O que é o HIV/SIDA ?
É uma infeção pelo vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Este vírus afeta e enfraquece o sistema imunitário — responsável por defender/proteger o organismo de doenças —, uma vez que destrói determinados glóbulos brancos do sangue — os linfócitos. Este facto leva a que as pessoas infetadas fiquem mais vulneráveis no que toca a “ataques” por parte de outros organismos estranhos; deste modo, muitas vezes, as complicações ou morte decorrem como resultado de outras infeções que não a do HIV (diretamente).
Existem dois tipos de HIV: o VIH 1 e o VIH 2, sendo que o primeiro vê-se com maior frequência em todo o mundo.
A presença do HIV poderá desenvolver-se, transformando-se, assim, no síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA). Portanto, sendo da maior relevância realçar que o HIV e a SIDA não são a mesma coisa, quer isto dizer que existem muitos soropositivos que desconhecem que o são, assim, podendo ou não desenvolver SIDA. Contudo, continuam a ser transmissores, através, por exemplo de relações sexuais desprotegidas, partilha de seringas contaminadas, entre mãe e filho por via da gravidez ou até da amamentação, etc.
Por outras palavras, “A SIDA é um quadro clínico resultante da infeção pelo VIH (…)”, por conseguinte sendo a forma mais grave de infeção por HIV. Deste modo, “A infecção por HIV é considerada AIDS quando desenvolve pelo menos uma doença como complicação séria ou o número (contagem) de linfócitos CD4+ decresce substancialmente.”
A origem e desenvolvimento do HIV/SIDA
Acredita-se que o HIV/SIDA teve a sua génese na África Central, no final do séc. XX, através do contacto com chimpanzés selvagens presentes na região dos Camarões. Estes apresentam uma versão própria do vírus da SIDA, denominado de VIS (vírus da imunodeficiência símia). Supõe-se, então, que este tenha sido transmitido para o ser humano por via da caça de chimpanzés, assim, tendo ocorrido através do contacto com o sangue infetado dos mesmos.
Há estudos que acreditam que o HIV/SIDA se tenha começado a disseminar globalmente em meados ou finais do ano de 1970, contudo tendo sido transmitido para os humanos nos finais de 1800. Tendo esta disseminação sido potencializada pelo fim da colonização europeia, bem como devido às tensões da Guerra Fria. Para além disso, nos anos de 1960 e 1970 verificou-se a emigração de um grande número de haitianos para o Congo, tendo contraído o HIV, retornando ao seu país de origem sem conhecimento de que se encontravam infetados com o mesmo.
Assim, em 1981, viu-se reportado o aparecimento de formas raras de pneumonia e cancro em vários jovens homossexuais nos EUA. Isto levou a que numa primeira fase o HIV/SIDA tivesse sido denominada de Gay-Related Immune Defiency (GRID), uma vez que se acreditava que esta se encontrasse associada somente a homens homossexuais. Adiante, no fim desse mesmo ano foi também relacionada ao consumo de droga injetável.
Com o posterior relato por parte de médicos africanos de que a doença teria igualmente sido encontrada em pacientes heterossexuais, deu-se uma nova denominação (mais neutra) à doença, passando, em Setembro de 1982, a denominar-se de Síndrome da Imunodeficiência adquirida (AIDS).
Simultaneamente, em 1982, também se via o reportar de casos em países europeus — tais como Espanha, França e até na Suíça —, bem como, no Uganda.
A doença, devido às incertezas que trazia consigo, tais como o facto de não haver formas de cura ou de ter havido pessoas contaminadas através de transfusões de sangue, etc., difundiu o medo pelo mundo — assim, tendo-se marginalizado ainda mais aqueles que se encontravam infetados.
Em Janeiro de 1983, foi reportado a existência deste vírus em mulheres heterossexuais, portanto, descobrindo-se que o mesmo poderia ser transmitido igualmente no seio de relações heterossexuais.
