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Foto do escritorFrancisco Simões

NEL: A grande novidade do associativismo universitário

No dia 25 de Novembro foi fundado oficialmente o Núcleo de Estudantes Liberais (NEL) da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP). O novo grupo académico da comunidade foi encarado com alguma surpresa e entusiasmo, principalmente pela sua natureza: é o primeiro grupo no seio da faculdade assente numa ideologia política .


Para saber mais sobre o NEL, o Jornal Tribuna contactou os responsáveis por esta iniciativa: João Santos, Débora Vasconcelos e Mariana Pereira.


Comecemos pelo princípio. Como nasceu a ideia de um Núcleo de Estudantes Liberais?


Mariana: O João já é filiado na Iniciativa Liberal (IL) há cerca de um ano (na altura há uns meses), e eu acabei por me filiar também em fevereiro deste ano. Um dia fomos a um evento organizado pelo nosso núcleo, onde conhecemos a Patrícia Gilvaz (deputada pela IL). Tendo também ela estudado na FDUP, foi ela quem nos incentivou a começar o projeto. A partir daí, temos vindo a trabalhar nele arduamente. Foi um processo demorado, com muitas burocracias, mas, finalmente tivemos sucesso, e a Patrícia Gilvaz acompanhou-nos durante todo o tempo.


João: A Patrícia Gilvaz falou-nos numa altura em que a IL tinha conseguido fazer em lisboa o mesmo que nós fizemos aqui, apesar de uma forma diferente (visto que os estatutos da universidade de lisboa são diferentes dos da Universidade do Porto (UP), havendo uma maior flexibilidade em Lisboa em relação a “grupos partidários”). Nos nossos estatutos, contudo, fizemos um claro afastamento em relação ao partido em que eu e a Mariana somos militantes. O objetivo do NEL é ser o núcleo dos “estudantes liberais”, dos estudantes com princípios ideológicos comuns. Quando esta ideia surgiu, lembramo-nos logo da Débora, visto que sabíamos que tinha ideias semelhantes às nossas, e que teria por isso interesse em participar. Foi um processo demorado, uma vez que é um modelo de grupo académico inovador, tendo sido difícil perceber o enquadramento que queríamos ter com os estatutos não só da UP, mas também da própria FDUP.


Débora: Já desde o ano passado que havia esta ideia no ar (Abril, Maio). Quando, no início, a Mariana e o João falaram comigo, eu encarei-a com um certo ceticismo, porque pensei que era algo estranho. Acho que todos achávamos o “NEL” muito improvável, especialmente num futuro tão próximo, que era o que nós ambicionávamos. Entretanto, no início deste ano, tivemos dedicados a tentar perceber como é que conseguiríamos ser incluídos como grupo académico, e constatamos que a ideia não era assim tão impossível. Poucas foram as coisas que tivemos de alterar nos nossos estatutos em relação aos estatutos dos núcleos já formados (não nos identificarmos com nenhum grupo partidário foi a maior diferença). Fiquei muito feliz pelo convite e pela oportunidade de poder dirigir este núcleo de estudantes, e acho que é muito bonito poder criar algo tão nosso e transmitir isso a todos os estudantes da nossa faculdade.


E o que é que o NEL, como grupo académico, pode trazer de novo à FDUP?


João: Como alguém que desde cedo se interessou por política, sempre senti alguma falta de um espaço de discussão política com um pendor ideológico, mas fora dos partidos. Todos sabem que os partidos vivem de votos e de angariar apoiantes, o que dificulta a transmissão de informação de uma forma imparcial. Os partidos têm sempre de apelar às pessoas para o seu lado. E faz falta um espaço que, apesar de ter uma ideologia definida, não se destine a apoiar nenhum partido. Em Portugal, o liberalismo nunca foi um partido com um grande apoio. Sempre houve algumas ideias pré-concebidas, que muitas vezes não são verdade. E o que o NEL pode oferecer é um debate livre, esclarecido, cujo único objetivo é informar sobre as várias vertentes que o liberalismo pode ter e as várias visões que um liberal pode ter em relação a um determinado assunto. E depois as pessoas podem tomar as suas conclusões. Queremos acabar com a ideia de que os liberais são todos contra o Estado, que querem privatizar a saúde e a educação, são todos apoiantes da Margaret Thatcher… preconceitos esses que são normais, mas que merecem uma discussão séria, sem o fim de ir buscar votos.


