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Foto do escritorSofia Marques

Entrevista ao Grupo de Fados da Faculdade de Direito da Universidade do Porto


O Grupo de Fados da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (GFFDUP) foi fundado no ano de 1998, somando 23 anos de existência a promover o Fado Académico e a Faculdade de Direito da Universidade do Porto. Conta, atualmente, com 6 membros ativos e com mais de 30 integrantes, que por ali passaram.


No passado dia 30 de abril, o Jornal Tribuna esteve à conversa com 3 dos seus membros: Rafael Pereira, estudante de mestrado na FDUP, João Parada e Tomás Matos, ambos estudantes da licenciatura em Direito na FDUP.



Para quem ainda não vos conhece, como se descreveriam?


Rafael

O GFFDUP é um grupo de estudantes que foi fundado em 1998, por ocasião da nossa primeira serenata. Com esta primeira serenata, realizada integralmente pelo GFFDUP, marca-se uma espécie de Grito do Ipiranga, ou seja, uma libertação académica da FDUP. Surgem, então, sucessivas gerações do Grupo de Fados, ao longo dos vinte e cinco anos da FDUP. Presentemente, representamos um grupo ligeiramente envelhecido, dado que o nosso membro mais novo frequenta atualmente o último ano da Licenciatura em Direito. Este envelhecimento, embora não negativo, acontece por vicissitudes da vida académica.

Para além destas características formais, em termos musicais, pautamo-nos pela demonstração da Canção de matriz Coimbrã ou Fado Académico, com a guitarra portuguesa afinada um tom abaixo do tradicional Fado Vadio. Apresentamos vozes mais melancólicas, temas de amor, saudade e vida académica, trazendo a Canção Coimbrã para a faculdade. Pautamo-nos ainda pela irreverência estudantil e académica, propugnando que não somos alunos, somos sim estudantes. Inserimo-nos num universitas magistrorum et scolarium, ou seja, num conceito de universidade do mestre e do estudante, lugar esse onde procuramos a ciência jurídica em conjunto. Somos, então, uma voz ativa que intervém na reivindicação dos direitos estudantis.


João

Acrescento que, para além da música de amor e saudade, é ainda muito relevante a música de intervenção. Existem inúmeros fados que tiveram, na história, esse pendor interventivo e esse tal pedido de mudança das condições, sendo este, também, um dos nossos pilares.



Como funciona o vosso processo de recrutamento?


Tomás

Processo de recrutamento é, de facto, um termo muito geral. Poderei dizer que o nosso processo de recrutamento é, acima de tudo, algo que vai mudando com o passar dos anos. Normalmente, temos um ensaio aberto onde tocamos as nossas músicas para quem nos quiser ouvir, procurando mostrar o nosso reportório. Explicamos, nesse ensaio, a matriz do Grupo de Fados: de onde vimos; quem somos; o que defendemos; se nos associamos, ou não, a Coimbra; quais são os nossos instrumentos. O processo de recrutamento é muito fluido e evolui com os próprios estudantes da nossa faculdade. Estamos sempre abertos a receber estudantes nos nossos ensaios e convidamos quem quiser a assistir.


Rafael

No entanto, mais do que a vontade de querer pertencer ao GFFDUP e de se associar a nós, é importante relembrar o nosso único requisito: ser do Corpo Praxístico da FDUP. Somos um grupo que pertence ao Corpo Praxístico da FDUP, sendo naturalmente essa pertença um requisito. De resto, nunca fechamos portas.



Qual é o vosso papel na FDUP?


Rafael

Eu diria que é um papel estável. Damo-nos imensamente bem com ambas as Tunas (TAFDUP e Legislatuna). Curiosamente, a nossa formação atual faz também integralmente parte da TAFDUP. Temos também ótimas relações com a AEFDUP. É verdade que, às vezes, passamos a imagem de um grupo ligeiramente desconhecido para a comunidade estudantil, mas esperemos que isso mude. Nestes últimos dois anos letivos, anos nos quais nos encontrámos menos ativos, vimos a nossa imagem mudar, dado que o nosso principal foco de atuação se concentra na Serenata de Receção ao Caloiro e na Monumental Serenata da Academia do Porto. O nosso envelhecimento também nos tem feito perder uma imagem tão ativa nos estudantes, mas é da nossa vontade que isso mude. É extremamente importante que a nossa presença se mantenha viva para que possamos fazer sentir a voz dos estudantes e a Canção de Coimbra.



