Os agonistas dos recetores de GLP-1 (Glucagon-like-peptide-1) constituem uma das classes terapêuticas atualmente mais utilizadas no tratamento da diabetes mellitus tipo 2 em doentes com excesso de peso ou obesidade.
Os agonistas de recetores de GLP-1, como Mounjaro (tirzepatide), Trulicity (dulaglutide), Victoza (liraglutide) e o Ozempic (semaglutide), têm feito manchetes internacionais.
Este último começou como "The worst-kept secret in Hollywood", mas passou para a esfera popular depois de ter viralizado no Tiktok em 2022, quando se especulou que Kim Kardashian tinha recorrido a estas injeções para perder peso rapidamente antes do Met Gala.
No Tiktok, a hashtag #Ozempic tem mais de 320 milhões de visualizações, sendo esta rede social o maior exemplo da utilização de GLP’s não para o seu fim predestinado — o tratamento de diabetes tipo 2 — , mas como uma forma de perder peso de forma rápida.
Esta popularização do Ozempic e de outros GLPs levou a uma escassez global do medicamento, que impediu diabéticos tipo 2 de terem acesso à medicação da qual dependem.
Mas esta escassez mundial da droga não pôs fim à sua fama. Para além de notícias sobre a escassez terem feito headlines, os agonistas dos recetores de GLP-1 foram protagonistas de estudos que afirmam uma conexão direta entre o declínio da obesidade e este tipo de medicamentos e foram polemicamente recomendados pelo Ministério da Saúde do Reino Unido como uma forma de solucionar o problema do desemprego — o Primeiro-Ministro britânico disse à BBC que era necessário “pensar fora da caixa” para retirar pressão do NHS e que injeções para perda de peso poderiam ser muito importantes para a economia e saúde britânica. Enquanto isso, Wes Streeting, Secretário de Estado da Saúde do Reino Unido, afirmou num artigo que escreveu para o Daily Telegraph que as “widening waistbands” britânicas são um fardo significante para o Serviço de Saúde Nacional e que custam ao NHS 11 bilhões de libraspor ano. Além disso, acrescenta que doenças causadas pela obesidade causam aos trabalhadores britânicos a necessidade de tirar, em média, quatro dias extra de licença médica, por ano, enquanto muitos outros são forçados a deixar o trabalho.
Em Portugal, o consumo de medicamentos para a perda de peso já ultrapassou o total do ano passado.
As discussões à volta destas injeções de perda de peso têm, para além de exposição internacional, levantando questões importantes sobre o culto da magreza e a gentrificação da perda de peso, assim como questões sobre a “renascença” do culto da magreza.
Deve-se perguntar se a responsabilidade desta escassez mundial de um medicamento para a perda de peso tem uma causa tangível ou meramente ideológica.
Filipa Santos
Departamento Sociedade
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