Pois porque de facto, para quem está de fora, uma vez que só existe um partido com assento parlamentar a defender assumidamente o liberalismo, é fácil confundir o NEL com um grupo da iniciativa liberal…


Mariana: Nós não escondemos que ambos somos afiliados da IL. Mas já a Débora não é. O nosso presidente de mesa é do PSD. E temos todo o gosto que pessoas filiadas ou não filiadas se juntem a nós. Dá para perceber pela composição do NEL que não há qualquer obrigatoriedade em ser da IL. Claro que gostaríamos de no futuro organizar eventos com pessoas da IL (nomeadamente a Patrícia Gilvaz, porque foi ela que incentivou este projeto). Mas também ambicionamos trazer pessoas de outros espectros políticos para que o nosso objetivo seja cumprido.


João: Eu antes de ser da IL sou liberal. A IL não é dona do liberalismo. Ainda que eu sinta que é o partido que melhor me representa a nível pessoal, sei que se um dia ela se desviar desse propósito, eu vou-me agarrar à minha ideologia e não ao meu partido. Aliás, existem pessoas que se assumem como liberais no PSD e até no PS. E é isso que nós queremos que o NEL represente: o núcleo daqueles que acreditam que o liberalismo é o melhor modelo de sociedade a adotar. É no estabelecimento de pontes e de entendimentos entre o liberalismo que está o seu futuro. Nenhuma ideologia evolui se ostracizar partes da mesma.


Acham que seria saudável haver mais grupos académicos de cariz político ? Por um lado, haveria um maior debate político, mas por outro lado também pode levar a fenómenos de segregação/divisão na faculdade.


Debora: Naturalmente que eu considero que a nossa ideia foi extremamente original. Não existe, pelo menos na nossa faculdade, nenhum outro núcleo cujo core focus seja a discussão política e ideológica. E eu, sinceramente, considero que este tipo de associações só deve servir para unir as pessoas e não para as separar. Acho que o debate é algo que deve sempre ser levado com maior simplicidade do que muitas vezes vemos, inclusive aqui. E seria de todo o interesse para o NEL organizar eventos com outros grupos académicos semelhantes ao nosso que pudessem surgir no futuro. É sempre saudável debater os nossos interesses, as nossas crenças, etc… E quanto mais ideologias, grupos e pessoas houver, mais interessante se torna o debate. O nosso objetivo é criar um espaço de diálogo livre, o mais aberto possível, sem quaisquer tipo de condicionantes. E penso que não haveria qualquer tipo de segregação se surgissem mais grupos com o mesmo objetivo.


Que planos é que o NEL tem para o futuro?


João: O nosso plano de atividades ainda não foi aprovado em Assembleia Geral. Esperamos que isso aconteça na próxima assembleia geral ordinária. A primeira assembleia ordinária vai tratar de aprovar o plano de atividades e o orçamento (à data ainda não tinha ocorrido). Mas enquanto direção eleita, pretendemos organizar eventos, apesar de isso implicar muita logística (nomeadamente na elaboração e aprovação do plano de atividades). No 2º semestre, haverá eventos de dois tipos: debates para discussão de ideias, sobre temas de interesse de toda a comunidade estudantil, e exposições mais informativas sobre, por exemplo, a história do liberalismo e as suas diferentes vertentes. Nem todos estes eventos contarão com a presença de convidados: muitos membros propuseram a criação de espaço para discussão de ideias dentro da própria faculdade, sem necessidade de se chamar alguém. E obviamente que aqui as redes sociais, que é a especialidade da Débora, terão um papel importante na transmissão de informação, na divulgação de eventos, recomendações culturais, etc… O que a Mariana já adiantou, e que está praticamente certo, é convidar a Patrícia Gilvaz, até porque a FDUP também é a sua casa. Quanto ao resto, é esperar para ver.


Francisco Simões

Departamento Mundo Universitário

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