas têm a Praxe, o GAFDUP, as Tunas, a ELSA, a IURIS, etc. - tudo isso é ótimo e acho muito importante as pessoas poderem integrar-se nesses grupos, mas no meu caso foi a AE que me integrou.
O associativismo e esta capacidade de estarmos cá todos os dias e tentar servir os estudantes de uma forma ou de outra, ouvi-los e fazer aquilo que é o melhor para eles e para todos, foi algo que me foi muito incitado desde o primeiro ano pelos antigos associativistas, muito mais velhos que eu, e que foi crescendo dentro de mim. Foi fundamental ao longo destes 4 anos para me desenvolver enquanto estudante e enquanto associativista. Portanto, o associativismo foi fundamental naquilo que foi o meu percurso académico.
Qual sentes que é o teu maior desafio enquanto presidente da AEFDUP?
Enquanto presidente e dirigente associativo no geral, diariamente somos confrontados com diversas pessoas, com diversos problemas, seja por várias questões relacionadas com a nossa Faculdade, que nem sempre funciona como deveria, seja com questões mais pessoais, por exemplo, com dificuldades em arranjar habitação, problemas sociais relativamente graves, dos quais nem temos noção quando não estamos neste meio e aos quais temos de ser capazes de apresentar uma resposta, de pensar em iniciativas tanto a nível individual, para as pessoas que têm esses problemas, como a nível coletivo que possam agradar a todos os estudantes, de forma a proporcionar-lhes a melhor experiência académica possível, tanto a nível recreativo, nas festas que fazemos, tanto a nível pedagógico, nos cursos que apresentamos, como o que fazemos em todos os outros Departamentos.
Portanto, lidar diariamente com todas estas questões que nos chegam e conseguir dar-lhes uma resposta, mesmo sabendo que com estas iniciativas não vamos agradar a todos, tentamos fazer aquilo que achamos que vai servir o maior número de estudantes da melhor forma possível. Sermos capazes de ouvir toda a gente e garantir que todos saibam que têm toda a vontade e liberdade para vir ter connosco, comigo em particular, e dizer aquilo que acham do que estamos a fazer, do que estamos a fazer mal, do que estamos a fazer bem, ter essa proximidade. Lá está, somos dirigentes associativos, mas nunca deixamos de ser estudantes, continuamos a ter exames, uma vida, família, amigos, gostamos de ir beber uns copos…
Por isso, o maior desafio é garantir que toda a gente tem essa possibilidade e liberdade de vir falar connosco.
Em que é que as propostas e ideias da tua equipa diferem das anteriores? Há alguma inovação que queiras destacar?
A maior parte da equipa, nomeadamente a Presidência e os Coordenadores, vêm da AE anterior, portanto, há sempre essa ideia de continuidade em relação ao que foi feito. Mas é uma continuidade sempre no âmbito da melhoria e é isso que todos precisamos: que quem vier a seguir, seja de dentro ou de fora da AE, venha melhorar o que nós estamos a fazer. Acho que esse é o nosso desejo.
Dito isto, acho que estamos a tentar ter um papel mais forte naquilo que é a representação externa da AEFDUP e, mais do que isso, divulgar a todos os estudantes aquilo que nós fazemos, seja a nível de palestras que estamos a preparar para, de facto, deixar os estudantes saber aquilo que são as nossas lutas, seja ao nível das bonificações – a nossa luta mais antiga –, seja ao nível de outras coisas que fazemos a nível externo, que ficam mais dentro da AE e não saem tanto para fora. Ao nível da pedagogia temos dois ou três cursos novos e aqui o mérito é todo do nosso Departamento de Pedagogia – de facto, estou-me a lembrar, assim de repente, do Curso de Práticas Processuais Penais e Civis que vamos ter. São inovações que acho ainda importantes para colmatar falhas que a nossa Faculdade tem. É essa falta de componente prática que estamos a tentar colmatar. Estamos a tentar arranjar novos estágios. A nível da ação social, temos agora um projeto com a IMPAC’TU na junta de freguesia de Ramalde, algo inovador que é trazer pessoas da FDUP para um voluntariado mais regular, também para fomentar essa consciência social.
Estas são algumas iniciativas que estamos a tentar introduzir, mas lá está, há uma certa linha de continuidade e melhoria contínua das iniciativas que já tínhamos, por forma a envolver mais os estudantes naquilo que é a AE.
Em que aspetos achas importante ter uma Associação de Estudantes dinâmica e atenta numa faculdade? Pode haver o estigma de que as AE se destacam, essencialmente, pelas festas. Consideras que esta ideia banaliza o seu papel preponderante?
