O Jornal Tribuna entrevistou Yasmin Pinto,
Chef Pasteleira e Proprietária da Brigadeiria do Porto.
1. Na posição de empreendedora, quais foram as suas primeiras impressões acerca da pandemia, do primeiro lockdown e os possíveis efeitos sobre o seu negócio?
Quando a pandemia começou, nós tivemos a sorte – quer dizer, eu observava o aumento do número de casos e o governo ainda não tinha decidido se iria fazer o lockdown ou não – de fechar uma semana antes do governo tornar o encerramento obrigatório. Considero que isso foi a melhor coisa que eu fiz durante a pandemia, porque como fomos os primeiros a fechar, também fomos os primeiros a reabrir na área dos bolos e doces.
Nós fechamos duas semanas para fazer a quarentena em casa e nesse período eu pensei em coisas para a Páscoa, pois estava muito próximo e acabei por adiantar trabalho. Nós reabrimos uma semana antes de todos, aproveitando esse “boom” para fazer várias publicidades nas redes sociais e para conseguir mais clientes. Então, no primeiro lockdown, o facto de eu fechar a loja antes da obrigatoriedade, foi o que fez alavancar o meu negócio durante a pandemia.
2. No segmento do seu negócio, doceria e cafeteria, como foi a experiência de trabalhar exclusivamente com regime de takeaway?
Em relação à minha loja, como sempre tive bastante cuidado em trabalhar bem nas redes sociais da Brigadeiria do Porto, trabalhar com a loja fechada apenas com takeaway e delivery foi muito bom. Na verdade, só retomei o atendimento presencial por pressão dos clientes – eles queriam muito a experiência de vinda à loja: sentar, pedir um bolo, brigadeiro ou pão de queijo e apreciá-los com um café. De facto, trabalhar de portas fechadas compensa bastante e é algo que eu poderia ter feito até o final do ano.
A única coisa má em trabalhar exclusivamente em takeaway de uma hora para a outra, é que eu ainda não tinha bem estruturada a logística interna de uma produção neste ritmo, bem como o gerenciamento de resposta remota aos clientes. Esse tem sido o nosso principal desafio. Como as pessoas estavam confinadas em casa, acabaram por ficar mais estressadas, ansiosas e, geralmente, com desejo de mais doces. O cliente “pandémico” tem menos paciência, tem muita pressa e quer as coisas “para ontem”. Então fomos tomados por uma avalanche de mensagens e de e-mails para pedidos e encomendas. A própria dinâmica do negócio mudou completamente: com a loja aberta, nós tínhamos um menor volume de vendas, mas conseguíamos dar atenção aos clientes no balcão e organizávamo-nos com base na lotação das mesas. Em regime exclusivo de takeaway, tudo funciona numa velocidade muito maior e com a qual ainda não estávamos habituados.
Para além disso, também há a questão das embalagens: no início da pandemia, houve um período bastante complicado em que a disponibilidade dessas embalagens para takeaway eram muito, muito escassas no mercado. Como toda gente passou a trabalhar nesse regime de uma hora para outra, houve momentos em que isto foi um aspeto muito complicado para os negócios de restauração. Hoje, as empresas que fabricam as embalagens já se adaptaram e não temos mais esse problema, mas, no início, foi realmente uma correria.
De um modo geral, trabalhar exclusivamente em regime de takeaway teve um saldo muito positivo para nós: as nossas vendas aumentaram – com a pandemia conseguimos triplicar as vendas diárias. Sem sombra de dúvidas, o bom resultado que alcançamos foi graças ao trabalho que sempre fizemos nas redes sociais.
3. Como foi a resposta/apoio da sua clientela ao longo dessa pandemia?
Desde o início, tivemos muito apoio dos clientes da Brigadeiria, principalmente de quem já era cliente e frequentava a loja muito antes da pandemia aparecer. Essas pessoas já perceberam que o negócio estava a crescer e que as coisas estavam a mudar por aqui, desta forma, eles já se estavam a adequar à demora nas respostas.
Nós tínhamos um plano de ampliação dos recursos humanos em 2020, mas, com a pandemia, tudo teve de ser adiado. Então, eu senti muito o apoio e a compreensão dos clientes. Inclusive, no início da pandemia, quando eu estava muito preocupada e apreensiva, com receio de que as coisas não corressem bem, nós lançamos uma campanha de vouchers de oferta, em que o cliente pagaria a metade do bolo e poderia usá-lo dentro de seis meses a partir da compra, e tivemos muita recetividade por parte da clientela. Isso foi algo que me deixou muito feliz. Observei que o saldo da pandemia foi tanto uma melhora na quantidade, como na qualidade dos clientes da Brigadeiria.
4. Qual o impacto das redes sociais para dinamizar o seu negócio durante esse período pandémico? Trouxe mais visibilidade?
As redes sociais foram absolutamente fundamentais. Muitas pessoas descobriram a Brigadeiria através das mesmas, durante a pandemia. No entanto, essa ferramenta revelou-se como um “pau de dois bicos”: ao mesmo tempo que proporciona uma visibilidade sem precedentes para o negócio – quer pelas campanhas que lançamos na página do instagram, quer pela publicidade que é feita em parceria com a digital influencers; também gera uma procura que não é linear – o que torna difícil a organização da produção para que não haja prejuízos.
Infelizmente, há que mencionar alguns casos de haters.pessoas que, por estarem atrás da tela do telemóvel ou do computador, se sentem confortáveis para fazer críticas e comentários realmente indecorosos em relação a coisas que nem sempre estão ao nosso alcance ou diretamente ligadas ao nosso trabalho. Essa última parte é particularmente desgastante, mas é uma parcela ínfima daqueles que podem ser considerados como os clientes fiéis da Brigadeiria do Porto.
5. Quais seriam os aspetos positivos e negativos para o seu nicho de negócio?
2020 foi um mixed feelings. Em termos negativos, está a frustração do planeamento que havia sido feito para aquele ano: cancelamos alguns projetos, adiamos algumas das contratações que queríamos ter feito; sem deixar de mencionar a angústia e a ansiedade que sentimos ao longo da pandemia e, ao mesmo tempo, termos de trabalhar o máximo possível para atender à alta demanda da clientela, para que as contas fossem pagas e para que nos pudéssemos manter abertos.
O lado positivo de tudo isso foi a maior visibilidade do negócio, o aumento da clientela e, por consequência, o crescimento do negócio e das vendas. Enquanto inúmeros estabelecimentos do mesmo segmento fecharam as portas, nós conseguimos resistir e ainda crescer! Apesar das dificuldades, temos muito a agradecer aos nossos clientes – a grande comunidade que se tornou a Brigadeiria do Porto.
6. Quais são as perspetivas para 2021?
De facto, temos alguma preocupação relativamente às consequências gerais de 2020: o aumento do desemprego, a diminuição do poder aquisitivo e, inevitavelmente, do nível de consumo das pessoas. Entretanto, temos várias ideias e planos para as épocas festivas de 2021 – toda a gente pode esperar muitas novidades na parte da doceria e campanhas muito giras ao longo deste ano.
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