No final do ano de 1984, tinham existido 7,699 casos de SIDA e 3,665 casos de mortalidade nos EUA, bem como 762 casos reportados na Europa.
Em abril de 1985 é realizada a primeira Conferência sobre o HIV/SIDA, nos EUA, em Georgia; tendo o mesmo ocorrido no Canadá, mais propriamente em Montreal. Para além disso, no fim desse ano já se tinha registado a divulgação de pelo menos um caso de SIDA a nível global, contando-se com o total de 20,303 pessoas infetadas por todo o globo.
No ano de 1986, comunicou-se a existência de 38,401 casos de SIDA à OMS — assim, a África (2,323), as Américas (31,741), a Ásia (84), a Europa (3,858) e a Oceania (395,35).
Em Março de 1987, viu-se aprovado o primeiro medicamento anti-retroviral, denominado zidovudine (AZT). Em dezembro deste ano, a WHO viu reportados 71,751 de casos de pessoas infetadas com SIDA, sendo que mais de metade desses casos tinham incidência nos EUA. Assim, a OMS estimou que 5-10 milhões de pessoas viviam com HIV em todo o mundo.”
Desta forma, em 1988, a World Health Organization decretou o dia 1 de Dezembro como o Dia Internacional da SIDA.
Já em 1990, estimava-se que “8 a 10 milhões de pessoas viviam com HIV em todo o mundo.” Os números de casos continuavam a crescer, uma vez que se viram oficialmente comunicados mais de 307,000 casos de SIDA, sendo que se estimava que o número fosse bastante mais elevado. Estimando-se, portanto, que entre 8 a 10 milhões de pessoas viviam com HIV por todo o mundo.
Em 1996, viu-se criada a UNAIDS (Joint United Nations Programme on HIV/Aids) estabelecida, de modo a defender e fomentar uma ação global, como também coordenar uma resposta contra a epidemia do HIV/SIDA por todos os países da ONU. Estimando-se, que 23 milhões de pessoas se encontravam infetadas com SIDA no fim deste ano.
Em 1999, notícias chocantes foram anunciadas pela WHO, quando divulgou que HIV/SIDA era a quarta maior causa de mortalidade globalmente e a primeira causa de mortalidade na África — estimando-se na altura que 33 milhões de pessoas viviam com HIV e que cerca de 14 milhões teriam falecido de SIDA, isto, desde o início da epidemia.
Com esta propagação sem estagnação à vista, a ONU, viu-se obrigada, em 2000, a adotar a Declaração do Milénio, onde se viram especificadas metas, de modo a travar e reverter a propagação de doenças como o HIV, a tuberculose e a malária. Uma outra organização anteriormente referida, a UNAIDS, conseguiu igualmente negociar com 5 empresas farmacêuticas com o intuito de reduzir o custo da medicação para o HIV nos países em desenvolvimento.
No ano de 2003, os EUA criam o PEPFAR (Plano de Emergência do Presidente dos EUA), um plano de 5 anos de apoio e combate à SIDA, nomeadamente nos países com um maior número de infeções. E a WHO desenvolveu a iniciativa “3 by 5”, ou seja, tendo o intuito de trazer tratamento a 3 milhões de pessoas infetadas até ao ano de 2005.
No ano seguinte, um grupo de oito nações (G8: EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá e a Rússia) desenvolvem o projeto “Global HIV Vaccine”, em que vários Estados e empresas do setor privado se juntam, de modo a promover avanços e redobrar os esforços para encontrar uma vacina para o HIV.
A OMS em conjunto com UNAIDS, em 2007, recomendaram o fomento da testagem ao nível do sistema de saúde defendendo e promovendo, igualmente, a circuncisão masculina como forma de prevenção do HIV.
