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Foto do escritorEunice Galvão

O maior ami(nimi)go do estudante

Todos nós sabemos que a transição do ensino secundário para o ensino universitário não é fácil, uma vez que ocorrem muitas mudanças num curto espaço de tempo. Ir para a universidade significa mudar de instituição de ensino, conhecer novos colegas e, para muitos, implica também sair de casa e começar uma vida completamente nova numa cidade desconhecida. Para além disso, deixa de haver uma relação tão próxima com os professores, a obrigatoriedade das aulas deixa de ser regra e até  o método de ensino é diferente. No entanto, podemos dizer, com certeza, que uma das maiores diferenças entre o ensino secundário e o ensino universitário está nos meios de estudo. 

Ao passo que na escola secundária existe um manual com toda a matéria necessária para cada disciplina, na faculdade existe uma lista de bibliografia com várias opções de manuais por onde o aluno pode estudar. Ora, nenhum destes livros contém, por si só, todos os conteúdos necessários para a unidade curricular, por isso é preciso fazer uma leitura conjugada dos livros recomendados para se ter acesso a todos os temas abordados nas aulas, e essa leitura exige muitas horas de estudo e dedicação. Por este motivo surgiram as sebentas, compostas por um conjunto de apontamentos que, de algum modo, resumem toda a matéria  distribuída  na bibliografia. Analisando este ponto de vista, as sebentas parecem um autêntico milagre e uma excelente solução para aqueles que não estão dispostos a estudar muitas horas e abdicar do seu tempo.


No entanto, alguns docentes da Faculdade de Direito da Universidade do Porto  (FDUP) parecem ter adquirido uma especial aversão por estas sebentas, não recomendando, de todo, a sua leitura e fazendo questão de o ir relembrando aos estudantes ao longo do ano letivo. Isto leva-nos a questionar o motivo para esta animosidade. Será a sua qualidade duvidosa ou, pelo contrário, podem revelar-se um valioso meio de estudo?


Comecemos por avaliar os prós e os contras das sebentas. Uma das suas vantagens é a de serem um resumo da matéria, o que faz com que a sua leitura seja mais rápida que a de um livro. Assim sendo, através do estudo pela sebenta é possível ter uma ideia geral dos assuntos abordados. Para além disso, uma sebenta contém toda a matéria necessária para uma unidade curricular, em comparação com os manuais, nos quais a Doutrina se encontra espalhada. Por isso, o estudo baseado exclusivamente na bibliografia não se limita a um instrumento apenas, muito pelo contrário, exige a leitura de um vasto número de autores.


Outro ponto a favor das sebentas é o seu valor monetário. O único custo associado a estudar por uma sebenta é o preço da impressão. Os manuais, por sua vez, são muito caros e, como tal, inacessíveis aos estudantes que não possam suportar essa despesa. Como forma de combater  este problema, deve-se sublinhar o papel da biblioteca da faculdade, já que possui a maioria dos livros que se encontram nas listas de bibliografia garantindo, assim, que um maior número de estudantes possa ler os manuais recomendados. Contudo, se um estudante quiser determinado livro pode ser confrontado com a possibilidade de já ter sido requisitado por um colega e, para evitar esta situação, há livros cuja requisição está vedada. Mas esta solução traz consigo uma desvantagem, porque obriga os alunos a ficarem a estudar na biblioteca ou a tirar fotografias às páginas do livro que precisam para poderem estudar em casa.


Uma vez enumerados os pontos positivos a favor das sebentas, passemos agora aos pontos negativos. Uma das desvantagens das sebentas é a de serem feitas por alunos, que sabem tanto ou até menos sobre a matéria do que os seus leitores e, por este motivo, há uma grande probabilidade de cometerem erros. Não há propriamente critérios muitos rigorosos para a escolha do autor de uma sebenta. Por sorte podem ser bons alunos, que vão às aulas e complementam os apontamentos com bibliografia, mas também podem ser alunos que acabam por reprovar à unidade curricular. 


Além disso, para quê gastar tempo de estudo a ler apontamentos feitos por outras pessoas em vez de utilizar esse tempo para ler boa bibliografia, escrita por especialistas na matéria? Para aqueles que pretendem estudar por apontamentos, devem começar por estudar pelos seus, porque é um incentivo para ir às aulas e, ao mesmo tempo, exige que o estudante preste mais atenção àquilo que nela é discutido. Além disso, é  importante que os alunos confiem mais nas suas capacidades do que nas de um colega que escreveu a sebenta. Desta forma, se os apontamentos tiverem incorreções, os alunos erram pelos seus próprios enganos e não pelos dos outros.


Uma última questão que se levanta em relação às sebentas é a de saber se serão suficientes para atingir determinada classificação em sede de exame. Se o objetivo for o da simples aprovação às cadeiras (o “nove e meio”), ler as sebentas é uma boa opção. Se, por outro lado, o aluno quiser obter boas classificações e aprofundar o seu conhecimento, as sebentas serão um instrumento insuficiente, pelo que a leitura da bibliografia será essencial.


Perante todos estes argumentos, pode-se concluir que as sebentas nunca terão a mesma qualidade que um livro tem, pelo que se recomenda a leitura da bibliografia recomendada pelos docentes. No entanto, a indiscutível importância dos manuais não se incompatibiliza com a utilidade das sebentas, que devem ser encaradas apenas como um instrumento de complemento de estudo. As sebentas são importantes para saber os assuntos abordados na aula e para resolver dúvidas pontuais,  uma vez que tendem a ser escritas com uma linguagem mais simples e sem grandes rodeios. Posto isto, pode-se afirmar com alguma segurança que as sebentas nunca vão substituir os livros, mas talvez não mereçam esta especial aversão por parte do corpo docente da FDUP.


Eunice Galvão

Departamento Mundo Universitário

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