A propósito disso, constata-se que há quem não tenha noção das diferenças entre o GFFDUP e a TAFDUP. Para os menos entendidos, o que é que vos distingue?


João

Ora, para além do óbvio, ou seja, um dos grupos ser uma Tuna e outro ser um Grupo de Fados, o que os distingue verdadeiramente é o reportório. Nós apenas tocamos o Fado de Coimbra e a música ligada à tradição coimbrã. Para além disso, os instrumentos que tocamos são também um fator de diferenciação. O Fado de Coimbra é tradicionalmente acompanhado pela viola e pela guitarra portuguesa, ao passo que as tunas têm uma variedade instrumental muitíssimo maior.


Tomás

Na FDUP, as semelhanças que encontramos entre os dois são, de facto, a existência cumulativa de integrantes dos dois grupos. De resto, tocamos estilos musicais diferentes, temos histórias diferentes e apelamos a sentimentos completamente diferentes. Ou seja, transmitimos mensagens e espíritos diferentes.



O Fado é indissociável de qualquer percurso no Ensino Superior. Como lidam com a responsabilidade de personificarem uma das maiores tradições académicas portuguesas?


Rafael

O Fado tem uma presença enorme nas nossas vidas. É curioso como, por vezes, vemos pessoas que ainda nem estão na faculdade já a cantar as músicas mais conhecidas deste estilo. Encaramos esta realidade com muita responsabilidade e com um romantismo tremendo, sendo esta missão de extrema relevância para nós. Tentamos não só manter a tradição viva, como também fazê-la avançar. Para isso, temos composto algumas músicas, aliás, compusemos orgulhosamente uma das baladas (Balada da Despedida de Direito 2013-2017) que mais tem ganhado relevância na Universidade e Academia do Porto. Sentimos nas mãos a missão de manter viva e acelerada a nossa tradição, bem como a de todos os Grupos de Fados portuenses.


João

Num grupo tão tradicional como o nosso há sempre a tendência de tocar os grandes clássicos da música académica, bem como a responsabilidade de os tocar com qualidade. O GFFDUP procura não só continuar a tradição, como também fazer com que esta evolua. É importante que se explorem as novas sonoridades que enriquecem a música coimbrã e que se trabalhem arranjos de músicas, para que se deem a conhecer cada vez mais temas. É também assim que encaramos a nossa missão: procurando inovar o estilo tradicional.



Já confidenciaram ao Tribuna que estão a preparar um álbum novo. O que já nos podem dizer acerca dele?


João

Este novo álbum corresponde à expectativa de contributo para a tradição académica, bem como para a sua evolução. A pandemia atrasou, infelizmente, este processo, mas posso desde já adiantar que este novo álbum conta com muitas surpresas.


Rafael

Para além de conter grandes clássicos reinventados e ainda alguns originais nossos, podemos revelar também que o nosso novo álbum conta com algumas das vozes das várias gerações do GFFDUP. Assinalo ainda que este novo álbum presta uma sincera homenagem ao Filipe Gaspar, estudante tão marcante na nossa faculdade.



Atuaram na Serenata de Receção ao Caloiro da Academia do Porto, que foi transmitida no Porto Canal, no ano letivo de 2020/2021. Como descrevem esta vossa experiência?


João

A palavra que descreve esta experiência é, sem dúvida, reinvenção. Para além da clara novidade da transmissão televisiva da Serenata, gravámos de máscara num estúdio de televisão, ou seja, num ambiente completamente novo. Foi realmente uma experiência muito diferente, mas foi, sem dúvida, o máximo que conseguimos fazer para proporcionar aos estudantes algo que é seu por direito. Nunca iríamos estar parados à espera que as coisas melhorassem, antes pelo contrário, tentámos sempre dar o nosso melhor e fazer o que era possível.


Rafael

Duas das nossas maiores missões são, de facto, essas duas serenatas. Sofremos um aperto no coração por todos os estudantes que se viram e veem ainda privados de obter a sua melhor receção ou a sua melhor despedida e, portanto, quando o convite chegou era impossível não concentrarmos todos os esforços possíveis para fazer a atuação acontecer. Fizemo-lo pelos estudantes, pela FDUP, pela Universidade do Porto e pela Academia.



Atuações telemáticas: um sim ou um não? Porquê?