No ano de 2010, ensaios/estudos como o CAPRISA 004 e IPrEx demonstraram resultados bastante positivos, uma vez que com os mesmos se verificou a redução do risco de infeção em 40% e 44% respetivamente. Foi ainda realizada a décima oitava edição da Conferência sobre a SIDA (“Right Here, Right Now”), em Viena, na Áustria.
Pela primeira vez, em 2013, a UNAIDS comunicou uma redução de pelo menos 30% da taxa de mortalidade no que toca à SIDA.
O estudo denominado de HPTN 052 demonstrou, em 2011, resultados positivos, através dos quais, se verificou que o tratamento antirretroviral precoce reduz o risco de transmissão do HIV em 96%. Em Agosto, desse mesmo ano, viu-se aprovada a Complera (que era uma combinação de medicamentos), abrindo-se as portas a novas formas e oportunidades de tratamento para pacientes infetados com HIV.
Deste modo, com o desenvolver de várias formas de tratamento da doença viu-se, em 2013, uma redução em 30% na taxa de mortalidade. No entanto, a essa data aproximadamente 35 milhões de pessoas viviam com a doença.
No ano seguinte, a UNAIDS lança duas metas, denominadas de “Fast Track” e “90-90-90”. A primeira, demandando um desenvolvimento e fomento de programas de prevenção e tratamento do HIV, de modo a evitar ao máximo o aparecimento de novas infeções, bem como tendo por objetivo final terminar com a epidemia até ao ano de 2030. Já a segunda, tinha por finalidade que 90% das pessoas infetadas fossem diagnosticadas, seguindo-se o seu acesso aos tratamentos existentes necessários.
Com a ação ao longo dos anos da iniciativa DREAMS, direcionada a meninas e mulheres de variadas zonas de África, em 2017, verificou-se o decréscimo acentuado de infeções de HIV nas mesmas — isto, porque lhes proporcionaram melhores oportunidades económicas, mas também dando-lhes acesso a um maior número de serviços de apoio e de informação.
No gráfico acima apresentado, verifica-se que quanto às novas infeções, apesar de inicialmente (anos de 1990 a 2000) se verificar um aumento destas, a verdade é que, desde 2000, se tem observado uma descida constante e contínua do número de novas infeções. Em 2017 o número de novas infeções ficou pelos 2 milhões de casos, opondo-se aos mais de 3 milhões comunicados no ano de 1990.
Já no que toca ao número de pessoas a viver com o vírus do HIV, apesar de todas as ações de prevenção e de apoio, denota-se um aumento constante do número de pessoas infetadas, mesmo com alguns dos momentos de abrandamento, como é o caso dos anos de 2005 a 2010. Assim, em 2017, existiam 37 milhões de pessoas infetadas e a viver com HIV a nível mundial.
Por fim, relativamente à taxa de mortalidade causada pelo HIV/SIDA, segundo os dados apresentados, verifica-se que até 2006 (aproximadamente) a tendência era crescente, no entanto, tendo-se verificado uma descida contínua após esse mesmo ano, tendo passado de aproximadamente 2 milhões de mortes, no ano de 2006, para menos de 1 milhão de mortes aquando do ano de 2017.
Não poderíamos deixar de vos informar quanto aos números mais recentes acerca desta epidemia, que apesar de mais controlada continua a exigir a maior das atenções por parte daqueles que se encontram em posições de poder, bem como por parte das demais Organizações de saúde, etc.
Tendo por base a tabela disponibilizada pela UNAIDS/WHO é possível constatar que se verificou um declínio do número de novas infeções e de mortes por HIV. Assim, verificou-se uma descida visível em 2020 comparativamente ao ano de 2017. Já que, em 2017, se verificou aproximadamente 2 milhões de novas infeções por HIV, enquanto que, em 2020, se verificaram 1,5 milhões. Assim, assistiu-se a uma redução de novas infeções de 52% desde o pico verificado em 1997. Sendo relevante referir que 50% das novas infeções foram em mulheres ou meninas.
