LGP: A língua portuguesa da qual a sociedade não se lembra
- Diana Reis
- 20 de mai. de 2022
- 2 min de leitura
A Língua Gestual Portuguesa (LGP) remonta ao séc. XIX, mais concretamente a 1823, ano em que foi criada a primeira escola de LGP em Portugal, mas só em 1997 é que foi reconhecida como uma língua oficial portuguesa. Anos depois ainda não é valorizada como deveria e poucas são as iniciativas de a difundir.
Atualmente, segundo dados da Associação Portuguesa de Surdos, existem em Portugal 30. 000 utilizadores de LGP, note-se que a comunidade surda é constituída por um número muito superior de pessoas e que muitas dessas pessoas também não sabem língua gestual.
Acredito que a maioria das pessoas que lê este artigo é ouvinte e, com base nessa ideia, e na de que essa mesma maioria não sabe língua gestual portuguesa, pergunto: já pensaste no facto de que não te consegues comunicar com a maioria dessas 30.000 pessoas que, provavelmente, são surdas?
O ensino de LGP a crianças e adolescentes nas escolas e faculdades, por exemplo, ainda não é uma realidade permanente e isso tem consequências na forma como nos comportamos em sociedade, porque não conseguimos estabelecer contacto, relação, atender ou ajudar uma pessoa surda, porque, simplesmente, não sabemos.
Do outro lado da moeda acontece exatamente o mesmo, boa parte das pessoas surdas não sabe língua gestual, porque o seu ensino também não é promovido, sendo que a língua gestual é o meio mais eficaz de comunicação.
Medidas que vão desde incluir o ensino de LGP numa unidade curricular (tendo assim a mesma importância da aprendizagem de outras línguas) até à disponibilização efetiva da LGP nos serviços públicos e hospitais são necessárias que se comece a deixar de pensar na inclusão como algo abstrato e contribuindo assim para a independência das pessoas com deficiências auditivas. A inclusão está ao nosso alcance, mas precisamos de instrumentos para tal.
A falta da difusão do ensino da LGP leva a que a comunidade de pessoas surdas seja isolada, porque tudo se torna mais difícil desde as tarefas do quotidiano até à entrada no mercado de trabalho. Outra situação que importa ressaltar, é o facto de que durante a pandemia o que já era um problema, agravou-se ainda mais, porque devido às máscaras, a leitura labial deixou de ser possível e a comunicação entre pessoas ouvintes e pessoas surdas reduziu-se ainda mais.
Ainda assim, é de notar que começam a haver algumas iniciativas que tentam contribuir para que este cenário se vá alterando, nomeadamente: o uso de máscaras transparentes, que permitem que a leitura labial continue a ser possível; a criação de uma escola virtual de LGP online e gratuita; a realização de cursos, que é cada vez mais comum e algumas iniciativas em escolas que, apesar de não serem verdadeiras soluções, são um ponto de partida para que a sociedade se comece a interessar pela aprendizagem de LGP, até que as políticas públicas nesta matéria resolvam estas lacunas.
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