Rafael

Idealmente são um não, dentro dos possíveis são um sim. Quando nos for permitido atuar presencialmente essa será, sem dúvida, a nossa primeira escolha. No entanto, não sendo possível, nunca diremos que não a novas oportunidades, procurando estar lá para quando precisarem de nós.


Tomás

Para além disso, acaba por existir um certo sentimento de dever, por parte de todos os Grupos de Fados, de proporcionarem o melhor que conseguirem a todos os estudantes da Academia do Porto. Se o meio digital for a forma mais segura, então adotá-lo-emos o tempo que for necessário. Sabemos que não é o ideal, mas sempre é algo que poderemos fazer.


João

[risos] Não somos muitíssimo fãs dos meios digitais, mas em condições normais estamos sempre mais do que disponíveis para ir tocar à televisão.



E os vossos ensaios, têm sido adaptados ao meio digital, ou encontram-se parados?


João

Enquanto o confinamento geral vigorou, não houve, de facto, a possibilidade de nos juntarmos. Quando as medidas ficaram menos restritas já pudemos voltar a estar juntos e a ensaiar. Também conseguimos ir a estúdio e gravar alguns vídeos, onde houve, felizmente, muito à vontade e dinâmica de grupo. Procurámos estar sempre em contacto uns com os outros, renovar o repertório e ensaiar individualmente. Como somos atualmente seis membros, podemo-nos juntar, desde o dia 19 de abril, numa mesa de uma esplanada e ensaiar, e é isso que temos feito.



Quais são os principais desafios que têm enfrentado?


Rafael

Renovação. As pessoas gostam de ouvir Fado, é verdade, mas é surpreendentemente difícil arranjar quem o queira tocar. Creio que isto acontece porque os estudantes acham a guitarra portuguesa um instrumento difícil, mas isso não é um problema, pois temos quem a ensine. O receio de vir experimentar e aprender sempre existiu, mas enalteceu-se com a pandemia. Numa Tuna, por exemplo, é mais fácil as pessoas sentirem-se, desde logo, mais à vontade para aprender, o que nem sempre acontece connosco. As pessoas acham, muitas vezes, que não têm as capacidades necessárias, o que é um conceito erróneo. Não é preciso ser um excelente instrumentista ou cantor, basta vontade, querer e ter tempo para aprender.

No contexto específico da pandemia, temos lidado com alguns desafios internos, tais como: estar juntos, manter o ritmo dos ensaios, manter a vontade ativa, entre outros. No entanto, nós não nos sentimos desmotivados, pelo contrário. Somos um grupo com uma atividade tão bonita que dificilmente encontramos resistência por parte da sociedade, em geral, à nossa atuação.


João

Ora, a curto prazo, os nossos desafios são precisamente esses: fazer a melhor atuação possível na Serenata e lançar o nosso CD o mais brevemente possível, convidando toda a gente que esteja interessada e que pertença ao Corpo Praxístico da FDUP a juntar-se a nós.



Se pudessem escolher um tema do vosso reportório que simbolize, de alguma maneira, o que temos vivido, qual escolheriam?


João e Tomás

Turbilhão. É um instrumental sem letra que se adequa perfeitamente a esta situação e é, sem dúvida, a nossa escolha.


Rafael

Fado Hilário. É o tema que mais descreve a minha vida académica.



Que mensagem final gostariam de deixar aos nossos estudantes?


Rafael

Àqueles que tiveram agora o seu ano de caloiros: nada vos foi roubado. Foi uma experiência atípica, é verdade, mas acredito que o futuro nos trará maiores e melhores experiências. Entreguem-se às oportunidades que a faculdade oferece e tudo vos correrá bem.


Àqueles cuja experiência académica termina por aqui: não tenham pena. A experiência foi diferente, é facto, mas não foi uma má experiência apenas por ter sido diferente. Eu, pessoalmente, gosto de a ver como uma experiência única. Sintam-se felizes por terem vivido esta unicidade, mas, ao mesmo tempo, não deixem de chorar a mágoa por aquilo que não viveram. O que é verdadeiramente importante é terem conseguido enfrentar esta experiência tão atípica.


A todos os restantes estudantes: o nosso coração pesa por toda a gente, mas continuaremos todos a estar juntos e a sermos estudantes juntos. No final do dia, as nossas capas, as nossas vivências e os nossos momentos académicos serão a nossa verdadeira casa. Conseguiremos sair desta situação de cabeça erguida, convictos de que fizemos o melhor possível!



Por Sofia Marques, redatora do Departamento da Grande Entrevista do Jornal Tribuna


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