No que toca à taxa de mortalidade, em 2017, a mesma encontrava-se um pouco abaixo de 1 milhão de mortes por HIV, opondo-se aos 680000 de mortes, em 2020. A mortalidade relacionada a complicações advindas do HIV/SIDA verificou uma redução de 53% relativamente a pessoas do sexo feminino e de 41% no que diz respeito a pessoas do sexo masculino, desde 2010.
Contudo, constatou-se um aumento ao nível da quantidade de pessoas a viver com HIV, uma vez que, em 2017, foram comunicados 37 milhões de casos de pessoas a viver com o vírus, comparativamente aos 37,7 milhões de casos comunicados no ano de 2020, sendo que, destas pessoas a viver com HIV, 53% eram mulheres e meninas.
O HIV EM PORTUGAL
Segundo o relatório da DGES em conjunto com o PNVIH- SIDA e o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), de 2020, diz-nos que entre “1983 e 2019 foram diagnosticados em Portugal 61433 casos de infeção por VIH, dos quais 22835 atingiram estádio SIDA.” Porém, acrescenta que, desde 2009, que se viu uma redução de 47% do número de novos casos de HIV e uma redução ainda mais impressionante de 65% de novos casos de SIDA.
No entanto, apesar desta redução, a verdade é que, Portugal, se tem vindo a destacar negativamente no que toca a novas transmissões de HIV/SIDA, comparativamente aos outros países da Europa, verificando-se que a maioria das novas infeções se constatam em jovens, o que causa uma preocupação acrescida às nossas autoridades de saúde. Assim, defende-se a necessidade de alocar um maior investimento no combate a esta epidemia de modo a que se criem mais meios de informação, prevenção e promoção do diagnóstico do HIV.
No gráfico acima denotamos que o pico de casos de infeção por HIV se deu em 1999, com aproximadamente 3500 casos ativos. Contudo, a partir desse momento viu-se uma descida constante da incidência por parte do vírus do HIV. Assim, em 2019, notificou-se menos de 1000 casos ativos de HIV no nosso país. Para além disso, também os casos de SIDA que verificaram o seu pico de casos ativos aquando de 1999 (com 1500 casos de SIDA), sofreu uma descida drástica, já que, em 2019, constataram-se menos de 300 casos ativos em território português.
Por fim, no que toca à taxa de mortalidade, denota-se que desde o ano de 1996, em que se verificou o maior número de mortes (com 700 óbitos), o número de óbitos se tem mantido constante. Assim, não apresentando um declínio tão acentuado quanto seria desejável, isto, até ao ano de 2014, em que se notificou um número inferior a 500 óbitos (o mais baixo, desde o despoletar desenfreado da epidemia do HIV). Tendo, em 2019, sido registada a existência de 197 óbitos por complicações diretas ou indiretas do vírus do HIV/SIDA.
Por fim, em 2019, verificou-se o conhecimento de 778 novos casos de infeção pelo vírus do HIV, sendo que, metade desses novos casos residiam na área metropolitana de Lisboa (50,4%), seguindo-se da região do Algarve. Tendo esta infeção ocorrido maioritariamente em indivíduos naturais de Portugal (55,7%). Viu-se ainda que 56,7% dos novos casos de infeção se verificaram em homens. Para além disso, constatou-se o diagnóstico de 172 novos casos de SIDA, em 2019.
Com a introdução da pandemia do Covid, denotou-se uma falta de acesso a dados e informações suficientes, que espelhassem a verdadeira realidade do vírus do HIV/SIDA para o ano de 2020. Deste modo, não se viu publicado como usualmente o relatório conjunto da DGS e INSA sobre a infeção de VIH e SIDA em Portugal, no dia 1 de dezembro (Dia Mundial da Sida). Espera-se que seja divulgado até ao final de abril do próximo ano, pretendendo manter-se a precisão, completude e exigência de anos anteriores no relatório que será desenvolvido para o ano de 2021, apesar dos entraves trazidos pelo Covid.
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