O lindo discurso fraco
- Diogo Lamego
- 13 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
O lindo discurso fraco. É esta a razão. O número de palmas aumenta em razão do aumento da leitura de frases bonitas. O desconforto diminui em razão do baixo número de problemas levantados.
Eu adoro discursar. Discurso para os meus amigos. Discurso para os animais. Discurso para o vento. Discurso para a estrada sem fim. Discurso para os idosos sentados no banco do jardim. Discurso para as montanhas, sem se moverem de tão atentas que estão.
E como é possível tamanhos heróis e heroínas me ouvirem? Não digo nada. Discurso no silêncio, porque, quando discurso, eles prostram-se à vontade de me silenciar.
Mas porquê? Por que terá tamanho impacto o que é dito por uma boca absintada, ligada a um cérebro gosmento, num esfarrapado corpo? Respondam-me vós. Nunca demiti, expulsei, influenciei, manipulei, retirei, roubei, matei. Falta apenas um verbo: incomodei. Talvez seja por isso.
Discursamos para o in ou sem o in no cómodo? Depende. Do quê? Mais uma vez, do número de palmas que desejamos, ou de sorrisos ferropeados a um lisonjeiro trato social. Mas o que é o cómodo? É nada. É uma abstenção, disfarçada de um hipócrita esoterismo. E o que é incómodo? É o início de uma cega vociferação.
Perguntais vós o que incomodaria? Não? Então parem de ler. Sim? De certeza? Ou sereis como o amigo, o animal, o vento, a estrada sem fim, os idosos sentados no banco do jardim e as montanhas que, quando discurso, vociferam?
Se ainda estardes aqui, então di-lo-ei: acredito que é nas ocasiões mais ricas de atenção que se deve direcionar o olhar atento para os problemas existentes. É uma fartice discursos romantizados, que comodam, que fazem rir de lisonjeira.
Termino. Agora vociferem, pois sei que o amigo, o animal, o vento, a estrada sem fim, os idosos sentados no banco do jardim e as montanhas ainda estão aqui para fazerem o que melhor fazem: vociferar desalmada e penosamente.
Diogo Lamego
Departamento Crónicas
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