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Foto do escritorEunice Galvão

“Mean Girls”: Uma Reflexão sobre a Popularidade e Exclusão na Adolescência



2024 é o ano de desejarmos às nossas “Mean Girls” as boas-vindas aos seus vintes. Nada grita mais anos 2000 do que este clássico cinematográfico. É icónico, cor-de-rosa e todas as girlies que se prezem têm este filme na sua whatched list.


“Mean Girls” conta a história de Cady Heron, uma menina que cresceu em África com os seus pais. Quando completa 16 anos, Cady e a sua família mudam-se para os Estados Unidos da América, onde, pela primeira vez, a jovem frequenta uma escola. 


Não são precisos muitos dias para Cady perceber que a sua nova escola é bem mais selvagem do que o inteiro continente africano e que o rei (neste caso, a rainha) da selva é Regina George, acompanhada pelas suas amigas (se é que lhes podemos chamar assim), Gretchen e Karen. Regina e as amigas, sendo o trio conhecido por The Plastics, estão no topo da cadeia alimentar social que reina em todos os estabelecimentos de ensino. São bonitas, populares e representam tudo aquilo que qualquer rapariga de 16 anos quer ser. Não obstante, e tal como indica o nome do filme, são malvadas e impiedosas, fazendo pouco de tudo e todos.


Este filme pode ser o perfeito cliché de um filme de adolescentes americano. Contudo, os clichés têm um fundo de verdade. Podem não existir blond bitches, como Regina George, mas certamente existem muitas Janis Ian, pessoas que já foram alvo de crítica por estas mean girls.


Será que há de algo de errado comigo?”. Tudo começa assim, com um sentimento de diferença em relação aos outros,  que evoluiu para estranheza e acaba em achar que não se tem valor algum. 


As pessoas rejeitam tudo aquilo que não conhecem. Para as pequenas mentes destas mean girls, onde cabe muito pouca informação, tudo o que é diferente do mundo que elas conhecem é errado e todas estas coisas erradas merecem ser alvo de comentários maldosos e mesquinhos. Porquê usar roupa diferente quando podemos parecer todas gémeas e usarmos o mesmo estilo de roupa? Não gostas de usar a roupa que toda a gente usa? Então de certeza que está alguma coisa de errado contigo!


Assim como não se deve parecer diferente, também não se deve pensar de forma diferente. A regra de ouro é simples: refletir muito bem no que dizer antes de o fazer, porque, no momento em que abrimos a bocat, lá está uma Regina George pronta para questionar e, assim que possível, gozar. 


A meta é clara: se queres escapar às mean girls, não faças, digas e, ainda mais importante, não vistas nada que possa chamar a atenção. Reduz-te à tua insignificância e pode ser que tenhas a sorte de nenhuma delas reparar em ti. 


Todo este julgamento culmina em insegurança e baixa autoestima, que tem como consequência pensamentos como “sou menos do que os outros”, “não sou boa ou bom o suficiente”, “ninguém precisa de mim”, entre outros. 

Começa a crescer uma ansiedade social e, com esta, um medo de falar com outras pessoas, com receio de se dizer alguma coisa de errado e de se ser julgado. Este medo acaba por ser muito limitador, uma vez que comunicar com outras pessoas faz parte do dia-a-dia.


A verdade é que tudo isto deixa marcas durante vários anos. Não é por finalmente se ter saído da escola e já não se ser gozado que a mágoa e o sofrimento provocado desaparecem. É muito fácil acionar o gatilho que faz com que todos estes sentimentos voltem à tona. Isto porque as memórias e os traumas não desaparecem simplesmente, continuam no interior das pessoas, ainda que bem escondidos ou adormecidos.


Terão estas mean girls noção do impacto que causam na vida das suas vítimas? Muito provavelmente não. No que toca à minha experiência, tenho a certeza de que as minhas mean girls, na alta improbalidade de lerem este artigo, não acharão que são as autoras de tais atos. Não obstante, espero que todos vocês, vítimas de piadas que não têm piada alguma, consigam encontrar um refúgio, assim como eu encontrei na casinha amarela da rua dos Bragas, onde posso utilizar sempre roupa cor-de-rosa, mesmo que não seja quarta-feira.


Eunice Galvão

Departamento Cultural


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