Claro, isso vai ao encontro do que eu estava a dizer anteriormente. Eu acho que os nossos principais desafios são não nos fecharmos em nós próprios, nos 40/50 membros que somos e lembrarmo-nos que estamos a representar 1600 estudantes.
Uma associação de Estudantes como a AEFDUP é uma Associação de Estudantes relativamente pequena, ao nível da academia do Porto e do número de estudantes que representa, o que se transparece, por exemplo, no financiamento que recebemos. Tendo em conta essas condicionantes, tentamos atuar no máximo de áreas possíveis. Acho que é importante complementar a oferta formativa que a Faculdade nos oferece já que, às vezes, é relativamente limitada e também ao nível das atividades culturais e atividades de ação social, para fomentar a consciência social dos estudantes. Temos ainda as atividades desportivas, participando nos campeonatos académicos, o que é algo importante. Mas, lá está, a vertente recreativa é importante, pois as festas fazem com que as pessoas consigam desligar um pouco deste mundo académico de testes, estudo constante, etc., mas não podem ser tudo.
Acho que nós, enquanto dirigentes associativos, não podemos cair na falácia de nos fecharmos em nós mesmos e sermos só um conjunto de amigos que estão aqui para se divertir e beber uns copos, mas também não podemos ser pessoas que se desligam do resto do mundo e acham que o associativismo é política ou é só política e estarmos aqui cheios de formalismos, atrás de computadores fechados num gabinete. Acho que é preciso um complemento entre os dois: sabermos que estamos aqui a fazer uma coisa importante, fizemos um juramento, no início do ano, de representar todos os estudantes e, às vezes, é preciso estar atrás de um computador a trabalhar, mas também é preciso estar lá fora, na esplanada, a beber uns copos com os estudantes e a ouvir os problemas deles.
Nunca nos podemos esquecer do papel que desempenhamos enquanto dirigentes associativos e nunca podemos esquecer que continuamos a ser estudantes também e temos as nossas próprias preocupações. Portanto, é sempre preciso um complemento entre estas duas vertentes, o que nem sempre é fácil.
Como Presidente da AE e dirigente associativo, durante vários anos, qual é o legado que gostarias de deixar na Associação de Estudantes, para o futuro?
Esta Casa, tanto ao nível físico, como institucional, está aberta a todos e não só a nós que somos dirigentes associativos. Portanto, a AE é verdadeiramente de todos.
Gostaria também de deixar um legado de certa independência em relação àquilo que nós fazemos. Falo em independência não só ao nível político, porque a nível nacional vemos muitas associações de estudantes que são controlados por um quadrante político, seja ele qual for, e acho que a nossa AE é diferente nisso. Claro que existem dirigentes associativos filiados em Partidos e não há nenhum problema com isso, é de facto ser independente e ser independente em relação a outros órgãos. Isto reflete-se, por exemplo, na capacidade de, a nível externo, defendermos os nossos estudantes e aquilo que de facto é bom para eles e não aquilo que se calhar ficaria melhor para um dirigente associativo que aspira a cargos mais altos.
Acho que esse legado de independência e proximidade com os estudantes é aquilo que gostava de deixar aos próximos dirigentes associativos.
És finalista do curso de Direito, por isso, este é o “ano da despedida”. Para aqueles que estão a começar o seu percurso na FDUP que conselhos podes dar?
Antes de mais, quem está a começar o seu percurso na FDUP já está a ser inundado, de todo o lado, de stress, problemas, exames e de compromissos dos vários grupos académicos. No fundo, percebam que isto é tudo muito importante, mas paradoxalmente nada é assim tão importante. Falhar um exame, não entrar para uma entrevista, errar nisto ou naquilo, tudo isso tem uma solução e nós estamos aqui uns para os outros. Daquilo que eu vejo ao longo dos anos e do contacto que tive com várias Faculdades devido ao Associativismo, nós temos um bom ambiente na FDUP. Se calhar por estarmos isolados dos outros estudantes da Academia, temos também a possibilidade de ter esse ambiente de proximidade e de entreajuda.
Portanto, o que eu tenho a dizer aos estudantes do 1.º ano é que não se apressem, entrem num certo grupo académico, se acharem que isso faz sentido, criem um grupo de amigos e, lá está, façam essa mistura entre o curso e o estudo com beber uns copos na esplanada da AE uns com os outros.
O Curso, muito mais do que Direito ou Criminologia, é as pessoas que conhecemos, as experiências que construímos e estes 4 anos são, de facto, aqueles em que podemos ter essa liberdade de não nos preocuparmos com outras coisas. Portanto, pura e simplesmente aproveitem para que os pontos positivos sejam muito mais recordados do que os aspetos negativos.
Inês Oliveira e Marta Pimentel
Departamento Grande Entrevista
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